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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O legado de Hugo Chávez e a Venezuela atual

 






Por Kátia Alves Fukushima[1]

No dia 05 de março de 2023, completaram-se dez anos da morte de Hugo Chávez. Então, recebi o convite para escrever sobre o legado de Chávez e os desdobramentos na política da Venezuela, um dos temas que tem ocupado minha agenda de pesquisa há um tempo[2]. A grande dificuldade de se analisar a situação venezuelana são as informações enviesadas com as quais nos deparamos, sejam aquelas pró-governo ou aquelas que seguem a mídia hegemônica atribuindo à figura de Hugo Chávez todos os males do país e, quiçá, do mundo.      

Coincidentemente, me deparei com um artigo de Margarita López Maya (2023) que me chamou muito a atenção: a autora reduz o legado do governo de Hugo Chávez ao que seria “uma nova forma de autoritarismo sob Nicolás Maduro”. Ela afirma que a forma com que Chávez exerceu o poder, desde o seu primeiro mandato, deteriorou as “instituições democráticas liberais”, o que explica, em sua visão, a “deriva autoritária de Maduro”.      

Análises semelhantes apresentam os mandatos de Chávez e de Maduro como um único governo, como a de Norris e Inglehart (2019, p. 415) que na ânsia de classificarem Chávez como líder autoritário-populista, afirmam que “na Venezuela, Hugo Chávez prometeu redistribuição de riqueza, reforma agrária e uso das receitas do petróleo do Estado para subsidiar os padrões de vida, mas o país experimentou um declínio econômico drástico”. No entanto, este declínio econômico drástico ocorre somente no governo de Nicolás Maduro.

Essas análises são problemáticas por, no mínimo, três razões. Primeiro, ainda que Chávez e Maduro sejam figuras de um mesmo projeto político, ligados à chamada Revolução Bolivariana e ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), reduzir o governo Chávez e o que ele representou, única e exclusivamente, ao governo Maduro e à atual crise venezuelana, é a meu ver, uma análise reducionista, pois perde de vista, a complexidade e a contextualização do processo político em que eles se inserem. Segundo, a ideia de deterioração das instituições democráticas liberais me remete a duas questões: de que instituições democráticas estamos falando? A deterioração dessas instituições já não começou antes do próprio governo Chávez? Por fim, diante da crise venezuelana, é fácil colocar a culpa somente no governo e afirmar que este fracassou, mas qual foi o papel da oposição nesse processo?

Isto posto, busco argumentar nesse breve artigo que, primeiro, para entendermos o governo e o legado de Hugo Chávez, bem como a situação da Venezuela hoje, se faz necessário olhar (não só) para os erros, limites e contradições desses governos, mas também para o papel da oposição. Isso porque há uma lacuna nas análises sobre os governos de Chávez e de Maduro ao ignorarem as ações da oposição que, a meu ver, contribuíram para o acirramento da crise política e econômica no país, ao atuar enquanto “oposição desleal” ao longo dos governos de Chávez (1999-2013) e de Maduro (2013 – atual), na medida em que, para além de se contrapor ao governo dentro das regras do jogo, se colocou como uma ameaça à própria democracia.

Em segundo, defendo que analisar a democracia venezuelana, ou melhor, as democracias na América Latina, a partir de uma concepção de democracia liberal no seu sentido mais restrito aos procedimentos e, portanto, à arena eleitoral, é problemático. Isso porque, com essa visão restrita, perde-se de vista um importante processo de disputas de narrativas entre uma cultura hegemônica excludente e um conjunto de vozes até então marginalizadas, advindas de um processo de lutas dos movimentos sociais por democracias participativas e inclusivas e que, em distintos graus, ganharam espaço durante os governos de esquerdas. Neste aspecto, as reações a estes governos estão relacionadas mais a essa disputa de narrativas – diante de uma ameaça a essa cultura hegemônica – do que, de fato, aos erros destes governos.


Governo Chávez: o que representou e qual seu legado?

Hugo Chávez governou a Venezuela por 14 anos (1999-2013), tendo sido eleito com 55% dos votos para mais um mandato (2013 a 2019) que, todavia, vítima de uma enfermidade, faleceu antes de tomar posse. Durante esse período, Chávez apresentou significativa legitimidade perante a população, demonstrada pelas sucessivas vitórias entre eleições e referendos (vencendo 15 processos eleitorais dos 16 realizados durante seus mandatos).

Vale lembrar que Chávez se insere no chamado giro à esquerda, ou maré rosa (Panizza, 2006), no final do século XX e início do século XXI, em que várias lideranças e partidos de esquerda e centro-esquerda assumiram o poder em diversos países da América Latina. Chávez ascendeu ao poder dentro das regras da democracia liberal, em um contexto de crise do sistema político venezuelano[3] e deslegitimação dos partidos tradicionais, Ação Democrática (AD) e o Comité de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI), que se alternavam no poder no chamado “sistema populista de conciliação de elites” (Rey, 1998). Seu governo não conseguiu implementar mudanças estruturais, que verdadeiramente ameaçassem o sistema capitalista, e nem superar a economia rentista, com base nos recursos do petróleo. No entanto, por si só, representou, em um país historicamente governado por forças oligárquicas e conservadoras, uma mudança na ordem institucional, ao mudar o bloco no poder e construir uma nova hegemonia. A ruptura com o status quo até então vigente gerou em torno do governo um constante embate com setores oposicionistas – partidos, setores empresariais e midiáticos.

