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Surfista: Allen Sarlo/ Foto: Desconhecido |
A Carta Aberta foi enviada com exclusividade ao Blog do Marcelo Auler em 2016 e repercutida em vários outros Blogs e Portais, e como diz o jornalista, tem caráter de documento Histórico.
Dessa forma, ocupando um humilde brilho em meio a uma constelação, esse que vos escreve, também eterniza esse momento da História do Brasil.
"Não foi uma só vez que o Senhor contou que seus antecessores sabiam da inocência de Genoíno, mas não o retiraram da ação penal porque colocaria em risco o castelo teórico do "Mensalão", como empreitada de uma quadrilha, da qual esse nosso amigo tinha que fazer parte, para completar o número".
Por sinal, conheci José Genoíno em seu apartamento, na Asa Sul, quando o Senhor e eu dirigíamos em parceria a Escola Superior do Ministério Público da União. Àquela ocasião, já era investigado, senão denunciado, por Doutor Antônio Fernando.
Admirei a sua coragem, Doutor Rodrigo, de não se deixar intimidar pelos arroubos midiáticos e jurisdicionais vindas do Excelso Sodalício. Com José Genoíno travamos interessantes debates sobre o futuro do País, sobre a necessidade de construção de um pensamento estratégico com a parceria do ministério público.
Tornou-se, esse político, então, mais do que um parceiro, um amigo, digno de ser recebido reiteradamente em seu lar, para se deliciar com sua arte culinária. De minha parte, como não sou tão bom cozinheiro quanto o Senhor, preferia encontrar, com frequência, Genoíno, com muito gosto e admiração pela pessoa simples e reta que se me revelava cada vez mais, no restaurante árabe do Hotel das Nações, onde ele se hospedava. Era nosso point.
Cá para nós, Doutor Rodrigo Janot, o Senhor jamais poderia se surpreender com meu modo de pensar e de agir, para chamá-lo de desonesto. O Senhor me conhece há alguns anos e até me confere o irônico apelido de "Arengão", por saber que não fujo ao conflito quando pressinto injustiça no ar. Compartilhei esse pressentimento de injustiça com o Senhor, já quando era procurador-geral e eu seu vice, no Tribunal Superior Eleitoral.
Compartilhei meus receios sobre os desastrosos efeitos da Lava Jato sobre a economia do País e sobre a destruição inevitável de setores estratégicos que detinham insubstituível ativo tecnológico para o desenvolvimento do Brasil. Da última vez que o abordei sobre esse assunto, em sua casa, o Senhor desqualificou qualquer esforço para salvar a indústria da construção civil, sugerindo-me que não deveria me meter nisso, porque a Lava Jato era "muito maior" do que nós.
Mas continuemos no flash-back.
Tinha-o como um amigo, companheiro, camarada. Amigo não trai, amigo é crítico sem machucar, amigo é solidário e sempre tem um ouvido para as angústias do outro.
Lutamos juntos, em 2009, para que Lula indicasse Wagner Gonçalves procurador-geral, cada um com seus meios. Os meus eram os contatos sólidos que tinha no governo pelo meu modo de pensar, muito próximo ao projeto nacional que se desenvolvia e que fui conhecendo em profundidade quando coordenador da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão da PGR, que cuidava da defesa do patrimônio público.
Ficamos frustrados quando, de última hora, Lula, seguindo conselhos equivocados, decidiu reconduzir o Doutor Antônio Fernando.
Em 2011, tentamos de novo, desta vez com sua candidatura contra Gurgel para PGR.
Na verdade, sabíamos que se tratava apenas de um laboratório de ensaio, pois, com o clamor público induzido pelos arroubos da mídia e os chiliques televisivos do relator da Ação Penal 470, poucas seriam as chances de, agora Dilma, deixar de indicar o Doutor Gurgel, candidato de Antônio Fernando, ao cargo de procurador-geral.
Ainda assim, levei a missão a sério. Fui atrás de meus contatos no Planalto, defendi seu nome com todo meu ardor e consegui, até, convencer alguns, mas não suficientes para virar o jogo.
Mas, vamos em frente.
Em 2013, quando o Senhor se encontrava meio que no ostracismo funcional porque ousara concorrer com o Doutor Gurgel, disse-me que voltaria a concorrer para PGR e, desta vez, para valer.
