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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Vacina, só desenhando para explicar melhor

Tem muita gente dizendo que não tomará vacina contra a covid-19, pasmem, inclusive o inominável chefe do Executivo.

Segue aqui uma ótima explicação da bióloga, microbiologista e divulgadora científica Natalia Pasternak.

Tudo de bom para dar uma invertida no "Tiozão do zap" do grupo da família e acima de tudo não dar uma de negacionista e se vacinar quando possível. 

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Situação das emissoras no Brasil cataclísMICO

Band
Após presidente da Caixa dizer na reunião ministerial que Band pediu dinheiro Datena surta ao vivo e Jornal da Band muda o editorial.

SBT
Também conhecido como Sistema Bolsonarista de Televisão, deixou de apresentar o SBT Brasil no último sábado. Versões afirmam que Bolsonaro teria pedido para SS pedir para seu editorial pegar leve com a reunião ministerial do dia 22 de Abril. Há também quem observe motim dentro do jornalismo do SBT, onde cansados de passar pano para o governo, editorial não teria subido.

Globo
Eternamente golpista foca 24 h de sua programação na figura Bolsonaro deixando fora dos holofotes o entreguista Paulo Guedes, homem que serve ao deus Mercado e beneficiário de figuras do seu interesse, assim como os do próprio Grupo.

Record
Editorial 100% comprometido com o governo. Apresenta 10% da pandemia em relação à sua principal concorrente. Enfrenta saia justa com choro ao vivo da então apresentadora e âncora Adriana Araújo pelo fato de ver dia a dia casos crescentes do coronavírus e ao mesmo tempo seus diretores tratando tudo com pouca relevância. O ápice foi no dia em que a cidade de Manaus alcançou internações e mortes catastróficas e contrariada não pode noticiar de forma isenta.
Confirmando seu papel histórico no negacionismo bolsonariano da pandemia do coronavírus a emissora chama para sua madrugada, longe dos twiteiros de plantão (sic), os doutores Anthony Wong e Nise Yamaguchi, profissionais que remam na contramão de toda a ciência em todo o planeta.


Sem mais.



terça-feira, 19 de maio de 2020

Bar-sonaro

Ela é mais uma vítima do negacionismo vindo do Planalto. Definitivamente o ocupante do cargo máximo da República se tornou parceiro do coronavírus.

Seus discursos, hora falando em gripezinha, hora homologando a cloroquina, passando por falsas notícias de queda de mortos ou infectados e comparando a covid-19 à outras doenças, lembra cenas de filme, filme de tiranos...

Ela, uma comerciante de Itinga do Maranhão, cidade distante cerca de 120 Km de Imperatriz na divisa do Maranhão com Tocantins.
Seu estabelecimento se chama Bar-sonaro e assim como o presidente desdenhou da pandemia.

Diferente dos comentários da extrema direita do tipo "Tem que morrer", "Bandido bom é bandido morto", "Não tem perdão"... os comentários são de votos de melhoras e orações na página que publicou o ocorrido.






Que o recado seja compartilhado, fique em casa e se cuide!


Fonte Itinga Online

segunda-feira, 4 de maio de 2020

AINDA RESTA ESPERANÇA

Recentemente, na porta do supermercado, rolava uma conversa interessante num grupo de pré-adolescentes sobre a pandemia, o isolamento social e a contaminação pelo coronavírus. Me pareceu que eles eram moradores das redondezas e estavam ali tentando arrumar algum dinheiro para ajudar em casa.

Quando eu estava próximo, ouvi um deles, que aparentava exercer liderança sobre os demais, falar muito convicto:
- A gente tem que ter cuidado com o "perdisgoto"!
Imediatamente um outro retrucou:
- Tomar cuidado como, se tem esgoto pra todo canto na favela?
Um terceiro complementou, cheio de certeza:
- Tem até gente que tem vala passando dentro da casa...e depois na favela tá tudo perto de esgoto!
Então o primeiro, indignado e aos gritos, resolveu colocar os pingos nos "is", soletrando aquela palavra difícil de entender:
- É "PER-DIS-GO-TO" PORRA! CAMBADA DE MOLEQUE BURRO!
E, abaixando a voz, resolveu explicar para o grupo, em tom quase professoral:
- "Perdisgoto" é nojento, mas não é esgoto...