Uma das primeiras medidas de Chávez ao assumir o poder presidencial da Venezuela foi convocar uma Constituinte e promulgar uma nova Constituição com aprovação popular por meio de referendo. Podemos dizer que a Constituição de 1999 é um dos principais legados de Chávez e, com ela, o debate sobre a concepção de democracia para além de seus aspectos procedimentais. A Carta Magna apresenta uma série de mecanismos de inclusão e participação, como a garantia de três cadeiras na Assembleia aos povos indígenas e os mecanismos de consultas populares e iniciativa de leis, além do referendo revogatório – instrumento importante, nas mãos dos cidadãos, que permite revogar o mandato de todos os cargos de eleição popular. Ainda que, como aponta López Maya (2023), esta Constituição tenha sido resultado de um amplo debate social, político e institucional que vem desde a década de 1980, dar respaldo as ideias de democracia participativa neste processo não é pouca coisa[4].

Destaco também as chamadas Missões Bolivarianas – uma série de políticas sociais – que, sem ignorar os problemas internos de gestão, promoveram avanços significativos na vida dos venezuelanos no que se refere ao acesso à educação, saúde e emprego, reduzindo, assim, as taxas de pobreza e desigualdade no país. A pobreza, por exemplo, que atingia 49,4% em 1999, se viu reduzida a 29,5% em 2011. No mesmo período, a taxa de indigência diminuiu de 21,7% para 11,7%. No intervalo da crise do governo com a oposição, a taxa de desemprego alcançou, no ano de 2003, 18%. Após esse período e, justamente, quando se iniciaram as Missões Bolivarianas, a taxa de desemprego começou a cair expressivamente, chegando a 8% em 2012. A redução da desigualdade foi significativa comparada aos outros países da América Latina, como podemos verificar no índice de Gini[5], em que a média dos países latino-americanos foi de 0,512 em 2010 e a Venezuela, no mesmo ano, estava abaixo dela com 0,394 – quanto mais próximo de zero, menos desigual.

Essas Missões somadas às políticas de estímulo à participação, com a criação de instituições participativas, como os Conselhos Comunais, constituíram o eixo do projeto político chavista. Para tanto, o Estado assumiu, neste período, o papel central na promoção dos direitos sociais, bem como na regulação das relações econômicas.

Mesmo que muitas políticas adotadas pelo governo tenham representado a “cooptação” da população para reverter em apoio político à figura de Chávez, os dados mostram que produziram resultados positivos para os venezuelanos, em especial para os grupos marginalizados. Ademais, se partimos da premissa da função educativa da participação – “Quanto mais os indivíduos participam, melhor capacitados eles se tornam para fazê-lo” (Pateman, 1992, p. 61) – podemos afirmar que a presença desses mecanismos participativos pode contribuir para o aperfeiçoamento da participação popular. Assim, apesar das contradições presentes nas instituições participativas, podemos afirmar que a ideia de participação foi internalizada na vida social, institucional e psicológica dos venezuelanos – outro legado do governo Chávez.

Todavia, tais políticas, como a literatura demonstrou, estavam imersas na polarização política e social entre governo e oposição presente durante todo o governo Chávez. Parte deste embate, como mencionei, se relaciona à disputa de narrativas entre aqueles que queriam manter o status quo e, logo, uma cultura excludente, e aqueles que, a partir das políticas de inclusão e participação, passaram a ocupar lugares que não eram considerados seus e a reivindicar uma democracia mais substantiva, gerando um constrangimento naqueles que sempre tiveram o privilégio de estarem nestes lugares. Setores abastados começam a se sentir ameaçados e, logo, vão aceitar qualquer alternativa que mantenha o seu status quo, ainda que essa opção represente a quebra da própria democracia, apoiando, por exemplo, uma oposição desleal.

Mas, como disse, não pretendo minimizar os erros do governo. Vários fatores contribuíram ou acirraram para o descontentamento de vários setores e abriram espaços para a atuação de uma oposição desleal, como a concentração do poder no Executivo. A adoção da reeleição indefinida também foi um grande erro do governo Chávez, e que tem sido um tiro no pé de muitas lideranças que têm buscado esse caminho. Tal medida, a meu ver, enfraquece tais governos, pois ao ficar dependente de uma única liderança, não contribui para a formação de quadros fortes no interior dos partidos.


Oposição “Desleal”

Como argumentei, não é possível analisar a crise venezuelana somente a partir dos governos chavistas sem dar atenção ao papel da oposição política e econômica, que se converteu em uma “oposição desleal” ao longo dos governos de Chávez e de Maduro.

A “oposição desleal”, segundo Linz (1991), constitui-se em partidos e/ou grupos de interesses que promovem ação conjunta com fins desestabilizadores para derrubar o governo, sem nenhuma possibilidade de constituir uma nova maioria. De acordo com o autor, não é improvável que, diante de uma oposição desleal e dos perigos que esta pode causar, o governo, buscando salvar o regime, caminhe em uma direção autoritária. No limite, estas ações podem levar à queda de presidentes ou ao fechamento do governo em direção ao autoritarismo.

Quando Chávez começou, de fato, a implementar as políticas que havia anunciado em sua campanha eleitoral, muitos setores começaram a se sentir ameaçados, dentre os quais, podemos citar: os partidos de oposição, setores empresariais (representados pela Fedecámaras – Federação Venezuelana de Câmaras de Comércio e Produção); setores midiáticos (ligados aos jornais e redes de televisão: El Nacional, El Universal, Globovisión, RCTV, Venevisión); lideranças da Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA)[6] e da Confederação dos Trabalhadores da Venezuela (CTV), além de setores da classe média. Dentre as ações promovidas por essa oposição que a converte em desleal, citamos: as paralisações em 2001, o golpe que destituiu Hugo Chávez do poder entre 11 e 14 de abril de 2002, a sabotagem petrolífera entre 2002 e 2003, e o boicote às eleições parlamentares em 2005.

