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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

APEOESP pede justiça para Luis Nassif e Jornal GGN

"A perseguição é um atentado contra a democracia. Ela abre um precedente perigosíssimo para que a justiça seja utilizada para calar jornalistas que buscam revelar os crimes cometidos por instâncias de poder", diz nota da entidade

Por Jornal GGN



"Jornal GGN – O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) manifestou apoio ao Jornal GGN e jornalista Luis Nassif contra a perseguição  do judiciário, com o intuito de sufocar as atividades do portal "por realizar críticas ao poder judiciário, exercendo a liberdade de imprensa e de expressão assegurada na Constituição Federal".

Em nota, a presidente da organização, Maria Izabel Azevedo Noronha destaca que a "perseguição – conhecida internacionalmente como lawfare, que é o uso do judiciário para atacar politicamente uma pessoa – é um atentado contra a democracia. Ela abre um precedente perigosíssimo para que a justiça seja utilizada para calar jornalistas que buscam revelar os crimes cometidos por instâncias de poder, exatamente como ocorreu durante a ditadura militar".

"No caso de Luis Nassif, juízes de primeira instância vêm sistematicamente impondo pesadas multas de pagamento imediato e o bloqueio de sua conta bancária, fazendo com que não possa ter acesso sequer aos valores de sua aposentadoria. Trata-se do uso escancarado do poder da justiça para calar alguém que se propôs a revelar ao público uma série de irregularidades e corrupção no meio judiciário brasileiro", continua o texto.

A entidade também pede a reparação das ações contra o GGN e Nassif e afirma que todas as "representações sociais devem se manifestar contra esse absurdo".

"Exigimos, por outro lado, que as instâncias superiores da justiça brasileira façam imediatamente cessar a perseguição e devolvam ao jornalista Luis Nassif todos os seus direitos e os valores descontados, bem como que realizem a investigação de suas denúncias e a punição dos culpados".




Fonte: Jornal GGN




sábado, 1 de agosto de 2020

Obrigado e boa sorte!

Entrei no Twitter em 2009 por causa do sorteio de uma câmera fotográfica, e nem imaginava o universo progressista que não só encontraria, mas me tornaria parte.

Uma menina me ensinou..., e eu já estava envolvido com as linhas do ansioso blogueiro*. Foi um dos primeiros Blogs ditos sujos que tive contato nessa constelação de muito bons.

Paulo Henrique Amorim e Conversa Afiada dispensam comentários na trincheira anti-golpe e na guerra contra o PIG, sigla por ele criada.
Não tive a oportunidade de pegar um autógrafo seu no meu exemplar do livro "O Quarto Poder", mas numa noite no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o querido Barão, pude o ouvir.

Dentre muitas das suas experiências compartilhadas, PHA deixou uma que me trouxe a reflexão de como podemos ser dinâmicos na militância.
Relatara que antigamente nas redações, para um artigo dele sair o mesmo percorria uma longa distância e tempo, mas nos dias atuais, ele se tranca ali num lugar e em 15 minutos a matéria já está no ar. 

Realmente eles deixam muita saudade.

Ana Flavia Marx e PHA no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé Foto: Alexandre Salazar




*****



O Conversa Afiada dá adeus. Obrigado e boa sorte!
No Conversa Afiada 




Olá, tudo bem?

Dados o profundo respeito e a imensurável consideração por cada um de vocês, amigos navegantes, este texto vai direto ao ponto: o Conversa Afiada encerrou suas atividades em 31/VII/2020. Esse é o fato. Mas, a partir de agora, você está convidado a entender o que isso significa.

Por mais de uma década, este site idealizado, construído e mantido por Paulo Henrique Amorim e uma pequena - mas aguerrida - equipe serviu de bastião da luta pela formação de uma imprensa independente, progressista e destinada a combater em todas as frentes possíveis o PiG (e seus efeitos deletérios), os golpistas e os traidores da democracia brasileira. PHA foi pioneiro, um revolucionário nas chamadas "novas mídias". Um colosso*!