Respirei aliviado. Apesar de falar a palavra de forma incorreta, ali havia alguma esperança. Disfarcei que ia pegar um carrinho para fazer compras para ouvir (bisbilhotar, na verdade) o restante da aula. E ele continuou.
- Lembram daquele moleque que mora lá naaa...naaa... que o apelido dele é chuveirinho? O apelido é porque ele fala cuspindo na gente, não é?
Rapidamente todos balançaram a cabeça positivamente. E ele continuou...
- Então, "perdisgoto" é aquele cuspe que sai da boca sem cuspir e que cai na gente quando ele fala. O tal vírus pode tá ali.

Eta moleque porreta, pensei! E já ia me afastando satisfeito com a explicação objetiva e correta, à moda dele, afinal o importante é comunicar, passar a ideia. Simplesmente maravilhoso ver como esses jovens aprendem com facilidade, mesmo diante da adversidade extrema.

Ao perceber que todos silenciaram para ouvi-lo, o jovem com ar de professor resolveu continuar sua aula pública, mais compenetrado e convicto ainda do que quando começou:
- Entenderam? "Perdisgoto" não tem nada a ver com esgoto. "Perdisgoto" faz mal pra saúde! Esgoto não (faz mal). A gente pode até se banhar que não vai acontecer nada.


Foto: Joédson Alves














Como assim, pensei? Paralisei com aquele absurdo que acabara de ouvir. E apesar da vontade imensa de me meter na conversa, resolvi escutar mais um pouco para ver haveria uma explicação lógica, mesmo que não fosse convincente, para tal afirmação. E o menino continuou a falar...e, então, disparou uma frase que soou como um golpe fatal e derradeiro na esperança que eu havia sentido poucos minutos antes, e a esperada explicação lógica veio com sua última frase:
- Vocês não viram o presidente falar?

Quase tive um treco! Demorou um pouco, mas passado o susto e avaliando melhor a situação, concluí que posso continuar acreditando que há salvação. Afinal, aquele jovem era um exemplo de que o aprendizado é muito natural e dinâmico para essa moçada. Da mesma forma que ele aprendeu que o "perdisgoto" pode transmitir o coronavírus, ao ouvir pesquisadores e professores na televisão, também aprendeu que esgoto não faz mal, ao ouvir a ignorância presidencial através da mesma televisão.
O veículo de informação foi o mesmo, embora as fontes de informação tenham sido bem diferentes e, principalmente, distintas nos seus objetivos.

Resignado, e sem alternativas viáveis naquele exato momento, tive que respirar fundo e me recuperar aos poucos. E enquanto retornava à minha realidade de classe média, pensava com meus botões e com mais convicção ainda: "É nessa juventude que nossas esperanças se renovarão. Portanto, nossa luta tem que ser por uma educação crítica e que os leve à emancipação"!


Crônica do meu primo querido Jeferson Salazar em sua página no dia a dia do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O jornal que Hitler odiava







Não foram pesquisadores alemães, mas um jornalista americano, Ron Rosenbaum, quem primeiro percebeu e divulgou a importância da luta contra Hitler por um pequeno jornal de Munique, o Münchener Post, que os nazistas chamavam de “a cozinha venenosa”. Em seu livro Para Entender Hitler, Rosenbaum escreveu que a batalha “entre Hitler e os corajosos repórteres e editores do ‘Post’ é um dos grandes dramas nunca relatados da história do jornalismo”. Eles foram, disse, os primeiros a se ‘atracar’ com o líder nazista, os primeiros a ridicularizá-lo, os primeiros a investigá-lo, a denunciar o lado avesso e sujo de seu partido, o comportamento criminoso e homicida mascarado por suas pretensões a movimento político, e foram os primeiros a tentar alertar o mundo para a natureza da besta feroz que rastejava em direção a Berlim. Foi ainda a primeira publicação a escrever sobre “a solução final” para os judeus.