Após o fracasso dessas ações e medidas visando à desestabilização, a oposição à Chávez havia adquirido um caráter mais democrático nos últimos anos de seu governo. Tal estratégia, em muito localizada na união de setores oposicionistas em torno da Mesa de la Unidad Democrática (MUD), levou a uma considerável melhoria nos seus resultados eleitorais. A oposição, neste sentido, não apenas conquistou o poder em estados importantes do país, como tornou reais suas chances de vitória nas eleições presidenciais. A MUD logrou reunir todos os setores descontentes com o governo chavista, criando em torno da candidatura do então governador do estado de Miranda (2008-2012), Henrique Capriles, a personificação do líder anti-Chávez.

No entanto, após a morte de Chávez e a derrota na eleição presidencial de abril de 2013 para Nicolás Maduro, a oposição ficou dividida[7] e alguns setores retornaram ao antigo caminho, não reconhecendo o resultado das eleições e incitando protestos violentos contra o governo – conhecidos como “La Salida” (2014). Houve também um boicote as eleições de 2018 e, em 2019, Juan Guaidó (Voluntad Popular – PV), um dos líderes da oposição, se autoproclamou presidente e passou a defender intervenção estrangeira no país.

A relação entre oposição e governo na Venezuela se constitui em um jogo de soma zero, que leva a um círculo vicioso entre ações antidemocráticas por parte da oposição e o endurecimento por parte do governo. Quem sofre as consequências desse jogo é a população venezuelana. 


Venezuela hoje

Após a morte de Chávez em 2013, Nicolás Maduro – vice-presidente e ex-ministro de Relações Exteriores – foi eleito no mesmo ano com 50,62% dos votos. O governo de Maduro foi marcado por uma grave crise econômica que se instaurou em 2014[8] – com uma das inflações mais altas do mundo, desabastecimento e inseguridade. Uma série de fatores podem explicar a crise política, econômica e social venezuelana, como a dependência do petróleo, as influências internacionais e a inabilidade dos atores governistas de encontrarem soluções para a crise, bem como o papel da oposição ao acirrar ainda mais a polarização e a crise no país.

Neste sentido, entender a Venezuela hoje e a crise política, econômica e social perpassa por quatro dimensões: 1) relação governo e oposição; 2) papel dos militares no governo; 3) distanciamento entre “chavismo burocrático institucionalizado” versus “chavismo popular” e; 4) interesse dos EUA no fim do chavismo.

Como apontamos, a relação entre governo e oposição sempre foi marcada por intensa polarização, constituindo um jogo de soma zero.

O governo Maduro, na luta para se manter no poder, não enfrentou temas centrais para tentar superar a crise econômica, respondendo de modo letárgico aos desafios econômicos do país, especialmente no que diz respeito à necessidade de ajustar os controles de preço e câmbio que se prestam à especulação, contrabando e corrupção (Ellner, 2019, p. 169).

Este último tema, somado à falta de transparência, constitui outro “calcanhar de Aquiles” do governo. Segundo o sociólogo venezuelano Edgardo Lander, durante o governo Maduro houve um aumento da militarização, com a incorporação de membros das Forças Armadas em cargos da administração pública, buscando garantir o apoio dos militares ao governo. Nestes cargos houve níveis mais altos de corrupção, com destaque para as áreas de alocação de divisas, portos e de distribuição de alimentos, gerando uma deterioração dos serviços públicos e, logo, uma crescente rejeição ao governo Maduro.

As dificuldades do governo em solucionar a crise econômica, segundo Oscar Lloreda (2019), se reflete em um distanciamento entre dois grupos, que ele denomina de “chavismo burocrático-institucionalizado” e o “chavismo popular”. Para o autor, “o que unifica hoje ambos os grupos é a existência de um projeto e um horizonte comum, traçado ao longo desses vinte anos. O que os separa, em alguma medida, é a preocupação atual de cada um”. Enquanto o “chavismo burocrático-institucionalizado” tem como objetivo central a sua sobrevivência, ou seja, a manutenção do poder institucional, “o chavismo popular” se concentra mais na viabilidade e na ‘sustentabilidade histórica’ do projeto bolivariano”.

Outro fator que acirra a crise venezuelana são as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos. Desde a ascensão de Hugo Chávez em 1999, as relações entre Venezuela e Estados Unidos se caracterizam por tensões diplomáticas, especialmente      após o golpe de 2002 contra o governo Chávez, liderado pela oposição e com apoio do Governo Bush (2001-2009). Durante o governo Maduro, a relação entre os dois países se acirrou, com a imposição de sanções por parte dos Estados Unidos contra o país[9]. Segundo Bull e Rosales (2023), tais sanções inibiram a capacidade da Venezuela de recuperar-se da crise de 2014, contribuindo para a queda de 80% do PIB per capita registrada entre 2013 e 2021.

Para Lloreda (2019), a estratégia dos Estados Unidos se concentra em asfixiar a economia venezuelana e isolar diplomaticamente o país, apostando no colapso interno a partir de pressões externas, pois o esgotamento do chavismo representaria “que não é viável e nem possível a construção de uma alternativa ao modelo hegemônico”.