Não foi fácil empreender essa luta. A aba "Não me calarão", que você pode acessar ao clicar aqui, conta algumas das centenas de batalhas judiciais que o ansioso blogueiro* teve de enfrentar para manter acesa a chama da liberdade de expressão. Como se diz, jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique, e, diante disso, PHA e o Conversa Afiada nunca fugiram à sua responsabilidade.

Em dezembro de 2017, PHA tomou mais uma atitude para defender a nossa liberdade de expressão - não só a dele, ou a do Conversa Afiada, mas a de todos os brasileiros - ao protocolar, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, uma petição em que acusava o Estado brasileiro de manter uma distorção sistêmica que cerceia a liberdade de expressão e se torna, na prática, uma forma disseminada de censura e perseguição.


"Essa petição tira a discussão da zona de conforto dos poderosos brasileiros. Ou seja, do Direito apenas. Do 'juridiquês', porque é nesse território e com essa linguagem dissimuladora que eles, os poderosos, se beneficiam da estrutura sistemicamente restritiva, censora. O debate passa a se travar no campo da Liberdade!", escreveu PHA ao anunciar a ida à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mas, se sempre incomodou os poderosos, o Conversa Afiada recebeu equivalentes demonstrações de apoio ao longo dos anos. Faltariam a este editor palavras para agradecer a cada um dos amigos navegantes por tornar possível empunhar a espada do jornalismo independente e progressista por tantos anos. Obrigado por cada mensagem de apoio nas redes sociais, cada assinatura, cada compartilhamento de posts e vídeos. Nada disso seria possível sem vocês.

Esse carinho é simbolizado pelo tricampeonato conquistado pelo Conversa Afiada no Prêmio Influenciadores Digitais, em 2016, 2017 e 2019, na categoria "Economia, Política e Atualidades". Prêmios como esse não são um objetivo em si, mas ilustram o alcance popular do Conversa Afiada e nos enchem de orgulho por mostrar que tantos brasileiros estiveram ao nosso lado. Comprovam essa afirmação os números do Conversa Afiada nas redes sociais: até a data de conclusão deste texto, eram 1,13 milhão de seguidores no Facebook, 634,3 mil no Twitter, 690 mil no Instagram e 985 mil no YouTube.


Em 2019, com a morte de Paulo Henrique Amorim, esta equipe não se permitiu abaixar as bandeiras e abdicar de seu dever perante a democracia. Continuou a defender, dia após dia, os princípios que nortearam o Conversa Afiada desde a sua criação. Os últimos meses, entretanto, foram um desafio duplamente extenuante: além das dificuldades inerentes à luta pela construção de uma imprensa independente e progressista, a equipe teve de lidar 24 horas por dia, 7 dias por semana com o peso de uma ausência irreparável - porque, afinal de contas, há sim pessoas insubstituíveis.




O Conversa Afiada, embora tenha interrompido em 31/VII/2020 as atualizações, continuará no ar. Os artigos, as reportagens e os vídeos que tiraram o sono dos inimigos da democracia e dos vendilhões da pátria continuarão à disposição dos amigos navegantes.  

Quanto a esta equipe... Bem, tenha certeza de que ela continuará a se basear nos mesmos princípios que sustentaram o Conversa Afiada ao longo dos anos. Em todas as plataformas possíveis, a luta pela democracia e em defesa da liberdade de expressão continuará. Afinal, é essa a melhor homenagem possível ao ansioso blogueiro*; é, também, a mais sincera demonstração de respeito e gratidão ao patrono deste espaço, a quem agradeço - em nome de toda a equipe - pela sabedoria e pela confiança compartilhadas.


Em nome de todos os jornalistas que, ao lado de Paulo Henrique Amorim, fizeram do Conversa Afiada a principal referência na imprensa independente e progressista no Brasil, agradeço a você, amigo navegante.

Como dizia nosso ansioso blogueiro*, vamos tocar o barco - hoje e sempre! Boa noite e boa sorte!!!