Rosenbaum acrescenta que a história do Post e de seus jornalistas “nunca foi contada de verdade, sequer na Alemanha, ou talvez especialmente na Alemanha, onde é mais consolador para a autoimagem nacional acreditar que ninguém realmente sabia quem era Hitler, até ser tarde demais”, mas “os redatores do Münchener Post sabiam, eles publicaram a verdade para quem estivesse disposto a vê-la”. Em 12 anos de luta, o jornal divulgou algumas das percepções mais agudas e penetrantes do caráter, dos métodos e da mente de Hitler.

Rosenbaum explica o significado de “cozinha venenosa”. “Venenoso” era uma expressão reservada por Hitler para aqueles a quem odiava mais profundamente, era o epíteto com que se referia aos judeus: “envenenadores”. É difícil encontrar em seu vocabulário outra palavra mais carregada de ódio e aversão.

Tentativa de ignorar o passado

Depois da primeira edição do livro de Rosenbaum, em 1998, alguns pesquisadores voltaram sua atenção para o Münchener Post. A também americana Sara Twogood escreveu um longo ensaio sobre o jornal e na França foi divulgado um documentário dez anos atrás, Le Münchener Post Contre Hitler.

Recentemente, foi publicado o primeiro livro sobre o Münchener Post, intitulado A Cozinha Venenosa. A autora é a jornalista brasileira Silvia Bittencourt, que mora na Alemanha há mais de 20 anos e trabalha na Universidade de Heidelberg. O livro é uma agradável surpresa. Quando o autor desta resenha fez uma pesquisa a respeito do Süddeutsche Zeitung (SZ), de Munique, o de maior circulação e o mais liberal dos diários alemães de qualidade, não encontrou nenhuma referência ao Münchener Post. Mencionou a existência do Münchener Neueste Nachrichten, o principal jornal de Munique e concorrente do Post. Depois da Segunda Guerra Mundial, suas instalações foram utilizadas pelo SZ, que também empregou vários de seus ex-jornalistas. Ao escrever sobre a fundação do Süddeutsche Zeitung, mencionou que seu editor-chefe, Edmund Goldschagg, tinha dirigido um jornal de Munique até 1933. O que não sabia, até ler A Cozinha Venenosa, é que esse jornal era precisamente o Münchener Post.

Mas ainda hoje é chocante a ignorância na Alemanha sobre o principal inimigo de Hitler na imprensa escrita. Tanto Rosenbaum como Silvia estiveram na Altheimer Eck, a rua de Munique onde o Post tinha a sede, e não encontraram nenhum resquício dele, sequer uma placa. Ninguém o conhecia. Silvia procurou os descendentes dos principais jornalistas do Post e percebeu que também eles pouco sabiam de sua luta contra Hitler. A produção sobre o jornal continua escassa, principalmente na Alemanha. Talvez, como diz Rosenbaum, uma tentativa de ignorar um passado pouco agradável.

Tratado imposto

O Münchener Post foi fundado em 1886 ou 1887. Era um semanário de quatro páginas de pequenas dimensões que logo ficou ligado ao Partido Social Democrático (Sozialdemokratische Partei Deutschlands – SPD). Em 1890, passou a circular diariamente, à tarde, com uma tiragem de 5 mil exemplares. Mais tarde, teria oficinas próprias e seis jornalistas fixos e bem pagos, que também eram ativistas políticos. Vários deles ocupariam altos cargos na administração pública. Tornou-se um importante formador de opinião da Baviera. Passou a tirar 30 mil cópias. Posteriormente, publicaria também o semanário Bayerisches Wochenblatt. Em 1914, escreveu contra a entrada da Alemanha numa eventual guerra, mas, quando esta começou, seguiu a linha do partido, mudou de orientação e prestou uma “valiosa colaboração patriótica”, segundo o Ministério da Guerra.