Diante do exposto, a conjuntura atual coloca o futuro da Venezuela, com eleições previstas para 2024, como uma incógnita. O que posso dizer é que uma solução mínima para a resolução da crise no país perpassa, primeiro, por um diálogo entre governo e oposição no sentido de entender a presença dos dois atores políticos como parte da política venezuelana; segundo, pela luta por acabar com as sanções impostas pelos Estados Unidos e, terceiro, pela recuperação e aprofundamento dos pontos positivos do governo Chávez, mais precisamente, no que se refere às suas políticas de inclusão e participação que deram voz aos grupos excluídos da política venezuelana. Este último ponto, contudo, esbarra, naqueles que querem manter a democracia restrita à arena eleitoral e, portanto, condizente com as desigualdades e exclusão – debate presente nas crises de outros governos de esquerda latino-americanos.

* Este texto não representa necessariamente a opinião do Boletim Lua Nova ou do CEDEC.


Referências Bibliográficas

Bull, Benedicte e Rosales, Antulio. Cómo las sanciones a Venezuela abrieron paso a un capitalismo autoritario. Nueva Sociedad, no 304, marzo-abril de 2023. Disponível em: <https://nuso.org/articulo/304-sanciones-venezuela-capitalismo-autoritario/>.

Ellner, Steve. “Class Strategies in Chavista Venezuela: pragmatic and populista policies in a broader context”. Latin American Perspectives, Issue 224, Vol. 46 No. 1, January, 2019. p. 167–189. DOI: 10.1177/0094582X18798796

Fukushima, Kátia A. A política social do Governo Chávez: quais os avanços? Revista Mural Internacional, v. 9, p. 99-121, 2018.

Fukushima, Kátia Alves. O governo Chávez e a luta pelo poder na Venezuela: uma análise dos atores políticos em conflito. Dissertação (Mestrado em Ciência Política). São Carlos: UFSCar, 2010.

Fukushima, Kátia Alves. Os impasses à democracia participativa nos governos de esquerda: os casos do Brasil, do Chile e da Venezuela. Colombia Internacional, v. 98, p. 105-135, 2019.

Fukushima, Kátia Alves; González Durand, Jorge. Venezuela Hoje: entre a polarização política, as sanções dos EUA e a pandemia do Coronavírus. A terra é redonda, 2020.

Linz, Juan J. La quiebra de las democracias. Argentina: Alianza Estudio, 1991.

Lloreda, Oscar. “Ni Geopolítica, ni petróleo: Lo de Venezuela es un acto ejemplarizante”. Foro de Comunicación para la Integración de NuestrAmérica (FCINA), 2019. https://www.alainet.org/es/articulo/198091.

López Maya, Margarita. Autoritarismo, izquierdas y democracia participativa en Venezuela. Nueva Sociedad, no 304, marzo-abril de 2023. Disponível em: <https://nuso.org/articulo/304-autoritarismo-izquierdas-democracia-participativa-venezuela/>.

Norris, Pippa; Inglehart, Ronald. Cultural Backlash: Trump, Brexit, and Authoritarian Populism. Cambridge: Cambridge University Press, Panapo, 2019.

Panizza, Francisco. La marea rosa. Análise de Conjuntura, OPSA, n°8, 2006.

Pateman, Carole. Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

Rey, Juan Carlos. El futuro de la democracia en Venezuela. Caracas: Universidad Central de Venezuela, 1998.

Serrano, Rafael Quiroz. Meritocracia Petrolera. ¿Mito o Realidad? Caracas: 2003.


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[1] Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora Adjunta do Departamento de Ciência Política – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). E-mail: kafukushima.politica@gmail.com.

[2] Este texto apresenta ideias já desenvolvidas em outros trabalhos da autora (Fukushima, 2010; 2018; 2019; 2020).

[3] Ao longo da década de 1990, houve expressivo aumento da taxa de pobreza na Venezuela, alcançando em 1999 um total de 49,4%. A taxa de indigência subiu de 14,4% em 1990 para 21,7% em 1999. Os gastos sociais que eram 10,06% do PIB foram reduzidos a 7,3% em 1996. As informações podem ser conferidas no sítio da CEPAL.

[4] Basta olharmos a situação no Chile, que ainda permanece sob uma Constituição advinda da ditadura e que é extremamente restritiva quanto à participação popular.

[5] O índice de Gini vai de 0 a 1, em que 1 representa a máxima desigualdade e 0 a perfeita igualdade. Esta descrição, e  a estatística apresentada na sequência do texto, estão disponíveis no sítio da CEPAL, seguindo pelo menu: Demográficos y sociales > Distribución del ingreso > Índice de concentración de Gini.

[6] A PDVSA, embora, uma empresa estatal, atuava, antes do governo Chávez, como um Estado dentro do Estado (Serrano, 2003).

[7] A despeito dessa cisão, a oposição venceu as eleições parlamentares de 2015, alcançando uma maioria qualificada com 2/3 das cadeiras legislativas. Após a posse, a primeira medida da oposição foi retirar da parede do Parlamento os quadros de Chávez e de Bolívar ou de qualquer vestígio que representasse a hegemonia chavista, adotando uma “política de ressentimento”.

[8] De acordo com a projeção do Banco Mundial, o PIB da Venezuela caiu 17,7% em 2018, com previsão de queda de 25% em 2019, o que implicaria em uma queda acumulada de 60% desde 2013.