Era, eu, Corregedor-Geral do MPF e, com muito cuidado, me meti na empreitada. Procurei o Doutor Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, meu amigo-irmão há quase trinta anos, e pedi seu apoio a sua causa.
Procurei conhecidos do PT em São Paulo, conversei com ministros do STF com quem tinha contatos pessoais. Enquanto isso, o Senhor foi fazendo sua campanha Brasil afora, contando com o apoio de um grupo de procuradores e procuradoras que, diga-se de passagem, na disputa com Gurgel tinham ficado, em sua maioria, com ele.
Incluía, até mesmo, o pai da importação xinguelingue ( Gíria paulista: produto barato que vem da China, geralmente de baixíssima qualidade) da teoria do domínio do fato, elaborado por Claus Roxin no seu original, mas completamente deturpada na Pindorama, para se transmutar em teoria de responsabilidade penal objetiva.
Achava essa mistura de apoiadores um tanto estranha, pois eu, que fazia o trabalho de viabilizar externamente seu nome, nada tinha em comum com essa turma em termos de visão sobre o ministério público.
Como o Senhor sabe, no início de 2012, publiquei, numa obra em "homenagem" ao então Vice-Presidente da República, Michel Temer, um artigo extremamente polêmico sobre as mutações disfuncionais por que o ministério público vinha passando.
Esse artigo, reproduzido no Congresso em Foco, com o título "Ministério Público na Encruzilhada: Parceiro entre Sociedade e Estado ou Adversário implacável da Governabilidade?", quando tornado público, foi alvo de síncopes corporativas na rede de discussão @Membros.
Faltaram querer me linchar, porque nossa casa não é democrática. Ela se rege por um princípio de omertà muito próprio das sociedades secretas. Mas não me deixei intimidar.
Depois, ainda em 2013, publiquei outro artigo, em crítica feroz ao movimento corporativo-rueiro contra a PEC 37, também no Congresso em Foco, com o título "Derrota da PEC 37: a apropriação corporativa dos movimentos de rua no Brasil".
(N.R. A PEC 37, derrotada na Câmara em junho de 2013, determinava que o poder de investigação criminal seria exclusivo das polícias federal e civis, retirando esta atribuição de alguns órgãos e, sobretudo, do Ministério Público (MP).
Sua turma de apoio me qualificou de insano, por escrever isso em plena campanha eleitoral do Senhor. Só que se esqueceram que meu compromisso nunca foi com eles e com o esforço corporativo de indicar o Procurador-Geral da República por lista tríplice. Sempre achei esse método de escolha do chefe da instituição um grande equívoco dos governos Lula e Dilma.
Meu compromisso era com sua indicação para o cargo, porque acreditava na sua liderança na casa, para mudar a cultura do risco exibicionista de muitos colegas, que afetava enormemente a qualidade de governança do País.
No seu caso, pensava, a coincidência de poder ser o mais votado pela corporação e de ter a qualidade da sensibilidade para com a política extra-institucional, era conveniente, até porque a seu lado, poderia colaborar para manter um ambiente de parceria com o governo e os atores políticos.
Não foi por outro motivo que, quando me deu a opção, preferi ocupar a Vice-Procuradoria-Geral Eleitoral a ocupar a Vice-Procuradoria-Geral da República que, a meu ver, tinha que ser destinada à Doutora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, por deter, também, expressiva liderança na casa e contar com boa articulação com o movimento das mulheres. Este foi um conselho meu que o Senhor prontamente atendeu, ainda antes de ser escolhido.
Naqueles dias, a escolha da Presidenta da República para o cargo de procurador-geral estava entre o Senhor e a Doutora Ela, pendendo mais para a segunda, por ser mulher e ter tido contato pessoal com a Presidenta, que a admirava e continua admirando muito.
Ademais, Doutora Ela contava com o apoio do Advogado-Geral da União, Doutor Luís Inácio Adams. Brigando pelo Senhor estávamos nós, atuando sobre o então Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e o amigo Luiz Carlos Sigmaringa Seixas.
Quando ouvimos boatos de que a mensagem ao Senado, com a indicação da Doutora Ela, estava já na Casa Civil para ser assinada, imediatamente agi, procurando o Ministro Ricardo Lewandowski, que, após recebê-lo, contatou a Presidenta para recomendar seu nome.
No dia em que o Senhor foi chamado para conversar com a Presidenta, fui consultado pelo Ministro da Justiça e pelo Advogado-Geral da União, pedindo que confirmasse, ou não, que seu nome era o melhor. Confirmei, em ambos os contatos telefônicos.
