quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tudo ao Meio


Passa trem, passa trem
e leva toda a tristeza.
Passa o trem, passa o trem
e leva toda a pobreza.


A cidade passa por cima
de um homem velho, de uma mulher e uma menina.
Milhões e milhões na vertente,
mas lá em baixo nem se imagina.

Tudo acontece no asfalto
quando alguém tenta levar para o alto
uma cidade cinza e de concreto
mas quem está no andar mais debaixo te acusa de incauto.

Passa trem, passa trem.
Finge que leva toda a minha escassez.
Passa o trem, passa o trem.
Finge que leva a minha nudez.

Passa hoje, passa amanhã...
...passa no dia da minha chegada.
Passa por cima do que no meio ficou.
Vê se passa na madrugada.






Percebi um paralelo entre o "meio graffiti" e a "meia vida" das pessoas que dividem esse espaço.

Texto de minha autoria, música de Oswaldo Cusco, graffiti de Binho, Chivitz, Minhau, Nove, Presto, Ricardo AKN, Zezão entre Outros.









Picuruta Por Um Dia

Era final dos anos 80, etapa da Associação Paulista de Surf e a troupe estava armada na Prainha em Itanhaém Litoral Sul de São Paulo. Era uma das minhas melhores oportunidades para ver de perto todas as feras da APS, Picuruta, Almir Salazar, Tinguinha, Neno, Amaro, Paulinho entre outros e os próprios surfistas locais, lá estava eu nas pedras do cantão esquerdo da praia curtindo o campeonato e comentando.

Vamos voltar um pouco atrás, meu nome; Alexandre Salazar, o nome de um camarada que quase ninguém conhece no surf; Alexandre Salazar Jr. ou Picuruta Salazar, logo somos quase homônimos. A última vez que o ví pessoalmente ele falou que não somos xarás porque não tem um cabelo desses... risos o Gato não perde uma chance de tirar um pelo.

Desde muito pequeno me chamam pelo sobrenome Salazar, porque tinham muitos Alexandres na escola e foi por me chamarem assim que pelo menos uma vez na vida fui Picuruta por um dia.

Voltando ao campeonato, estávamos lá o dia inteiro nas pedras curtindo e comentando bateria à bateria, lembro-me como se fosse hoje de uma direita que o Wagner Pupo pegou e veio até o costão que formou um backwash na sua direção e ele voou num aéreo por cima daquela massa de água e todos que estavam lá em cima deliraram com o seu profundo conhecimento do local.

Mas voltando ao "causo", comentando daqui, comentando dali (se tivesse twitter naquela época seria twitando daqui, twitando dali) e os amigos: Salazar pra lá, Salazar pra cá, nessa jogada um jovem achou que eu era o "cara" e colou na minha.
Para mim era somente uma nova amizade, mas para ele uma super amizade. "Eu sei o que ele sentiu". A primeira vez que eu falei com o Picuruta "ff", fiquei muito feliz pois só o tinha visto passando, surfando ou nas revistas e o pior, eu estava na condição de vendedor e na sua Surf Shop. De longe, era um dos lugares que eu era sempre bem melhor recebido.

Outra vez voltando. Passamos o dia inteiro ali, no final do campeonato teve até um show do Inocentes, mas foi a noite que a bomba estourou, os moleques do S. Fernando, praia vizinha de Gaivota foram lá para me falar que tinha um jovem muito feliz falando para todo mundo que passou o dia todo com o Picuruta, que fez amizade com ele e tinha ficado o seu amigo.

Bom o final já dá para imaginar. Juntaram as peças e descobriram quem era o Picuruta de quem ele estava falando. Dizem que riam tanto, que rolavam no chão, ninguém parava em pé.

Isso rendeu azaração por um bom tempo e eu sem saber fui com toda honra Picuruta por um dia. Aloha.



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