[9] Dentre as ações promovidas pelos Estados Unidos contra a Venezuela, podemos citar a apreensão ou confisco de bens e contas do Estado venezuelano no exterior; o bloqueio de transações financeiras relacionadas à Venezuela e; o reconhecimento de um governo interino.

Fonte Imagética: Wikimedia Commons. El pueblo venezolano acompañó los restos de su presidente Hugo Chávez Frías en la Academia Militar. 8 mar. 2013. Fotografia de Cancillería Ecuador.


Fonte: boletimluanova.org

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Baixe aqui: Livro "Relações Indecentes" evidencia a relação entre Moro, Bolsonaro e a mídia


Os fatos revelados pela série "Vaza Jato", publicada pelo The Intercept Brasil, além das relações entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, são o tema do livro "Relações Indecentes" (ed. Tirant Lo Blanch), lançado pelo Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (iDeclatra).


Coordenada por Wilson Ramos Filho, o Xixo, Mírian Gonçalves, Maria Inês Nassif e Hugo Melo Filho, a obra reúne textos de 23 autores de várias áreas, desde juristas, passando por economistas, ex-ministros, até jornalistas e sociólogos. A editora Tirant Lo Blanch e o Instituto Declatra disponibilizaram a obra em formato e-book para download gratuito.

Baixe o livro aqui

O Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (iDeclatra) lançou mais uma obra: o livro Relações Indecentes. O livro editado pela Tirant Lo Blanch, parceira do instituto, tem 190 páginas e é uma coletânea de artigos de renomados profissionais de diversas áreas de atuação. Eles analisam os fatos revelados pela série "Vaza Jato", do The Intercept Brasil, além das relações entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro.

A obra, coordenada por Wilson Ramos Filho, o Xixo, Mírian Gonçalves, Maria Inês Nassif e Hugo Melo Filho, reúne textos de 23 autores de distintas atuações, desde juristas, passando por economistas, ex-ministros, até jornalistas e sociólogos.

A editora Tirant Lo Blanch e o Instituto Declatra disponibilizaram a obra em formato e-book para download gratuito.


"Os últimos artigos colhidos para esse livro foram escritos nos estertores do ano de 2019, quase um ano depois da ascensão de Bolsonaro ao poder. É uma continuação de Relações Obscenas, editado em setembro do ano passado com a ideia de documentar, para a história, a verdade escrita pela VazaJato", diz trecho do prefácio, assinado pela jornalista Maria Inês Nassif. 


Capítulos

O livro é dividido em seis eixos principais: a subversão do direito, o poder de destruir um país, o poder de destruir pessoas, aliança com a mídia e o uso da religião. Os textos dos intelectuais convidados analisarão temas como a imprudência inconstitucional, os efeitos da operação Lava Jato na economia brasileira, as ironias de procuradores com a morte de Marisa Letícia, o reposicionamentos dos "jornalões" brasileiros com a Vaza Jato, entre outros.


"Sérgio Moro demonstrou, ao trair Bolsonaro, que não mudou seus padrões éticos ao abandonar a toga. Este livro mostra também isso, ao analisar a segunda etapa de publicações do The Intercept Brasil, mas também ao mostrar como se davam as relações entre o presidente e o agora ex-ministro da Justiça. O Instituto Declatra avança na sua missão de registro histórico dos fatos para que futuros pesquisadores possam compreender o que se passa no Brasil nos últimos anos. Mas também é uma obra imprescindível para quem deseja, agora, entender o acontece em nosso País", explica o presidente do Instituto Declatra, Wilson Ramos Filho, o Xixo, um dos coordenadores do livro.


"Relações Indecentes" também segue a linha de registro histórico dos demais livros lançados com o selo do Instituto Declatra: A série da Enciclopédia do Golpe de 2016 – que aborda o papel das instituições na trama que derrubou Dilma Rousseff da Presidência da República – ou ainda a coleção da "Resistência ao Golpe", são alguns de exemplos das produções do Instituto neste sentido e que foram publicadas em séries.

Os últimos artigos colhidos para esse livro foram escritos no final do ano de 2019, quase um ano depois da ascensão de Bolsonaro ao poder. "É uma continuação de Relações Obscenas, editado em setembro do ano passado com a ideia de documentar, para a história, a verdade escrita pela VazaJato", diz trecho do prefácio, assinado pela jornalista Maria Inês Nassif.


Autores

A lista de autores é grande e variada. Fazem parte da seleção: Jessé de Souza, Eugenia Gonzaga, Luís Nassif, Pedro Pulzatto Peruzzo, Vinicius Gomes Casalino, Lênio Streck, José Cardoso, Marco Aurélio de Carvalho, Tânia Oliveira, Mariana Velloso, Rosa Maria Marques, Marília Guimarães, Elika Takimoto, José Geraldo, Everaldo Gaspar de Andrade, Cristiane Cordeiro, Simone Schreiber, Franklin Martins, Bia Barbosa, Marcelise Azevedo, Rute Noemi Souza, Hugo Melo Filho e Anjuli Tostes.

Acesse a página da Defesa Da Classe Trabalhadora  


Fonte: lulalivre.org.br

quarta-feira, 6 de março de 2019

É hora dos Estados Unidos invadirem os Estados Unidos


Por: Martín Pastor























Sob a égide da "ajuda humanitária" e da luta pela "democracia", os Estados Unidos justificaram dezenas de intervenções militares e políticas no mundo durante os séculos XX e XXI. Em sua campanha mais recente, eles se concentraram na Venezuela, como parte de uma estratégia para minar governos progressistas na região.