Na verdade, para se tornar Procurador-Geral da República, o Senhor teve que fazer alianças contraditórias, já que não aceitaria ser nomeado fora do método de escolha corporativista.
Acendeu velas para dois demônios que não tinham qualquer afinidade entre si: a corporação e eu.
Da primeira precisou de suporte para receber seus estrondosos 800 e tantos votos e, de mim, para se viabilizar num mundo em que o Senhor era um estranho. Diante do meu receio de que essa química poderia não funcionar, o Senhor me acalmou, dizendo que nós nos consultaríamos em tudo, inclusive no que se tinha a fazer na execução do julgado da Ação Penal 470, que, a essa altura, já estava prestes a transitar.
O dia de sua posse foi, para mim, um momento de vitória. Não uma vitória pessoal, mas uma vitória do Estado Democrático de Direito que, agora, teria um chefe do ministério público enérgico e conhecedor de todas as mazelas da instituição. Sim, tinha-o como o colega no MPF que melhor conhecia a política interna, não só pelos cargos que ocupara, mas sobretudo pelo seu jeitão mineiro e bonachão de conversar com todos, sem deixar de ter lado e ser direto, sincero, às vezes até demais.
Seu déficit em conhecimento do ambiente externo seria suprido com o exercício do cargo e poderia, eu, se chamado, auxiliá-lo, assim como Wagner Gonçalves ou Claudio Fonteles.
Meu susto se deu já no primeiro mês de seu exercício como procurador-geral. Pediu, sem qualquer explicação ou conversa prévia com o parceiro de que tanto precisou para chegar lá, a prisão de José Genoíno. E isso poucos meses depois de ele ter estado com o Senhor como amigo in pectore.
Eu não tenho medo de assumir que participei desses contatos. Sempre afirmei publicamente a extrema injustiça do processo do "Mensalão" no que toca aos atores políticos do PT. Sempre deixei claro para o Senhor e para o Ministro Joaquim Barbosa que não aceitava esse método de exposição de investigados e réus e da adoção de uma transmutação jabuticaba da teoria do domínio do fato.
Defendi José Genoíno sempre, porque, para mim, não tem essa de abrir seu coração (e no seu caso, a sua casa) a um amigo e depois tratá-lo como um fora da lei, sabendo-o inocente.
Tentei superar o choque, mas confesso que nunca engoli essa iniciativa do Senhor.
Acaso achasse necessário fazê-lo, deveria ter buscado convencer as pessoas às quais, antes, expressou posição oposta. E, depois, como José Genoino foi reiteradamente comensal em sua casa, nada custava, em último caso, dar-se por suspeito e transferir a tarefa do pedido a outro colega menos vinculado afetivamente, não acha?
Como nosso projeto para o País era maior do que minha dor pela injustiça, busquei assimilar a punhalada e seguir em frente, sabendo que, para terceiros, o Senhor se referia a mim como pessoa que não podia ser envolvida nesse caso, por não ter isenção.
E não seria mesmo envolvido. Nunca quis herdar a condução da Ação Penal 470, para mim viciada ab ovo, e nunca sonhei com seu cargo. Sempre fui de uma lealdade canina para com o Senhor e insistia em convencer, a mim mesmo, que sua atitude foi por imposição das circunstâncias. Uma situação de "duress", como diriam os juristas anglo-saxônicos.
Mas chegou o ano 2014 e, com ele, a operação Lava Jato e a campanha eleitoral. Dois enormes desafios. Enquanto, por lealdade e subordinação, nenhuma posição processual relevante era deixada de lhe ser comunicada no âmbito do ministério público eleitoral, no que diz respeito à Lava Jato nada me diziam, nem era consultado.
O Senhor preferiu formar uma dupla com seu chefe de gabinete, Eduardo Pelella, que tudo sabia e em tudo se metia e, por isso, chamado carinhosamente de "Posto Ipiranga". Era seu direito e, também por isso, jamais o questionei a respeito, ainda que me lembrasse das conversas ante-officium de que sempre nos consultaríamos sobre o que era estratégico para a casa.
Passei a perceber, aos poucos, que minha distância, sediado que estava fora do prédio, no Tribunal Superior Eleitoral, era conveniente para o Senhor e para seu grupo que tomava todas as decisões no tocante à guerra política que se avizinhava.