Leonardo Miazzo, editor do Conversa Afiada e da TV Afiada






*P.S - Passar o mouse no original do Conversa Afiada

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O jornal que Hitler odiava







Não foram pesquisadores alemães, mas um jornalista americano, Ron Rosenbaum, quem primeiro percebeu e divulgou a importância da luta contra Hitler por um pequeno jornal de Munique, o Münchener Post, que os nazistas chamavam de “a cozinha venenosa”. Em seu livro Para Entender Hitler, Rosenbaum escreveu que a batalha “entre Hitler e os corajosos repórteres e editores do ‘Post’ é um dos grandes dramas nunca relatados da história do jornalismo”. Eles foram, disse, os primeiros a se ‘atracar’ com o líder nazista, os primeiros a ridicularizá-lo, os primeiros a investigá-lo, a denunciar o lado avesso e sujo de seu partido, o comportamento criminoso e homicida mascarado por suas pretensões a movimento político, e foram os primeiros a tentar alertar o mundo para a natureza da besta feroz que rastejava em direção a Berlim. Foi ainda a primeira publicação a escrever sobre “a solução final” para os judeus.

Rosenbaum acrescenta que a história do Post e de seus jornalistas “nunca foi contada de verdade, sequer na Alemanha, ou talvez especialmente na Alemanha, onde é mais consolador para a autoimagem nacional acreditar que ninguém realmente sabia quem era Hitler, até ser tarde demais”, mas “os redatores do Münchener Post sabiam, eles publicaram a verdade para quem estivesse disposto a vê-la”. Em 12 anos de luta, o jornal divulgou algumas das percepções mais agudas e penetrantes do caráter, dos métodos e da mente de Hitler.

Rosenbaum explica o significado de “cozinha venenosa”. “Venenoso” era uma expressão reservada por Hitler para aqueles a quem odiava mais profundamente, era o epíteto com que se referia aos judeus: “envenenadores”. É difícil encontrar em seu vocabulário outra palavra mais carregada de ódio e aversão.

Tentativa de ignorar o passado

Depois da primeira edição do livro de Rosenbaum, em 1998, alguns pesquisadores voltaram sua atenção para o Münchener Post. A também americana Sara Twogood escreveu um longo ensaio sobre o jornal e na França foi divulgado um documentário dez anos atrás, Le Münchener Post Contre Hitler.

Recentemente, foi publicado o primeiro livro sobre o Münchener Post, intitulado A Cozinha Venenosa. A autora é a jornalista brasileira Silvia Bittencourt, que mora na Alemanha há mais de 20 anos e trabalha na Universidade de Heidelberg. O livro é uma agradável surpresa. Quando o autor desta resenha fez uma pesquisa a respeito do Süddeutsche Zeitung (SZ), de Munique, o de maior circulação e o mais liberal dos diários alemães de qualidade, não encontrou nenhuma referência ao Münchener Post. Mencionou a existência do Münchener Neueste Nachrichten, o principal jornal de Munique e concorrente do Post. Depois da Segunda Guerra Mundial, suas instalações foram utilizadas pelo SZ, que também empregou vários de seus ex-jornalistas. Ao escrever sobre a fundação do Süddeutsche Zeitung, mencionou que seu editor-chefe, Edmund Goldschagg, tinha dirigido um jornal de Munique até 1933. O que não sabia, até ler A Cozinha Venenosa, é que esse jornal era precisamente o Münchener Post.

Mas ainda hoje é chocante a ignorância na Alemanha sobre o principal inimigo de Hitler na imprensa escrita. Tanto Rosenbaum como Silvia estiveram na Altheimer Eck, a rua de Munique onde o Post tinha a sede, e não encontraram nenhum resquício dele, sequer uma placa. Ninguém o conhecia. Silvia procurou os descendentes dos principais jornalistas do Post e percebeu que também eles pouco sabiam de sua luta contra Hitler. A produção sobre o jornal continua escassa, principalmente na Alemanha. Talvez, como diz Rosenbaum, uma tentativa de ignorar um passado pouco agradável.