Com a manipulação da mídia coordenada, bloqueio econômico e pressão diplomática tendeu ofensiva imperialista contra a nação latino-americana por mais de uma década. Rotularam o governo venezuelano como uma "ditadura", apresentando-o como um "Estado falido" mergulhado no caos social, com altos índices de pobreza, desnutrição e insegurança; argumentando que a causa é o modelo progressivo e não fatores exógenos, como o bloqueio internacional ou o descrédito.

Para os Estados Unidos e grande parte do Ocidente, estes são motivos suficientes para justificar uma intervenção política e diplomática, que deve ser militar. Então, se estes são gatilhos para intervir, é hora de os Estados Unidos, em defesa dos direitos humanos e da democracia, tomarem a iniciativa de invadir seu próprio país.

A situação na América do Norte é altamente preocupante e classifica a nação como uma receptora adequada de "ajuda humanitária" feita nos EUA. De acordo com um relatório por Philip Alston , relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a pobreza extrema e direitos humanos revelou-se que até 2018, 40 milhões de pessoas no Estados Unidos vivem na pobreza, 18,5 milhões vivem em extrema pobreza e Mais de cinco milhões vivem em condições de absoluta pobreza.

O país tem a mais alta taxa de pobreza juvenil da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a maior taxa de mortalidade infantil entre os estados comparáveis ​​nesse grupo. Não é surpresa que Alston tenha considerado o país como a sociedade mais desigual do mundo desenvolvido.

Nem é que os Estados Unidos não podem mais ser chamados de nação de "primeiro mundo". Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), para a maioria de seus cidadãos, aproximadamente 80% da população, os Estados Unidos são uma nação comparável ao "terceiro mundo".

Para chegar a essa conclusão, os economistas aplicaram o modelo de Arthur Lewis, vencedor do Prêmio Nobel de Economia (1979), projetado para entender quais fatores e como classificar um país em desenvolvimento.

De acordo com Peter Temin, co-autor do estudo, o Estados Unidos se reúne este modelo é uma economia dual (diferença única entre uma pequena parte da população e a grande maioria), onde o baixo - sector assalariado tem pouca influência sobre a política pública; um setor de alta renda mantém baixos salários no outro setor para fornecer mão de obra barata; um controle social que é usado para impedir que o setor de baixos salários desafie políticas que favoreçam o setor de alta renda; altas taxas de encarceramento; políticas públicas dos setores mais ricos com o objetivo de reduzir impostos para o referido grupo; e uma sociedade onde a mobilidade social e econômica é baixa.

Especialmente quando um dos principais argumentos para justificar as agressões é o suposto 'bem-estar' e os direitos humanos dos cidadãos. Mais uma vez, os americanos deveriam ver o "raio em seus próprios olhos" primeiro.

Segundo uma análise trienal do Commonwealth Fund (2017), os Estados Unidos, pela sexta vez consecutiva, são o pior sistema de saúde entre 11 países desenvolvidos. Eles têm o sistema de saúde mais caro do planeta, com um gasto anual de três bilhões de dólares, o que resultou em um dos países com maior disparidade no acesso à saudação, com base na renda.

Enquanto a expectativa de vida nos Estados Unidos diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, situando-se em 78,1 anos. Uma redução percentual comparável ao período de 1915 e 1918, em que o país enfrentou uma guerra mundial e a pandemia mundial de gripe. Em comparação, Cuba, que faz parte da 'Troika of Tyranny', segundo John Bolton (Assessor de Segurança Nacional), tem uma expectativa de vida de 79,74 anos até 2018.

E na educação, o que falar. De 1990 a 2016, os Estados Unidos caíram do sexto para o vigésimo sétimo, classificando-se como um dos sistemas menos educados do mundo 'desenvolvido'. Com uma despesa pública reduzida, entre 2010 e 2014 de 3%, enquanto o investimento das economias desenvolvidas cresceu mais de 25%.

Um bem-estar de vida deteriorada, um sistema de saúde caro e desigual e uma educação que não se compara a outras nações desenvolvidas. Se isso não for suficiente para que o governo dos EUA e o resto do Ocidente decidam intervir, então as violações constantes dos direitos humanos devem ser uma causa para mobilizar tropas para a fronteira e iniciar bloqueios econômicos.

Os Estados Unidos têm dirigido ou influenciado sistematicamente as intervenções na América Latina e no resto do Sul global. Operações cobertas, guerras étnicas e as mais recentes invasões militares são a prova da 'licença para matar' que foi concedida a este país.

As prisões onde os direitos humanos são violados, como Guantánamo e Abu Ghraib, são apenas exemplos dessa realidade. E figuras como Gina Haspel, que estava diretamente envolvida no programa de tortura do governo dos EUA, subiram para posições de poder global como diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).

Mas a transgressão mais clara é a separação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão internacional encarregado de assegurar que tais violações não ocorram. Uma decisão que veio dias depois do Alto Comissariado para os Direitos Humanos denunciou a prática atual do governo de separar à força crianças migrantes de seus pais e prendê-las, naquilo que só pode ser chamado de campos de concentração modernos.

Internamente, a responsabilidade da polícia pelo uso de força excessiva foi reduzida, especialmente nas comunidades negras e latinas. A morte sistemática de homens negros nos Estados Unidos por essa força de ordem, de acordo com um estudo da Universidade de Boston, reflete um racismo estrutural subjacente na sociedade americana; Isso também se reflete em um sistema de justiça tendencioso contra as comunidades negras.