Não quis, contudo, constrangê-lo. Tinha uma excelente equipe no TSE. Fazia um time de primeira com os colegas Luiz Carlos Santos Gonçalves, João Heliofar, Ana Paula Mantovani Siqueira e Ângelo Goulart e o apoio inestimável de Roberto Alcântara, como chefe de gabinete. Não faltavam problemas a serem resolvidos numa das campanhas mais agressivas da história política do Brasil. Entendi que meu papel era garantir que ninguém fosse crucificado perante o eleitorado com ajuda do ministério público e, daí, resolvemos, de comum acordo, que minha atuação seria de intervenção mínima, afim de garantir o princípio da par conditio candidatorum.
Quando alguma posição a ser tomada era controversa, sempre a submeti ao Senhor e lhe pedi reiteradamente que tivesse mais presença nesse cenário. Fiquei plantado em Brasília o tempo todo, na posição de bombeiro, evitando que o fogo da campanha chegasse ao judiciário e incendiasse a corte e o MPE. As estatísticas são claras. Não houve nenhum ponto fora da curva no tratamento dos contendentes.
Diferentemente do que o Senhor me afirmou, nunca tive briga pessoal com o então vice-presidente do TSE. Minha postura de rejeição de atitudes que não dignificavam a magistratura era institucional.
E, agora, que Sua Excelência vem publicamente admoestá-lo na condução das investigações da Lava Jato, imagino, suas duras reações na mídia também não revelam um conflito pessoal, mas, sim, institucional. Estou certo? Portanto, nisso estamos no mesmo barco, ainda que por razões diferentes.
Passada a eleição, abrindo-se o "terceiro turno", com o processo de prestação de contas da Presidenta Dilma Rousseff que não queria e continua não querendo transitar em julgado apesar de aprovado à unanimidade pelo TSE e com as ações de investigação judicial e de impugnação de mandato eleitoral manejadas pelo PSDB, comecei, pela primeira vez, a sentir falta de apoio.
Debitava essa circunstância, contudo, à crise da Lava Jato que o Senhor tinha que dominar. As vezes que fui chamado a assinar documentos dessas investigações, em sua ausência, o fiz quase cegamente. Lembrava-me da frase do querido Ministro Marco Aurélio de Mello, "cauda não abana cachorro".
Só não aceitei assinar o parecer do habeas corpus impetrado em favor de Marcelo Odebrecht com as terríveis adjetivações da redação de sua equipe. E o avisei disso. Não tolero adjetivações de qualquer espécie na atuação ministerial contra pessoas sujeitas à jurisdição penal.
Não me acho mais santo do que ninguém para jogar pedra em quem quer que seja. Meu trabalho persecutório se resume à subsunção de fatos à hipótese legal e não à desqualificação de Fulano ou Beltrano, que estão passando por uma provação do destino pelo qual não tive que passar e, por conseguinte, não estou em condições de julgar espiritualmente.
Faço um esforço de me colocar mentalmente no lugar deles, para tentar entender melhor sua conduta e especular sobre como eu teria agido. Talvez nem sempre mais virtuosamente e algumas vezes, quiçá, mais viciadamente.
Investigados e réus não são troféus a serem expostos e não são “meliantes” a serem conduzidos pelas ruas da vila "de baraço e pregão" (apud Livro V das Ordenações Filipinas). São cidadãos, com defeitos e qualidades, que erraram ao ultrapassar os limites do permissivo legal. E nem por isso deixo de respeitá-los.
Fui surpreendido, em março deste ano, com o honroso convite da senhora Presidenta democraticamente eleita pelos brasileiros, Dilma Vana Rousseff, para ocupar o cargo de Ministro de Estado da Justiça.
Imagino que o Senhor não ficou muito feliz e até recomendou à Doutora Ela Wiecko a não comparecer a minha posse. Aliás, não colocou nenhum esquema do cerimonial de seu gabinete para apoiar os colegas que quisessem participar do ato. Os poucos (e sinceros amigos) que vieram tiveram que se misturar à multidão.
A esta altura, nosso contato já era parco e não tinha porque fazer "mimimi" para exigir mais sua atenção. Já estava sentindo que nenhum de nossos compromissos anteriores a sua posse como procurador-geral estavam mais valendo.
O Senhor estava só monologando com sua equipe de inquisidores ministeriais ferozes. Essa é a razão, meu caro amigo Rodrigo Janot, porque não mais o procurei como ministro de forma rotineira. Estive com o Senhor duas vezes apenas, para tratar de assuntos de interesse interinstitucional.
