quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Jaws

Só então entendi o que aconteceu comigo há algum tempo atrás, quando um senhor junto da sua esposa ambos dentro do supermercado não paravam de me agradecerem, e ao meu ver, sem mérito algum me elogiarem dizendo: 
   - Ele me deu a vaga, ele me deu a vaga. 
Repetia.
Eu não acredito que as pessoas perdem a educação, aquela educação que vem do berço, não acredito mesmo.

Me lembro perfeitamente de quando era muito pequeno mesmo e a minha querida mãe não deixava eu jogar o papel da bala no chão, ela tomava da minha mão e guardava aquela pequena embalagem em sua bolsa, até chegarmos em casa.
Meu irmão Roberto uma vez me falou que não lembrava dessa história, mas eu me lembro bem quando cheguei com um braço de orelhão em casa, daqueles vermelhos antigos. Ele me pois para correr:
   - Caramba, quando precisamos de um telefone na rua um idiota desses arrancou! 
Exclamara.
Não tinha sido eu que arranquei, assim como a placa "HOMENS TRABALHANDO" que consegui deixar pendurada no quarto porque os convenci que não tinha arrancado e se eu não pegasse outros duzentos pegariam.

Tudo isso foi bom, e teve mais, mas o teste final ainda estava por vir. Sempre aprendi também que era certo dar lugar aos idosos, grávidas e pessoas com alguma limitação e jamais disputar um assento com uma mulher, pois bem, no começo da minha adolescência eu sabia e praticava o que era certo, nesses aspectos, mas eu precisava mais, esses preceitos deveriam vir de dentro, da alma, então me experimentei.

  BTS - flickr.com/bts 
  Cranio - flickr.com/cranioartes

Tomei um ônibus para a zona sul, aquele ônibus lotou, então estava lá eu, assentado naqueles bancos reservados para idosos, gestantes e deficientes físicos. Estava me testando, queria sentir ou saber se sentiria algum peso na consciência vendo aqueles velhinhos em pé, e eu belo, lá sentado.
Foi horrível. Não precisaria nem ter ouvido os comentários externos que ouvi. Internamente a minha consciência mutuamente me acusava e até de traidor ela me acusava. Eram tantas alfinetadas externas e internas que puxei a cordinha e desci, mas desci mesmo, sorte minha que como tal qual não fui parar em um esgoto.
Ali eu sai da teoria, soube então que era realmente bom fazer coisas boas, ter respeito e bom censo. Agora sabia que vinha de dentro, da alma.

A vaga que eu não peguei no estacionamento lotado do supermercado, não era minha, era de um idoso e o fato de eu não ter pego, para mim, era mais do que normal, mas só então entendi o porque daquele senhor com sua esposa ficaram tão felizes.
Foi quando estávamos almoçando em um Shopping da ZN, e a minha esposa avistou uma moça com dois idosos, um deles em cadeira de rodas. Então ela falou ao meu filho que os chamassem para pegarem o nosso lugar naquela praça de alimentação. Para a minha surpresa a moça era uma amiga de infância na companhia de seus pais dona Gina e seu Armando, já de idade os quais me lembro até das suas bodas de prata, pasmem, uma jovem acompanhada de um rapaz tentavam disputar com aquela família o nosso lugar e até criaram uma certa discussão até que a Rose falou:
   - Por favor, respeite os meus pais, não  fique discutindo por este lugar perto deles. 
E em resposta a mais insultos agravou:
   - Você quer que eu te ponha para correr daqui? 
Falou para moça.

Resumindo, acho que aquele senhor com a sua esposa devem carregar uma desastrosa experiência dessas para terem me agradecido tanto pela aquela vaga.
Queria eu que aquela moça e o rapaz da praça de alimentação estivessem como eu um dia, se experimentando, ou que se assim não for que essa experiência tenha dado chances de que as suas consciências possam ter alfinetado as suas almas.
Eu e a minha alma, aprendemos mais uma.