"Se a polícia patrulhar as áreas brancas como fazem em bairros pobres negros, seria uma revolução", diz Paul Butler, autor de 'Chokehold: Policiamento homens negros', que diz o que significa ser um homem negro na América.

Essas violações dos direitos humanos são a realidade cotidiana das minorias étnicas e dos grupos historicamente discriminados. Isto é acompanhado pelo fortalecimento de grupos com tendências fascistas, que têm o apoio direto e indireto do governo central e local em vários estados. Um cenário preocupante para milhões de negros, latinos e outros cidadãos étnicos.

No entanto, a falsa "preocupação" com a Venezuela, Líbia, Síria, Iraque, Iêmen, Afeganistão e Ucrânia, somente nessas últimas duas décadas, tem guiado invasões e agressões em nome do bem-estar e dos direitos humanos. Ações que por sua vez carregam interesses ocultos baseados em um indicador no qual os Estados Unidos são sim o número um: gastos militares.

Até 2019, este país tem um orçamento militar de mais de 680 bilhões de dólares, mais do que os orçamentos combinados das sete nações que o seguem: China, Rússia, Arábia Saudita, Índia, França, Reino Unido e Japão.

Nem mesmo na liberdade econômica (12 no mundo) são líderes ou crescimento do PIB (147 de 224 países); o que reflete uma realidade. Os Estados Unidos são um império militar, sua economia é baseada na guerra e nenhuma ação tomada em nome da "ajuda humanitária" tem coerência quando o interesse de seu governo é promover o caos em seu benefício.

Diante dessa situação, o que o mundo está experimentando é o "chute de afogamento" de uma superpotência em declínio. É por isso que ele se esforça tanto para se agarrar ao último bastião de influência que permanece na América Latina, em conseqüência de sua fixação com a Venezuela e outras nações da região. Pois, se fosse uma ajuda real, é hora de os Estados Unidos analisarem seriamente a intervenção, com a mesma intensidade, em seu próprio país.

                                           (Tomado de Rebelión)


Fonte: cubadebate.cu

domingo, 8 de outubro de 2017

BOLIVIA-CHE Morales vai descobrir um mural que comemora o 50º aniversário da morte do Che e da Tania




Imagem: ABI



Vallegrande, Bolívia, 8 de outubro (ABI).
O presidente Evo Morales descobrirá no domingo um mural chamado "Che amigo de pueblos" pintado em uma parede do hospital Señor de Malta na cidade de Vallegrande, comemorando os 50 anos da morte de Ernesto Guevara e da guerrilheira Tamara Benke, conhecida como "Tania". 

"A iconografia que representa Che, a campanha e, principalmente, uma homenagem às mulheres guerrilheiras, não pode haver revolução sem a posição feminista, revolucionária no sentido em que representa Tania. Se Che completa 50 anos, Tania também ", disse o pintor do trabalho, o boliviano Freddy Escobar, ao ABI.

Ele explicou que o mural, de aproximadamente 2,5 por 4 metros, também mostra que Che se multiplicou em vários "Evos" para popularizar a ideologia revolucionária. 

O pintor de Cochabamba observou que a arte e a cultura são a ponta de lança de qualquer revolução, porque "não há uma verdadeira revolução sem os seus artistas, nem a arte deles". 

"Usamos uma técnica mista, tanto material, quanto no tema formal, usamos água e óleo, pincel e aerógrafo, técnica de graffiti e mural", acrescentou.

Fonte: ABI


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Paralelo Brasil-Chile, herança do Golpe

As asas do socialismo cobriam a América Latina, quando recebem ventos e furacões vindos do Norte.
Em cadeia, vários países que aspiraram sonhos de uma verdadeira independência e soberania nacional aliados aos seus anseios de firmamento de identidades também nacionais, sofrem então com grandes investimentos dos Estados Unidos, amparados pelas respectivas mídias e elites locais, afim de que se fossem esquecidos quaisquer planos que não fossem alinhados à cartilha de Washington.

Como uma prostituta que chega numa cidade grande sem dinheiro para alimentação e moradia, e mesmo assim encontra quem a banque, porque esse saberá quem determinará se a sua enxoviada virará na rua à esquerda ou à direita.

Segue excelente análise do que foi o Golpe e o que sobrou de dívida para o Chile, serve tudo para o Brasil é só trocar os nomes.


Ilustração @1lxndr


Foto: Hélio Sassen Paz - Réplica do óculos de Allende



Dívida Externa do Chile 
O novo rosto do colonialismo

Claudio Pérsico


 "Há pessoas que continuam vivendo com o peso brutal das dívidas que nos empurraram para obter 75 bilhões de dólares, com essa dívida países em desenvolvimento jamais poderão cumprir os compromissos decorrentes dos requisitos de capital e juros; pessoas com fome, com desemprego, falta de moradia, com ignorância, as massas tem que passar fome para cumprir os compromissos que pairam acima do nosso potencial."

(Salvador Allende, na terceira reunião da UNCTAD, Santiago do Chile, em abril de 1972.)


Há alguns meses atrás, Luis Escobar Cerda, ex-ministro das Finanças do regime militar chileno, confessou que "o crescimento econômico ao longo dos próximos cinco anos é comprometido com o pagamento da dívida externa." Além disso, os números oficiais indicam que o Produto Geográfico Bruto (PGB) entre 1981 e 1985 caiu 5,1%, o que representa uma diminuição média anual de 1%.1 Em Junho de 1985, a imprensa chilena informou o acordos alcançados na renegociação da dívida externa, destacando o fato de que eles foram produzidos em grande parte, pelo desempenho do governo chileno com os ditames de bancos credores.2 Pode-se perguntar como Pinochet tem funcionários para agradar bancos estrangeiros e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em meio a tão acentuada crise como o Chile tem experimentado nos últimos anos.