E quando voltei ao Ministério Público Federal, Doutor Rodrigo Janot, não quis mais fazer parte de sua equipe, seja atuando no STF, seja como coordenador de Câmara, como me convidou. Prontamente rejeitei esses convites, porque não tenho afinidade nenhuma com o que está fazendo à frente da Lava Jato e mesmo dentro da instituição, beneficiando um grupo de colaboradores em detrimento da grande maioria de colegas e rezando pela cartilha corporativista ao garantir a universalidade do auxilio moradia concedida por decisão liminar precária.
Na crítica à Lava Jato, entretanto, tenho sido franco e assumido, com risco pessoal de rejeição interna e externa, posições públicas claras contra métodos de extração de informação utilizados, contra vazamentos ilegais de informações e gravações, principalmente em momentos extremamente sensíveis para a sobrevida do governo do qual eu fazia parte, contra o abuso da coerção processual pelo juiz Sérgio Moro, contra o uso da mídia para exposição de pessoas e contra o populismo da campanha pelas 10 medidas, muitas à margem da constituição, propostas por um grupo de procuradores midiáticos que as transformaram, sem qualquer necessidade de forma, em "iniciativa popular".
Nossa instituição exibe-se, assim, sob a sua liderança, surfando na crise para adquirir musculatura, mesmo que isso custe caro ao Brasil e aos brasileiros.
Vamos falar sobre honestidade, Senhor Procurador-Geral da República.
A palavra consta do brocardo citado no título desta carta aberta.
O Senhor não concorda e não precisa mais concordar com minhas posições críticas à atuação do MPF.
Nem tem necessidade de uma aproximação dialógica. Já não lhe sirvo para mais nada quando se inicia o último ano de seu mandato.
Mas, depois de tudo que lhe disse aqui para refrescar a memória, o Senhor pode até me acusar de sincericídio, mas não mais, pois a honestidade (honestitas), que vem da raiz romana honor, honoris, esta, meu pai, do Sertão do Pajeú, me ensinou a ter desde pequeno. Nunca me omiti e não me omitirei quando minha cidadania exige ação.
Procuro viver com honra e, por isto, honestamente, educando seis filhos a comer em pratos Duralex, usando talheres Tramontina e bebendo em copo de requeijão, para serem brasileiros honrados, dando valor à vida simples.
Diferentemente do Senhor, não fiquei calado diante das diatribes políticas do Senhor Eduardo Cunha e de seus ex-asseclas, que assaltaram a democracia, expropriando o voto de 54 milhões de brasileiros, pisoteando-os com seus sapatinhos de couro alemão importado. Não fui eu que assisti uma Presidenta inocente ser enxovalhada publicamente como criminosa, não porque cometeu qualquer crime, mas pelo que representa de avanço social e, também, por ser mulher.
O Senhor ficou silente, apesar de tudo que conversamos antes de ser chamado a ser PGR. E ficou aceitando a pilha da turma que incendiava o País com uma investigação de coleta de prova de controvertido valor.
Eu sou o que sempre fui, desde menino que militou no Movimento Revolucionário 8 de Outubro. E o Senhor? Se o Senhor era o que está sendo hoje, sinto-me lesado na minha boa fé (alterum non laedere, como fica?). Se não era, o que aconteceu?
"A Lava Jato é maior que nós"?
Esta não pode ser sua desculpa. Tamanho, Senhor Procurador-Geral da República, é muito relativo. A Lava Jato pode ser enorme para quem é pequeno, mas não é para o Senhor, como espero conhecê-lo. Nem pode ser para o seu cargo, que lhe dá a responsabilidade de ser o defensor maior do regime democrático (art. 127 da CF) e, devo-lhe dizer, senti falta de sua atuação questionando a aberta sabotagem à democracia. Por isso o comparei a Pilatos. Não foi para ofendê-lo, mas porque preferiu, como ele, lavar as mãos.
Mas fico por aqui. Enquanto trabalhei consigo, dei-lhe o que lhe era de direito e o que me era de dever: lealdade, subordinação e confiança (suum cuique tribuere, não é?). E, a mim, o Senhor parece também ter dado o que entende ser meu: a acusação de agir desonestamente. Não fico mais triste. A vida nos ensina a aceitar a dor como ensinamento. Mas isso lhe prometo: não vou calar minha crítica e, depois de tudo o que o Senhor conhece de mim, durma com essa.
