segunda-feira, 8 de junho de 2015

De Chateaubriand a Marinho

Até meados do século passado, ainda prevalecia certa privacidade na artesanal mídia impressa do país. Levantamento do Departamento Nacional de Estatísticas, de 1931, registrou a existência de 2.959 jornais e revistas - sendo 524 no Rio de Janeiro e 702 em São Paulo. Não havia veículos de expressão nacional num território de dimensões continentais. Os jornais pertenciam às pequenas empresas.

No início do rádio, nos anos 1920, a pulverização também dominou. Aos poucos aproveitando-se da ausência de normas restritivas à propriedade cruzada, alguns donos de jornais adquiriram rádios e montaram departamentos de publicidade.

"Na proporção e no ritmo em que se desenvolvem as relações capitalistas, desenvolveu-se a empresa jornalística", explica Sodré.

A ascensão dos Diários Associados marca o colapso da fase concorrencial. Assis Chateaubriand será o primeiro barão da mídia no país. Ele ingressa no setor com a compra do pequeno O Jornal do Rio de Janeiro, em 1924.

Utilizando-se de brechas legais e com seus métodos agressivos da chantagem e do jornalismo denuncista, ele rapidamente prosperou. Em 1959, Chatô já era dono do maior império jornalístico da América Latina, com 40 jornais e revistas, mais de 20 estações de rádio, uma dezena de emissoras de televisão, uma agência de notícias e outra de publicidade - "além de um castelo na Normandia, nove fazendas espalhadas por quatro estados, de indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos", segundo balanço do Atlas da Fundação Getúlio Vargas.

A ausência de "herdeiros legítimos" e, principalmente, o golpe militar de 1964 abalaram o poder dos Diários Associados.

Chatô é desbancado pelas Organizações Globo, que passam a deter a total hegemonia até os dias atuais.

Irineu Marinho também estreou num jornal, A Noite, fundado em 1911. A partir dos anos 20, o grupo estendeu os seus tentáculos às rádios. Mas a sua ascensão ocorre, de fato, com a criação da TV Globo, em 1965.

Ela é beneficiada pela ditadura militar, que ergue toda a estrutura de telecomunicações para garantir a "segurança nacional". O regime militar também foi cúmplice de várias negociatas do grupo, como na obscura associação com a multinacional estadunidense Time-Life, o que era proibido pela legislação em vigor.

A ditadura cristaliza a concentração da mídia. "O projeto de integração nacional, perseguido pelo regime militar, adquiriu maternidade nas redes de televisão e encontrou sua melhor tradução no modelo constituído pela Rede Globo. Ao longo de quase quatro décadas, enquanto expandiam-se país adentro, com a patriótica missão que lhes foi atribuída, as redes de tevê aberta forjaram um mapa do Brasil baseado nos interesses políticos e comerciais privados dos seus proprietários...

O resultado foi a criação de um Brasil refém das grandes empresas da mídia, imunes a qualquer forma de controle público, comandadas de forma vertical e sustentadas em alianças regionais que reproduzem e amplificam ideias, concepções e valores para 170 milhões de habitantes.


Foto: @1lxndr






segunda-feira, 1 de junho de 2015

Se Eduardo Cunha fosse surfista



Foto: Blog Combate Racismo Ambiental


Patrocínio provém do latim 'patrociniu(m)', significava, entre outra coisas, proteção dos patrícios para com os plebeus.

Nos dias de hoje, incisivamente usa-se como; contribuição em dinheiro ou serviços de uma instituição ou pessoa física para determinado projeto, programa, evento, personalidade, artista ou desportista afim de contrapartidas publicitarias.

Trazendo para o campo da política, não há candidato a qualquer cargo político, majoritário ou não, que fique de fora das contribuições vindas de pessoas físicas ou jurídicas.
A pergunta é: Seria isso também uma forma de patrocínio?

O Partido dos trabalhadores lutou com todas as forças no Congresso Nacional para que fosse derrubado o histórico financiamento privado de campanha política (financiamento por empresas), mas com uma manobra também histórica o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha PMDB/RJ, conseguiu (por enquanto) que o patrocínio continue.

Se realmente a grande mídia no Brasil trabalhasse pela informação, separaria extensas grades em sua programação não só para denunciar o fato, mas também para mostrar ao brasileiro como funciona a contrapartida no campo político quando um candidato recebe dinheiro de uma empresa para se eleger e como certos parlamentares estão jogando no lixo a Reforma Política.

Cunha tem a gravata presa. Aqui você pode ver com quem e aqui também!

Se o presidente da Câmara fosse um surfista profissional exibiria em sua prancha invejáveis patrocinadores, deixando até Gabriel Medina, campeão mundial de surf, de boca aberta.
Em seu quarto mandato recebeu valores, dentre esses de pretensiosas empresas, algo na ordem de 6,8 milhões de reais. Nada mal.
Assim fica difícil de largar o osso.


Ilustração @1lxndr


P.S. Quem conhece um pouco do surf profissional sabe que o patrocinador principal ocupa o bico da prancha do surfista, lugar de mais destaque.
Na ilustração acima não aparece. Lembra algo?
Aloha!!