Tratado imposto

O Münchener Post foi fundado em 1886 ou 1887. Era um semanário de quatro páginas de pequenas dimensões que logo ficou ligado ao Partido Social Democrático (Sozialdemokratische Partei Deutschlands – SPD). Em 1890, passou a circular diariamente, à tarde, com uma tiragem de 5 mil exemplares. Mais tarde, teria oficinas próprias e seis jornalistas fixos e bem pagos, que também eram ativistas políticos. Vários deles ocupariam altos cargos na administração pública. Tornou-se um importante formador de opinião da Baviera. Passou a tirar 30 mil cópias. Posteriormente, publicaria também o semanário Bayerisches Wochenblatt. Em 1914, escreveu contra a entrada da Alemanha numa eventual guerra, mas, quando esta começou, seguiu a linha do partido, mudou de orientação e prestou uma “valiosa colaboração patriótica”, segundo o Ministério da Guerra.

Derrotada, a Alemanha atravessou um período conturbado. Um dos principais jornalistas do Post, Kurt Eisner, chegou a ser, por um curto período, ministro-presidente (governador) e chanceler da República da Baviera. Morreu assassinado a tiros. Quando outro jornalista do Post e político do SPD, Erhard Auer, fazia uma oração fúnebre por Eisner, foi também baleado, mas sobreviveu. O poder na região foi ocupado pelo Partido Popular Bávaro, conservador, que cercearia repetidas vezes a circulação do Post.

Como praticamente toda a Alemanha, o jornal ficou indignado com as condições do Tratado de Versalhes, de 1919, imposto pelos vencedores, que declarava a Alemanha culpada pela guerra, tirava todas as suas colônias, reduzia seu exército, tomava-lhe uma parte do território e impunha pesadíssimas reparações. O rigor das medidas favoreceu a ascensão do nazismo.

Duvidosa homenagem no Mein Kampf

Em abril de 1920, o Post mencionou a existência do “partido da suástica” (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães); em maio, num texto com destaque, chamava a atenção para um personagem que fazia inflamados discursos nas cervejarias e emergia na cena política – era um austríaco, um pintor fracassado, antigo cabo do exército alemão: “Na terça-feira à noite, um senhor chamado Hitler falou sobre o programa desse ‘partido’. Ele soltou as mesmas palavras e disparou os mesmos clichês que somos obrigados a ouvir nos eventos de propaganda nacionalista. Caluniou a social-democracia por sua defesa da Internacional e pregou o antissemitismo nos moldes nacionalistas.”

O Post seria o único jornal de Munique a cobrir regularmente, e cada vez com maior intensidade, o movimento nazista e as atividades de Hitler. Como diz Silvia Bittencourt, as notas publicadas eram cada vez maiores, mais frequentes e mais afiadas, criticando principalmente o antissemitismo. Numa delas, escreveu que Hitler se comportara mais como um comediante e que sua palestra, “lembrando uma cantiga, trazia a cada três frases o refrão ‘a culpa é dos hebreus’. Não há infâmia ou porcaria que não seja atribuída aos judeus”.

As notas sobre Hitler se repetiram e ele passou a provocar os repórteres do jornal nos comícios. Numa ocasião, disse que o homem do Post deveria tirar sua pele de cordeiro e sairia, daí, um burro. Atacava o jornal em suas falas e nos artigos para o Völkischer Beobachter, jornal do partido nazista. Dizia que “não se passava um dia sequer sem que o Münchener Post, uma das publicações judaicas mais imundas, manchasse e sujasse pessoas corretas”; era o “sapo judaizante da Altheimer Eck”, um “jornal judeu e marxista” e “arremessador piolhento de lama”. Ele ficou furioso com um texto provocador: “Adolf Hitler traidor?”, mostrando o descontentamento de vários de seus correligionários e questionando a origem das finanças do partido e a vida de luxo do seu líder. A partir de então, o Post ficou na mira de Hitler, que lhe prestaria a duvidosa homenagem de mencioná-lo nominalmente em sua obra Mein Kampf.