Derrotada, a Alemanha atravessou um período conturbado. Um dos principais jornalistas do Post, Kurt Eisner, chegou a ser, por um curto período, ministro-presidente (governador) e chanceler da República da Baviera. Morreu assassinado a tiros. Quando outro jornalista do Post e político do SPD, Erhard Auer, fazia uma oração fúnebre por Eisner, foi também baleado, mas sobreviveu. O poder na região foi ocupado pelo Partido Popular Bávaro, conservador, que cercearia repetidas vezes a circulação do Post.

Como praticamente toda a Alemanha, o jornal ficou indignado com as condições do Tratado de Versalhes, de 1919, imposto pelos vencedores, que declarava a Alemanha culpada pela guerra, tirava todas as suas colônias, reduzia seu exército, tomava-lhe uma parte do território e impunha pesadíssimas reparações. O rigor das medidas favoreceu a ascensão do nazismo.

Duvidosa homenagem no Mein Kampf

Em abril de 1920, o Post mencionou a existência do “partido da suástica” (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães); em maio, num texto com destaque, chamava a atenção para um personagem que fazia inflamados discursos nas cervejarias e emergia na cena política – era um austríaco, um pintor fracassado, antigo cabo do exército alemão: “Na terça-feira à noite, um senhor chamado Hitler falou sobre o programa desse ‘partido’. Ele soltou as mesmas palavras e disparou os mesmos clichês que somos obrigados a ouvir nos eventos de propaganda nacionalista. Caluniou a social-democracia por sua defesa da Internacional e pregou o antissemitismo nos moldes nacionalistas.”

O Post seria o único jornal de Munique a cobrir regularmente, e cada vez com maior intensidade, o movimento nazista e as atividades de Hitler. Como diz Silvia Bittencourt, as notas publicadas eram cada vez maiores, mais frequentes e mais afiadas, criticando principalmente o antissemitismo. Numa delas, escreveu que Hitler se comportara mais como um comediante e que sua palestra, “lembrando uma cantiga, trazia a cada três frases o refrão ‘a culpa é dos hebreus’. Não há infâmia ou porcaria que não seja atribuída aos judeus”.

As notas sobre Hitler se repetiram e ele passou a provocar os repórteres do jornal nos comícios. Numa ocasião, disse que o homem do Post deveria tirar sua pele de cordeiro e sairia, daí, um burro. Atacava o jornal em suas falas e nos artigos para o Völkischer Beobachter, jornal do partido nazista. Dizia que “não se passava um dia sequer sem que o Münchener Post, uma das publicações judaicas mais imundas, manchasse e sujasse pessoas corretas”; era o “sapo judaizante da Altheimer Eck”, um “jornal judeu e marxista” e “arremessador piolhento de lama”. Ele ficou furioso com um texto provocador: “Adolf Hitler traidor?”, mostrando o descontentamento de vários de seus correligionários e questionando a origem das finanças do partido e a vida de luxo do seu líder. A partir de então, o Post ficou na mira de Hitler, que lhe prestaria a duvidosa homenagem de mencioná-lo nominalmente em sua obra Mein Kampf.

Fim dos males

Num de seus discursos, Hitler disse, dirigindo-se ao editor responsável: “Senhor Auer! O senhor e sua injeção de veneno têm grande parte da culpa pela miséria que o povo alemão vive hoje. Senhor Auer! O senhor recebeu dinheiro dos judeus do gado, o senhor se vendeu para os judeus.”