Um abraço sincero daquele que esteve anos a fio a seu lado, acreditando consigo num projeto de um Brasil inclusivo, desenvolvido, economicamente forte e respeitado no seio das nações, com o ministério público como ativo parceiro nessa empreitada.
"A perseguição é um atentado contra a democracia. Ela abre um precedente perigosíssimo para que a justiça seja utilizada para calar jornalistas que buscam revelar os crimes cometidos por instâncias de poder", diz nota da entidade
Por Jornal GGN
Enquanto escrevo essas linhas, simultaneamente ouço o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo pela TVT.
Seguindo a linha do seu atual padrinho eleitoral, Celso Russomanno não compareceu assim como o líder nas pesquisas Bruno Covas.
A verdadeira razão dessas linhas é a percepção deprimente, minha em particular, da situação das pessoas que estão em certas igrejas onde a pessoa que assume o altar pronuncia-se: "O meu candidato é o fulano".
Assim fazem por conta da Lei Eleitoral, e então é passado o recado. "Se o meu líder espiritual vota em fulano eu também voto!"
Tem um fulano desses que é ligado ao partido que é ligado a uma igreja, acho que todos sabem quem é. Ele está disputando a prefeitura de São Paulo pela terceira vez recebendo esse apoio.
Falo com propriedade, afinal estive ali por 25 anos. Afirmo que é deprimente porque sei muito bem que é assim que funciona a dinâmica de conquista de votos dentro da igreja, assim como outras diversas técnicas.
A pergunta que fica é; o por que, e para que esconder essa ligação?
Patrícia Lélis em seu Twitter @lelispatricia traz detalhes de seu pesadelo quando sobreviveu entre lobos.
No dia da prisão do presidente nacional do PSC, pastor Everaldo, sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, a antiga correligionária escreveu parte do que viveu ali.
Quem acompanhou e acompanha essa violência, que poderia até terminar em feminicídio, sabe que tem ainda muitos outros capítulos; O vídeo desmentindo, o cárcere, retenção de celular, processo...
Antes dessa prisão, por entre outros desvios, na Saúde em plena pandemia, poucos acreditariam.
Segue o fio
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Já que finalmente a justiça bateu na porta do Pastor Everaldo eu vim esclarecer algumas coisas que eu vivenciei dentro do PSC. Toda a perseguição do PSC comigo tem um motivo: Eu peguei arquivos do PSC que comprovam lavagem de dinheiro nas igrejas do Everaldo/Feliciano.
Como vcs sabem eu nasci e cresci dentro de igreja evangélica (bem tóxico, inclusive) e o PSC não tinha muita representatividade feminina, já que a Sara Winter não era nada querida entre as pessoas por não se encaixar nos padrões e nunca realmente ter cursado uma universidade...
O Feliciano estava MUITO decidido a prejudicar a UNE e principalmente a Carina Vitral, a razão eu nunca consegui entender muito bem e bom, eu também não poderia questionar muito e se questionasse como fiz, a primeira reposta que tive do próprio Feliciano foi: "Faça teu trabalho".
Agora sobre o Feliciano: Logicamente eu já me sentia desconfortável perto dele, mas sempre achava que era coisa da minha cabeça, na época eu pensava: "Como um pastor casado, com a idade pra ser meu pai poderia estar tentando ter algo sexual comigo?"
Até que um dia, a Denise Assunção (secretaria do PSC) sentou comigo para tomar um café e na conversa me perguntou o que eu achava do Feliciano e eu fiquei tipo: "Oi?", depois eu entendi que ela era a pessoa que chegava nas mulheres a pedido do Feliciano...
Depois dessa conversa eu passei a evitar ficar apenas com ele, fosse no gabinete, em alguma sala do PSC... e ele percebeu que eu estava o evitando.
Uma semana após a audiência sobre a CPI da UNE, Feliciano me avisou que teria uma reunião no apartamento funcional dele (asa norte), o que não era nada estranho e diversas reuniões aconteciam lá, principalmente reuniões estratégicas em que ele era o responsável pela pauta.
Segundo ele, por segurança e privacidade de conversas e organização de pautas, ele preferia fazer as reuniões no apartamento funcional. Eu fui acreditando que seria como qualquer outra reunião, mas não foi. Ele abriu a porta e estava apenas ele no apartamento.