Fim dos males

Num de seus discursos, Hitler disse, dirigindo-se ao editor responsável: “Senhor Auer! O senhor e sua injeção de veneno têm grande parte da culpa pela miséria que o povo alemão vive hoje. Senhor Auer! O senhor recebeu dinheiro dos judeus do gado, o senhor se vendeu para os judeus.”

O jornal que enfrentava Hitler publicava longos textos teóricos e ensaios; tinha boas páginas culturais, mas era extremamente intelectualizado para os trabalhadores e a maioria da massa do partido. Sua pequena equipe dividia o tempo com a política, dedicando menos atenção ao jornal. Seu editor era também líder do Partido Social-Democrata da Baviera. Apesar de sua coragem e sua contundência, talvez não fosse a arma mais apropriada para a batalha. Mas foi o mais aguerrido na luta. O Post foi fechado e censurado repetidas vezes, como toda a imprensa de esquerda, por um Poder Judiciário ultraconservador, e a polícia invadiu sua sede, numa ação movida por “traição à pátria”. Mas no começo dos anos 1920 alcançaria uma tiragem de 60 mil exemplares. Ante a opacidade das finanças do partido nazista e as ligações de Hitler com a burguesia industrial, que o financiava, o Post perguntava: “O que, exatamente, ele faz para ganhar a vida?” E mostrava “como Hitler vive”.

Hitler capitalizou habilmente as dificuldades enfrentadas pela Alemanha na República de Weimar: o desemprego, a ocupação da região do Reno pelas tropas francesas, a inflação galopante – o preço de uma passagem de ônibus chegou a custar 150 bilhões de marcos e um dólar era trocado por 4,2 trilhões de marcos. Ele prometeu acabar com os males do país, que atribuía aos judeus. O número de afiliados ao partido nazista cresceu exponencialmente, assim como a fama de seu líder.

Informações confidenciais e documentos secretos

Em 1923, Hitler superestimou sua força. Tentou dar um golpe de Estado, conhecido como o “putsch da cervejaria”, com lances de ópera bufa, e fracassou. Durante os tumultos, os nazistas invadiram e destruíram as instalações do Post, o que levou o Völkischer Beobachter a escrever: “A cozinha venenosa na Altheimer Eck foi demolida”.

Julgado por alta traição, num processo que o jornal católico Bayerische Kurier qualificou como uma “catástrofe jurídica” e o Post como “túmulo da Justiça bávara”, Hitler foi condenado a cinco anos de prisão, em condições que “lembravam mais um hotel do que uma penitenciária”, que ele aproveitou para escrever Mein Kampf. The New York Times, que fazia uma boa cobertura da Alemanha, acreditou que a carreira política de Hitler estava encerrada. Foi solto, pouco mais de um ano depois, por boa conduta, refundou o partido e retomou a ascensão política meteórica, apesar de sua condição de apátrida, pois perdera a nacionalidade austríaca em 1925 sem conseguir a alemã.

No fim dos anos 1920 e começo dos 30, o Post atravessou momentos difíceis. Atingido pela crise econômica, tinha uma existência precária, agravada pelas depredações e pela contínua atitude hostil do governo bávaro, que o proibia, com frequência, de circular; seus jornalistas sofriam represálias e agressões físicas ante a complacência da polícia. Foi obrigado a diminuir o número de páginas, a tiragem caiu. Isso não impediu que o jornal aumentasse a intensidade dos ataques a Hitler, aos nacional-socialistas da cruz suástica e a seu adversário, o Völkischer Beobachter, que fora relançado e contava com mais recursos. O Post mostrou ter um incrível acesso a informações confidenciais e documentos secretos dos nazistas. Atacou também os comunistas, responsabilizando-os igualmente pela violência no país.

Ciúme doentio

Quando os nazistas tiveram um revés nas eleições de 1930, o Post subestimou seu futuro político. Mas a depressão e o desemprego decorrentes do crash da bolsa de Nova York, em 1929, levaram um grande número de alemães a depositar suas esperanças nas promessas de Hitler. Nas eleições seguintes, seu partido aumentou o número de votos, assim como os comunistas.