O jornal que enfrentava Hitler publicava longos textos teóricos e ensaios; tinha boas páginas culturais, mas era extremamente intelectualizado para os trabalhadores e a maioria da massa do partido. Sua pequena equipe dividia o tempo com a política, dedicando menos atenção ao jornal. Seu editor era também líder do Partido Social-Democrata da Baviera. Apesar de sua coragem e sua contundência, talvez não fosse a arma mais apropriada para a batalha. Mas foi o mais aguerrido na luta. O Post foi fechado e censurado repetidas vezes, como toda a imprensa de esquerda, por um Poder Judiciário ultraconservador, e a polícia invadiu sua sede, numa ação movida por “traição à pátria”. Mas no começo dos anos 1920 alcançaria uma tiragem de 60 mil exemplares. Ante a opacidade das finanças do partido nazista e as ligações de Hitler com a burguesia industrial, que o financiava, o Post perguntava: “O que, exatamente, ele faz para ganhar a vida?” E mostrava “como Hitler vive”.

Hitler capitalizou habilmente as dificuldades enfrentadas pela Alemanha na República de Weimar: o desemprego, a ocupação da região do Reno pelas tropas francesas, a inflação galopante – o preço de uma passagem de ônibus chegou a custar 150 bilhões de marcos e um dólar era trocado por 4,2 trilhões de marcos. Ele prometeu acabar com os males do país, que atribuía aos judeus. O número de afiliados ao partido nazista cresceu exponencialmente, assim como a fama de seu líder.

Informações confidenciais e documentos secretos

Em 1923, Hitler superestimou sua força. Tentou dar um golpe de Estado, conhecido como o “putsch da cervejaria”, com lances de ópera bufa, e fracassou. Durante os tumultos, os nazistas invadiram e destruíram as instalações do Post, o que levou o Völkischer Beobachter a escrever: “A cozinha venenosa na Altheimer Eck foi demolida”.

Julgado por alta traição, num processo que o jornal católico Bayerische Kurier qualificou como uma “catástrofe jurídica” e o Post como “túmulo da Justiça bávara”, Hitler foi condenado a cinco anos de prisão, em condições que “lembravam mais um hotel do que uma penitenciária”, que ele aproveitou para escrever Mein Kampf. The New York Times, que fazia uma boa cobertura da Alemanha, acreditou que a carreira política de Hitler estava encerrada. Foi solto, pouco mais de um ano depois, por boa conduta, refundou o partido e retomou a ascensão política meteórica, apesar de sua condição de apátrida, pois perdera a nacionalidade austríaca em 1925 sem conseguir a alemã.

No fim dos anos 1920 e começo dos 30, o Post atravessou momentos difíceis. Atingido pela crise econômica, tinha uma existência precária, agravada pelas depredações e pela contínua atitude hostil do governo bávaro, que o proibia, com frequência, de circular; seus jornalistas sofriam represálias e agressões físicas ante a complacência da polícia. Foi obrigado a diminuir o número de páginas, a tiragem caiu. Isso não impediu que o jornal aumentasse a intensidade dos ataques a Hitler, aos nacional-socialistas da cruz suástica e a seu adversário, o Völkischer Beobachter, que fora relançado e contava com mais recursos. O Post mostrou ter um incrível acesso a informações confidenciais e documentos secretos dos nazistas. Atacou também os comunistas, responsabilizando-os igualmente pela violência no país.

Ciúme doentio

Quando os nazistas tiveram um revés nas eleições de 1930, o Post subestimou seu futuro político. Mas a depressão e o desemprego decorrentes do crash da bolsa de Nova York, em 1929, levaram um grande número de alemães a depositar suas esperanças nas promessas de Hitler. Nas eleições seguintes, seu partido aumentou o número de votos, assim como os comunistas.