Mandei msg no grupo do partido perguntando aonde todos estavam e apenas uma pessoa me respondeu dizendo que não sabia da reunião... na hora questionei o Feliciano e ele disse que a reunião tinha mudado de dia mas que ele queria conversar comigo e me pediu para sentar...
O sofá na dela dele era em formato de "L", sentei em uma ponta e ele na outra, falamos sobre a UNE por alguns minutos e após ele começou a me perguntar se eu tinha reparado que ele estava tentando se aproximar de mim, demonstrando interesse... e aí começou a briga.
Eu fiquei brava com a situação e comecei a enfrentá-lo dizendo que então todos os boatos sobre ele com outras mulheres (e mulheres menores de 18) era verdade, na hora eu tentei abrir a porta e sair mas estava trancada e foi quando conheci o lado violento do Feliciano.
Quando ele entendeu que eu iria sair dali e contar ao Everaldo o que aconteceu. Ele ficou bravo e me agrediu, pegou uma faca na cozinha, me pediu para tirar a roupa, eu joguei um vaso de flores nele que quebrou ele me puxou para o quarto e me chutou, bateu e abusou.
Depois de mais de 2 horas ele se acalmou, beijou a minha testa e me disse "Vá e não peques mais", naquele momento eu já estava fora de mim.
Sem saber o que fazer, eu não me lembro exatamente de nada do momento em que vesti minha roupa e desci para o meu carro.
Eu não sei por quantas horas eu fiquei sentada dentro do carro, até hoje os detalhes para mim são difíceis. Eu me lembro de receber uma ligação do pastor Everaldo pedindo algo que ele não estava achando e aí eu disse que precisava conversa com ele, então eu dirigi até a Câmara.
Isso era dia de semana, já estava no fim da tarde... eu sentei na porta do pastor Everaldo e o esperei. Eu estava machucada e a própria Denise me perguntou o que aconteceu, e eu disse "o Feliciano..." e então ela entrou na sala do Everaldo e ficou lá por horas
Após HORAS de espera o Everaldo abriu a porta para mim, sentei, ele me deu água e antes mesmo que eu pudesse falar ele já disse "eu falei com o Feliciano, mas vc precisa entender que isso não é nada sério e você anda muito bonita por aí", eu fiquei ainda mais em choque.
Eu disse que aquilo não era certo, que não era culpa minha, deixei claro que buscaria ajuda. Então o Everaldo me OFERECEU dinheiro sem a menor vergonha, ele me perguntou quanto eu queria para ir para casa, dormir e voltar no dia seguinte ao trabalho. Eu estava em choque!
Eu não sabia o que fazer, estava com medo de contar aos meus pais (grande erro, quando eles descobriram foram eles quem denunciaram, confiem nos pais de vcs), eu estava com medo. Fui pra casa não sei como, não sei como consegui dirigir, no outro dia eu não conseguia ir trabalhar.
Após eu ter falado com o Everaldo o Feliciano me mandou essa mensagem. E essa foi a última mensagem que eu respondi a ele. Como eu ainda consegui responder? Não sei.
Eu não sabia mais quem eu era o que estava acontecendo.
Eu me lembro de passar a noite vomitando, sem dormir. No outro dia minha mãe ao ver os machucados me perguntou o que aconteceu, eu disse que tinha caído na faculdade. Eu parei de ir trabalhar e as pessoas começaram a questionar o pq eu não estava mais indo...
E aí eu descobri que o Feliciano estava dizendo para todos que perguntavam que ele tinha me afastado do trabalho, PQ EU TINHA TENTANDO TER ALGO COM ELE, ou seja, já estava me colocando como a puta da história, típico.
Nessa confusão o Feliciano por me conhecer sabia que uma hora eu iria acabar falando, então todo dia ele mandava alguém falar comigo... Incluindo a então ministra Damares e a "psicóloga" Marisa Lobo, a que defende a cura gay...
O meu maior erro nessa época foi que eu acreditava que esse tipo de coisa deveria ser resolvida dentro do grupo, para não escandalizar a igreja. Mas aí um dia eu entendi que todos ali iriam tentar abafar o caso.
Nisso, eu entendi muito bem a merda que era o partido e todos ali, então eu só tinha uma alternativa: Me fortalecer. Voltei na Câmara, peguei arquivos de lavagem de dinheiro nas igrejas e comecei a me proteger de todas as ameaças que comecei a receber.