Para deter o avanço nazista a qualquer custo, o Post lançou o que Silvia Bittencourt considerou “a campanha mais suja de sua história”, e “desonesta e ambígua”, mas que Rosenbaum qualifica como um mergulho no coração desagradável da cultura de chantagem do partido de Hitler. Tratava-se de uma carta de um consultor jurídico do partido, Eduard Meyer, a Ernest Röhm, o chefe das forças de choque, as “camisas-pardas”, do movimento hitlerista. Nela, Meyer contava em detalhes episódios da vida homossexual de Röhm, a quem chantageou. A carta foi entregue pela noiva de Meyer ao Post, que pagou por ela e a publicou com o título “A vida sexual no Terceiro Reich”. A repercussão foi extraordinária. Röhm alegou que a carta era falsa e processou o jornal, para mais tarde retirar a queixa e pagar as custas do processo, que foi arquivado. Meyer se matou e a noiva foi condenada a oito meses de prisão. Mas o escândalo não abalou a ascensão de Hitler.

A “cozinha venenosa” também explorou o suicídio da atraente meia-sobrinha de Hitler, Geli (Angela Maria) Raubal, que morava em sua casa; ele foi, talvez, o grande amor de sua vida, mas não há provas de que fossem amantes. O Post quis saber qual era o papel de Hitler, doentiamente ciumento. Foi tão intenso o ataque do Post que Hitler ameaçou com um processo e pensou em suicídio. Mas conseguiu a cidadania alemã; em novembro de 1932, seu partido foi o mais votado e em janeiro do ano seguinte ele foi indicado para o posto de chanceler (primeiro-ministro).

Memória preservada

Em março de 1933, os nazistas invadiram de novo as instalações do Post. A maioria, escreveu um jornalista, “tinha cara de menino”. Destruíram com fúria o que encontraram, máquinas de escrever, telefones, até as torneiras das pias dos toaletes, jogaram móveis pelas janelas, fizeram uma fogueira com documentos, arrasaram as oficinas. Dessa vez, acabariam com o jornal para sempre. Os jornalistas tiveram que se esconder. Seus ataques contra Hitler tinham sido implacáveis. Eles, segundo Rosenbaum, “tinham a ficha de Hitler, tinham enxergado dentro dele (…) Eles tinham visto o Hitler dentro de Hitler e, creio, Hitler sabia que eles sabiam”. Pagaram por isso. Foi o fim de uma luta que durou doze anos.

A obra de Silvia Bittencourt, resultado de árdua pesquisa, mereceria uma ampla divulgação, principalmente na Alemanha, onde o primeiro e mais persistente opositor de Hitler é ainda praticamente ignorado.

Ao livro podem ser feitas algumas observações. O New York Herald Tribune não estava, na época, ligado ao New York Times; a ligação se daria várias décadas mais tarde, com sua edição internacional, depois de desaparecer a edição de Nova York. O livro afirma que Edmund Goldschagg, ex-editor do Post, fez sozinho o projeto do Süddeutsche Zeitung em 1945. Na verdade, o lançamento foi obra de três pessoas: Goldschagg, diretor de redação; August Schwingenstein, publisher; e Franz-Joseph Schoeningh, editor cultural, aos quais se juntaram dois ex-executivos do Münchner Neueste Nachrichten; eles foram os acionistas do jornal. A autora menciona os artigos de Konrad Heiden, correspondente em Munique do Frankfurter Zeitung. Mas, preocupada em destacar a oposição do Post, talvez não tenha dado a importância devida à posição desse jornal contra Hitler, o mais influente da época e antecessor do atual Frankfurter Allgemeine Zeitung. Antes de ser tomado pelos nazistas, era um diário liberal, independente, “a voz da razão que emanava das províncias”, segundo Peter Gay. Para Hitler, era “um jornal-víbora judeu”.