Para deter o avanço nazista a qualquer custo, o Post lançou o que Silvia Bittencourt considerou “a campanha mais suja de sua história”, e “desonesta e ambígua”, mas que Rosenbaum qualifica como um mergulho no coração desagradável da cultura de chantagem do partido de Hitler. Tratava-se de uma carta de um consultor jurídico do partido, Eduard Meyer, a Ernest Röhm, o chefe das forças de choque, as “camisas-pardas”, do movimento hitlerista. Nela, Meyer contava em detalhes episódios da vida homossexual de Röhm, a quem chantageou. A carta foi entregue pela noiva de Meyer ao Post, que pagou por ela e a publicou com o título “A vida sexual no Terceiro Reich”. A repercussão foi extraordinária. Röhm alegou que a carta era falsa e processou o jornal, para mais tarde retirar a queixa e pagar as custas do processo, que foi arquivado. Meyer se matou e a noiva foi condenada a oito meses de prisão. Mas o escândalo não abalou a ascensão de Hitler.

A “cozinha venenosa” também explorou o suicídio da atraente meia-sobrinha de Hitler, Geli (Angela Maria) Raubal, que morava em sua casa; ele foi, talvez, o grande amor de sua vida, mas não há provas de que fossem amantes. O Post quis saber qual era o papel de Hitler, doentiamente ciumento. Foi tão intenso o ataque do Post que Hitler ameaçou com um processo e pensou em suicídio. Mas conseguiu a cidadania alemã; em novembro de 1932, seu partido foi o mais votado e em janeiro do ano seguinte ele foi indicado para o posto de chanceler (primeiro-ministro).

Memória preservada

Em março de 1933, os nazistas invadiram de novo as instalações do Post. A maioria, escreveu um jornalista, “tinha cara de menino”. Destruíram com fúria o que encontraram, máquinas de escrever, telefones, até as torneiras das pias dos toaletes, jogaram móveis pelas janelas, fizeram uma fogueira com documentos, arrasaram as oficinas. Dessa vez, acabariam com o jornal para sempre. Os jornalistas tiveram que se esconder. Seus ataques contra Hitler tinham sido implacáveis. Eles, segundo Rosenbaum, “tinham a ficha de Hitler, tinham enxergado dentro dele (…) Eles tinham visto o Hitler dentro de Hitler e, creio, Hitler sabia que eles sabiam”. Pagaram por isso. Foi o fim de uma luta que durou doze anos.

A obra de Silvia Bittencourt, resultado de árdua pesquisa, mereceria uma ampla divulgação, principalmente na Alemanha, onde o primeiro e mais persistente opositor de Hitler é ainda praticamente ignorado.

Ao livro podem ser feitas algumas observações. O New York Herald Tribune não estava, na época, ligado ao New York Times; a ligação se daria várias décadas mais tarde, com sua edição internacional, depois de desaparecer a edição de Nova York. O livro afirma que Edmund Goldschagg, ex-editor do Post, fez sozinho o projeto do Süddeutsche Zeitung em 1945. Na verdade, o lançamento foi obra de três pessoas: Goldschagg, diretor de redação; August Schwingenstein, publisher; e Franz-Joseph Schoeningh, editor cultural, aos quais se juntaram dois ex-executivos do Münchner Neueste Nachrichten; eles foram os acionistas do jornal. A autora menciona os artigos de Konrad Heiden, correspondente em Munique do Frankfurter Zeitung. Mas, preocupada em destacar a oposição do Post, talvez não tenha dado a importância devida à posição desse jornal contra Hitler, o mais influente da época e antecessor do atual Frankfurter Allgemeine Zeitung. Antes de ser tomado pelos nazistas, era um diário liberal, independente, “a voz da razão que emanava das províncias”, segundo Peter Gay. Para Hitler, era “um jornal-víbora judeu”.

Mas nada disso diminui a importância da “cozinha venenosa”. Ao destruir seu grande inimigo, em 1933, Hitler quase conseguiu também erradicar a memória sobre ele, que só agora está sendo resgatada.

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Matías M. Molina é autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo, em segunda edição

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Mulher, te imploro! Vire esse jogo!!

Quero me dirigir às mais de 77.000.000 de eleitoras do meu, do nosso país. Vocês são mais do que 50% mais 1 do nosso eleitorado e têm em suas mãos o poder de decidirem uma eleição.