Todos esses arquivos eu entreguei ao MP, na época do caso. E se e uma coisa que eu posso dizer é: Esse povo é perigoso e bandido!
Coordenada por Wilson Ramos Filho, o Xixo, Mírian Gonçalves, Maria Inês Nassif e Hugo Melo Filho, a obra reúne textos de 23 autores de várias áreas, desde juristas, passando por economistas, ex-ministros, até jornalistas e sociólogos. A editora Tirant Lo Blanch e o Instituto Declatra disponibilizaram a obra em formato e-book para download gratuito.
O Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (iDeclatra) lançou mais uma obra: o livro Relações Indecentes. O livro editado pela Tirant Lo Blanch, parceira do instituto, tem 190 páginas e é uma coletânea de artigos de renomados profissionais de diversas áreas de atuação. Eles analisam os fatos revelados pela série "Vaza Jato", do The Intercept Brasil, além das relações entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A obra, coordenada por Wilson Ramos Filho, o Xixo, Mírian Gonçalves, Maria Inês Nassif e Hugo Melo Filho, reúne textos de 23 autores de distintas atuações, desde juristas, passando por economistas, ex-ministros, até jornalistas e sociólogos.
A editora Tirant Lo Blanch e o Instituto Declatra disponibilizaram a obra em formato e-book para download gratuito.
"Os últimos artigos colhidos para esse livro foram escritos nos estertores do ano de 2019, quase um ano depois da ascensão de Bolsonaro ao poder. É uma continuação de Relações Obscenas, editado em setembro do ano passado com a ideia de documentar, para a história, a verdade escrita pela VazaJato", diz trecho do prefácio, assinado pela jornalista Maria Inês Nassif.
Capítulos
O livro é dividido em seis eixos principais: a subversão do direito, o poder de destruir um país, o poder de destruir pessoas, aliança com a mídia e o uso da religião. Os textos dos intelectuais convidados analisarão temas como a imprudência inconstitucional, os efeitos da operação Lava Jato na economia brasileira, as ironias de procuradores com a morte de Marisa Letícia, o reposicionamentos dos "jornalões" brasileiros com a Vaza Jato, entre outros.
"Sérgio Moro demonstrou, ao trair Bolsonaro, que não mudou seus padrões éticos ao abandonar a toga. Este livro mostra também isso, ao analisar a segunda etapa de publicações do The Intercept Brasil, mas também ao mostrar como se davam as relações entre o presidente e o agora ex-ministro da Justiça. O Instituto Declatra avança na sua missão de registro histórico dos fatos para que futuros pesquisadores possam compreender o que se passa no Brasil nos últimos anos. Mas também é uma obra imprescindível para quem deseja, agora, entender o acontece em nosso País", explica o presidente do Instituto Declatra, Wilson Ramos Filho, o Xixo, um dos coordenadores do livro.
"Relações Indecentes" também segue a linha de registro histórico dos demais livros lançados com o selo do Instituto Declatra: A série da Enciclopédia do Golpe de 2016 – que aborda o papel das instituições na trama que derrubou Dilma Rousseff da Presidência da República – ou ainda a coleção da "Resistência ao Golpe", são alguns de exemplos das produções do Instituto neste sentido e que foram publicadas em séries.
Os últimos artigos colhidos para esse livro foram escritos no final do ano de 2019, quase um ano depois da ascensão de Bolsonaro ao poder. "É uma continuação de Relações Obscenas, editado em setembro do ano passado com a ideia de documentar, para a história, a verdade escrita pela VazaJato", diz trecho do prefácio, assinado pela jornalista Maria Inês Nassif.
Autores
A lista de autores é grande e variada. Fazem parte da seleção: Jessé de Souza, Eugenia Gonzaga, Luís Nassif, Pedro Pulzatto Peruzzo, Vinicius Gomes Casalino, Lênio Streck, José Cardoso, Marco Aurélio de Carvalho, Tânia Oliveira, Mariana Velloso, Rosa Maria Marques, Marília Guimarães, Elika Takimoto, José Geraldo, Everaldo Gaspar de Andrade, Cristiane Cordeiro, Simone Schreiber, Franklin Martins, Bia Barbosa, Marcelise Azevedo, Rute Noemi Souza, Hugo Melo Filho e Anjuli Tostes.
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Fonte: lulalivre.org.br
Ana Flavia Marx e PHA no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé Foto: Alexandre Salazar |
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