Mas nada disso diminui a importância da “cozinha venenosa”. Ao destruir seu grande inimigo, em 1933, Hitler quase conseguiu também erradicar a memória sobre ele, que só agora está sendo resgatada.

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Matías M. Molina é autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo, em segunda edição

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Para advogado, derrota de Kamel em ação contra ex-editor do JN é referência importante

Marco Aurélio Mello é um dos blogueiros de quem o executivo da Globo cobra indenização por "danos morais". Para advogado, ao julgar pedido improcedente, TJ cria referência em favor do jornalismo independente



Imagem da RBA



O jornalista Marco Aurélio Mello conseguiu uma importante vitória para a liberdade de expressão no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em decisão unânime, os desembargadores da 10ª Vara Cível consideraram improcedente pedido de indenização por danos morais em processo movido pelo diretor-geral de Jornalismo da Rede Globo de Televisão, Ali Ahmad Kamel Harfouche. Em ação iniciada em 2013, Kamel pleiteou, sem sucesso, o pagamento de R$ 30 mil por se considerar ofendido por textos publicados por Mello em seu blog DoLadoDeLá.

Marco Aurélio Mello tem larga experiência em televisão e foi por 12 anos funcionário da Globo, até ser demitido, em março de 2007, depois de ocupar por quatro anos a função de editor de Economia do Jornal Nacional. Na casa, trabalhou também como editor no Jornal da Globo e do Bom dia Brasil. Mello fez parte do grupo de jornalistas que se recusou a firmar abaixo-assinado que circulou na emissora em defesa da conduta do jornalismo global nas eleições presidenciais do ano anterior.

O diretor-geral de Jornalismo da empresa reclama em seu processo considerar-se ofendido moralmente pelo fato de o "réu" ter escrito no blog, já desativado, que Kamel manipulava as notícias de forma inescrupulosa e desonesta, além de assediar moralmente os subordinados, grampear telefones e invadir e-mails.

O conteúdo crítico ao jornalismo dirigido por Kamel esteve também presente, sobretudo, após as eleições de 2006, em textos de outros jornalistas que passaram a adotar a internet como veículo de informação independente, como Rodrigo Vianna (Blog Escrevinhador), Luiz Carlos Azenha (Viomundo), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Luis Nassif (Jornal GGN) – todos são alvos de processos movidos por Ali Kamel. Em seu despacho, o desembargador Celso Luiz de Matos Peres assinala que o executivo da Globo é "demandante contumaz na seara da reparação moral" em pleitos dirigidos em face de blogueiros e jornalistas, que a partir de 2009 teriam iniciado uma "campanha difamatória" contra ele. "Pretensão autoral manifestamente improcedente", afirma o acórdão.

A decisão, proferida no último dia 25, segue o relatório do desembargador Celso Luiz de Matos Peres, e anula a de primeira instância, que acolhia o pedido de Ali Kamel. Segundo o advogado de defesa de Mello, Vitor Cardoso, a unanimidade alcançada no colegiado do TJ dificultará a revisão da sentença em instâncias superiores e pode representar uma importante vitória em para o exercício da liberdade de expressão e o exercício da crítica, contra a judicialização do debate político.

"O texto do acórdão relatado pelo desembargador revela uma decisão muito consistente tecnicamente. O desembargador demonstrou ter dado importância de fato ao processo, com muito conhecimento do que está nos autos e também com a realização de pesquisas por conta própria", diz Cardoso.

O relatório cita que tanto Mello como Kamel são jornalistas conhecidos e respeitados nos meios de comunicação e observa que Kamel também divulga opiniões e trabalhos como escritor. Depois de citar diversas obras do diretor da Globo, o desembargador Matos Peres afirma: "Percebe-se, portanto, que como jornalista e escritor, o autor (Kamel) bem sabe da necessidade da construção de um pensamento crítico a respeito das questões da sociedade e o quanto é saudável para a população poder confrontar opiniões e posicionar-se em tal ou qual sentido justamente em função desse direito constitucional de liberdade de expressão e de imprensa".