Acompanho atônito em minha cidade onde nasci e cresci duas mulheres uma eleita deputada federal e outra estadual, com recordes de votos. Atônito não porque são mulheres e conseguiram esse feito, mas sim pelo fato de fazerem oposição a um candidato que defende e valoriza as mulheres e posição a outro que votou contra a Lei das Domésticas, insulta mulheres, troca de parceiras quando envelhecem, se posiciona contra Licença-maternidade e ainda afirma que a mulher mesmo exercendo a mesma função de um homem deve ganhar menos.

Mulheres de todas as épocas sofreram e até morreram para que as mulheres de hoje tenham sua liberdade, inclusive na hora do voto. E é pela entrega dessas mulheres que peço o seu voto.
Te peço mulher que não apague essa chama e dê as costas para todos as conquistas.
Vou mais longe ainda, porque sei que tristemente há quem vote em quem a desvaloriza pela imposição de um marido, de um líder religioso ou até mesmo de um grupo de "amigos". 

O voto é livre, a democracia a todos isso garante e devem ser respeitadas as escolhas de cada um e assim deve ser para sempre.

É pela morte de Emily Davison (1872-1913), pelas prisões de  Emmeline Pankhurst (1858-1928), pelas greves de fome das sufragistas presas e humilhadas e tantas outras ao longo da história as quais sou incapaz de citar todos os nomes que suplico o seu voto.

Porque elas como você mulher também lutaram contra algum tipo de fascismo.





segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Não literal, porém verdadeiro

O que temos de falso e verdadeiro nessa postagem que circula pelas redes e o que ela tem a ver com o delicado momento político brasileiro?




“Acalmem-se! Sim, ele é louco, mas não será tão ruim assim. Afinal, somos uma democracia e temos uma constituição. A Constituição o deterá.”



Depois de fazer minuciosa pesquisa e consultar mecanismos e sites acredito ter encontrado algo muito esclarecedor.

Carlos Reiss e Michel Ehrlich, coordenadores do Museu do Holocausto, na cidade de Curitiba, chegaram a conclusão de que a referida postagem faz uma tradução interpretativa e não literal das edições judaicas que circulavam na Alemanha de 1933 marcada pela ascensão nazista de Hitler.

Trago aqui cópias dos textos, os quais considero muito peculiares ao momento presente do Brasil. Segue também o link da matéria dessa incrível pesquisa.


DER ISRAELIT – 2 de fevereiro de 1933


[...] Nós não concordamos com a visão de que Herr Hitler e seus amigos, agora finalmente em posse do poder que eles desejaram por tanto tempo, irão promulgar as propostas que circulam nos jornais Anfgriff e Volkischer Beobachter [jornais pró-nazistas]; eles não vão repentinamente alienar os judeus alemães de seus direitos constitucionais, prendê-los em guetos raciais ou sujeitá-los aos impulsos avarentos e assassinos da turba. Eles não só não podem fazer isso porque muitos outros fatores cruciais mantêm seus poderes sob controle, desde o presidente do Reich até alguns dos partidos políticos aliados a eles, mas eles também claramente não querem ir por esse caminho, pois quando se age como uma potência mundial europeia, toda a atmosfera é mais propícia à reflexão ética sobre o melhor agir [...] Não reconhecer a gravidade da situação, no entanto, seria inexoravelmente otimista. Quanto menos os novos homens no poder se provarem capazes de realizar milagres legislativos para o povo alemão enquanto eles lutam contra a fome e as mazelas, quanto mais eles vão achar atraente, em vez disso, para parecer estar fazendo algo, colocar em prática ao menos algumas partes do programa de teoria racial do Partido Nazista. [...] Do jeito que as coisas estão, parece ser o mal menor que pelo menos - através da tolerância do partido de centro com o novo governo [partido que aceitou formar uma coalização com o partido nazista] - a base de funcionamento do parlamento e seu sistema de freios e contrapesos são mantidos. [...] Este status quo é mais desejável do que um voto de desconfiança que provocaria a dissolução do Reichstag e, com ele, a ditadura sem limites e a introdução de experimentos do governo sob o manto de um estado de exceção.