Ao elogiar o acórdão da segunda instância, o advogado avalia com ponderação a decisão de primeira instância que havia acolhido o argumento do diretor da Globo. "Os processos envolvendo as empresas de mídia não são fáceis porque existe uma cultura propagada por elas próprias na sociedade de que são isentas e não têm posição política e ideológica. Nem sempre a sociedade percebe que isso é um mito. Há uma uma geração de juízes formados sob essa cultura e a primeira instância não tem culpa de acreditar em algo que a própria imprensa cultiva", analisa Cardoso. "Judicializar a luta e o debate político deseduca. Não existe mídia isenta, e caberia ao atores da mídia assumir que têm lado e posição, e chamar a atenção para e existência do contraditório é serve até para que não prospere a autoproclamação de isenção dos que não são isentos."

Em seu relatório, o desembargador menciona uma "seção especial" em que a página de Ali Kamel na internet lista "ações" de blogueiros que, a partir de 2009 teriam iniciado campanha difamatória, "todos jornalistas, assim como o apelado, ao estilo de uma verdadeira Teoria da Conspiração, não se podendo, contudo, classificar todos os posts, em bloco, como difamadores, devendo cada conduta ser analisada isoladamente", pondera o magistrado para então considerar "não haver qualquer possibilidade de acolhimento da pretensão autoral, tendo em vista que pretende o autor reprimir o conteúdo da publicação de autoria do réu, tão-somente porque inserido num cenário de crítica, seja contra seu atual empregador, seja contra a própria figura do demandante como diretor jornalístico de uma das maiores redes de TV, não podendo se extrair efetivo dano experimentado pelo apelado, nem mesmo grave constrangimento decorrente dos termos utilizados pelo réu no texto impugnado, a justificar a condenação ao pagamento de indenização a título de reparação moral".

Em sua conclusão, ao negar pedido de indenização de Kamel e reconhecer a atuação de Mello como manifestação do livre exercício do direito de expressão e manifestação do pensamento, amparado na Constituição, o desembargador anota: "A situação fática pode ser classificada como mero dissabor, até porque o autor também é jornalista e como tal também expressa opiniões polêmicas em suas publicações. Assim, a sentença de primeiro grau merece reparo, impondo-se a total improcedência do pleito autoral".

O advogado Vitor Cardoso considera que se as empresas de comunicação assumissem sua parcialidade – em função dos interesses políticos e econômicos em jogo – seriam mais coerentes com a credibilidade que o negócio da comunicação exige. "O problema é que a multiparciliadade das narrativas põe em xeque essa credibilidade, o que passa a ser visto pelas empresas como risco de prejuízos comerciais. O contraponto político não só é saudável como também cria um incômodo comercial. Daí a judicialização do debate político e da exposição do contraditório."


Para o jornalista Marco Aurélio Mello, hoje gestor de conteúdo na TVT, a decisão abre um precedente importante "para reverter dezenas de outras ações que tentam calar jornalistas independentes" em todo o país. "Por esta razão, mais do que uma vitória pessoal, considero um passo importante para a garantia de um direito consagrado em nossa Constituição Federal." 

Fonte: redebrasilatual.com.br



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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Globo Vira Piada Na Imprensa Internacional

Com as últimas manifestações ocorridas nas ruas do Brasil muita coisa veio a tona.




Dentre elas a mão manipuladora da grande mídia que observando meio de lado o andamento das coisas logo tomou seu partido, e com toda a sua experiência manipuladora rapidamente entrou no embate e canalizou toda a força da rua contra a presidenta Dilma.





Mas também saiu caro para a mídia golpista, principalmente para a mãe Globo. Todos aqueles que também meio de lado acompanhavam dia a dia o "apocalipse" do PIG (Partido da Imprensa Golpista) tiveram a chance de mostrar o quão crescente é a rejeição à notícia tendenciosa e fraudulenta.
Arnaldo Jabor mostrou o quanto é boneco.
Jornalismo da Globo se tornou à paisana.
Caco Barcellos e seus colegas que o digam.