CV-ZEITUNG – 2 de fevereiro de 1933

Em 30 de janeiro, após a nomeação do gabinete de Hitler, o Presidente da União Central [judaica] fez a seguinte declaração ao público: Estamos, é claro, confrontados com um ministério no qual os Nacional-Socialistas ocupam posições decisivas, é claro, com a maior desconfiança, mesmo que, na situação dada, não tenhamos outra opção a não ser esperar e ver. Nós

consideramos como o polo de calma as aparições do Presidente do Reich [von Hindenburg], em cujo senso de justiça e lealdade constitucional confiamos. Além disso, estamos convencidos de que ninguém ousará violar nossos direitos constitucionais. Qualquer tentativa adversa nos encontrará em defesa determinada de nossos postos. Por ora, a palavra de ordem é: espere com calma! [...] Os judeus alemães têm a profunda confiança de que a lealdade a constituição, o sentimento de justiça e a solidariedade do Senhor Presidente para com todas as partes do povo alemão, não tolerará nenhum ataque aos direitos constitucionais da sociedade alemã. O novo governo logo perceberá que tem outras questões muito mais difíceis a responder do que a chamada questão judaica.




Já o "Jüdische Rundschau" apresentava uma visão menos otimista. Esse jornal se mostrava mais preocupado com a ascensão do partido nazista. Porém, mesmo segundo seus editores, a preocupação também podia ser apreendida como uma oportunidade, de emergência do novo judeu, forte, independente e que não vê futuro na vida na diáspora – o que condiz com o posicionamento sionista desse jornal. Mesmo adotando um tom mais alarmista do que os dois exemplos anteriores, ele ambém rejeita um total pessimismo quanto ao futuro.

JÜDISCHE RUNDSCHAU – 3 de fevereiro de 1933

A verdade é que a pressão dos nacional-socialistas afetou a vida na Alemanha há algum tempo. Independentemente do fato de que os judeus estão sendo sistematicamente excluídos da vida econômica e cultural, o antissemitismo passou a dominar a atmosfera psicológica. Isso também tem o efeito de que o judeu mais uma vez sabe que é judeu, porque ninguém o deixa esquecer. [...]Estivemos sempre convencidos - e a Jüdische Rundschaure enfatizou enfaticamente – de que o movimento nacional-socialista, já há algum tempo não mais é um mero partido político, mas tornou-se a fonte autorizada da opinião pública e acabaria por tomar também posições de poder.
Seria ridículo para nós dizer que os judeus são perfeitos ou que eles não tem falhas. Somos nós mesmos que sofremos mais de certos fenômenos na vida judaica. O sionismo reconheceu claramente há quarenta anos a nossa necessidade de
renovamo-nos a partir de dentro [...] Mas nós também temos o Novo Judeu, que almeja libertar-se tanto dos resquícios do gueto como dos danos causados pela assimilação [em crítica tanto à corrente ortodoxa, como a liberal] [...] Este novo judaísmo, internamente seguro, ignora todos os insultos e agressões e mantém a cabeça erguida. Para isso funcionar, tudo depende de libertar os judeus de sua atomização e auto-alienação e uni-los pela causa judaica.



Como concluíram os pesquisadores a referida postagem faz uma tradução interpretativa e não literal das edições judaicas que circulavam na Alemanha de 1933, porém podemos observar que os sentimentos dos judeus e preocupações se assemelham muito com as preocupações de cada brasileiro que teme um novo golpe e uma nova ditadura.

Hitler era contra as minorias e contra tudo que não fosse ariano. Bolsonaro se coloca contra as minorias e diz amar Israel, só nos resta saber até quando.