Certamente responder a essa pergunta envolve uma revisão da política econômica dos últimos anos e descrever as mudanças que ela teve sobre a economia nacional. Nossas próprias limitações e falta de espaço nos impede de fazer tal análise. O objetivo destas notas é elucidar o abertamente reacionário, anti-nacional e prejudicial para os interesses da política econômica do Chile que tem sido impulsionado pela ditadura em lidar com a própria crise de personalidade gerada. Para fazer isso, vamos nos concentrar em um aspecto que nós acreditamos que expressa o caráter de classe das políticas econômicas dos Pinochet. Acreditamos que a contradição posou  numa economia arruinada, com um terço de sua força de trabalho desempregada e atolada em uma recessão profunda, ter que pagar uma dívida que excede o PGB de um ano, resume a situação trágica que tem sido Chile depois de anos de fascismo dependente.

I. A dívida é o legado de Chicago

A crise da dívida não é apenas no Chile, é também na América Latina. Mas o caso chileno tem algumas peculiaridades que devemos apontar:

a) Entre 1975 e 1983, o Chile quase quintuplicou sua dívida externa.

b) A maior parte desta dívida adicional correspondia ao setor privado.

c) O setor privado, foi privilegiado com recursos externos do setor financeiro.

d) A dívida no final de 1984 chegou a 22.610 bilhões de dólares e o PGB de quase 21 bilhões de dólares.

e) O Chile possui atualmente uma dívida per capita de mais de US$ 2.000, e é uma das mais altas do mundo.

f) Os pagamentos de juros são responsáveis ​​por mais de metade do valor total das suas exportações e exceder a renda de cobre, seu principal produto de exportação.

A lógica que permitiu tal dívida é conhecida: Ao Chile foi alegado não gerar a poupança interna necessária para financiar o seu desenvolvimento. Os dólares que foram inundadas desde 1978 na expansão inesgotável para cimentar um milagre que rumava para um estouro, para chegar a todos e torná-lo possível pagar empréstimos às fontes estrangeiras. Esse foi o argumento que incentivou ainda mais a dívida privada porque "se emprestar privado, privado pago", nas palavras do ex-ministro de Pinochet, Miguel Kast. Claro, a história tem mostrado que a dívida privada foi transferida para todos os chilenos.

A TABELA 1 mostra os valores da dívida e do crescimento que experimentou entre 1977 e 1983. A dívida pública ou privada é gravada separadamente e oficialmente garantido dívida privada; Além disso, este último que se diferenciou foram créditos financeiros contraídos. Não devemos esquecer todas as garantias dadas pelo governo chileno para que tal processo ocorresse. Incluindo a manutenção da taxa de câmbio a partir de junho 1979 como no mesmo mês do ano de 1982, foram particularmente importantes.3

Em relação às causas de endividamento da América Latina, há produções acadêmicas consideráveis onde o tema tem sido amplamente discutido.4 Distinguir as causas das enormes dívidas de países latino-americanos parece importante para refletir o fato de que os mecanismos que operam na acumulação de dívidas, posteriormente, condicionou a crise que aconteceu. Como um exemplo, a capital que entrou na América Latina, principalmente superávits financeiros dos bancos transnacionais e, portanto, o seu movimento operaram sob as regras do capital financeiro essencialmente especulativa. O que está claro é que, com poucas exceções, a dívida não contribuiu para o financiamento do desenvolvimento.

TABELA 1
Chile: Dívida Externa (em bilhões de US$)
1977197819791980198119821983
A dívida pública ou com garantia pública3,54.44.84.74.44.14.3
Corporates1.4213. 4610,813,714,4
Créditos importar fornecedores de crédito. bens PAC. crédito financeiro1.21.93.15.49.512,311,9
A dívida externa total4.96.58.210,715,217,818,7
Fonte: Banco Central do Chile. 


Considere a dívida externa tradicional, ou seja, a dívida da dívida do setor público com o FMI, a dívida do sector privado direto, créditos financeiros para o setor privado (Lei de câmbios, art: 14, 15 e 16) e as linhas de Curto Prazo do sistema monetário.

Há consenso mencionados como causas da dívida externa do terceiro mundo, pelo menos o seguinte:

a) A lacuna causada pela deterioração dos termos de troca.

b) A recessão econômica do capitalismo industrial e da ascensão do protecionismo e

c) de liquidez causada pela subida do preço do petróleo, os petrodólares que moveram uma massa colossal de capital para corporações financeiras transnacionais.

Estas condições foram criadas no âmbito da economia do capitalismo mundial não teria sido suficiente, na ausência de história nacional, no caso do Chile entre 1977 e 1982 permitiu o crescimento da dívida externa a uma taxa anual de 26 por cento. Na manutenção da taxa de câmbio nominal, o que resultou em uma queda na taxa de câmbio real acima mencionado, você deve adicionar:

1. A alteração da Lei Cambial, que forneceu livre entrada de capital por empresas e indivíduos.

2 desenvolvimento e privatização do sistema financeiro nacional.5

3. A determinação da taxa de juros pelo sistema bancário privado. Que já tinha um monopólio distintamente.6

4. Abertura violenta e indiscriminada da economia chilena ao comércio internacional.7

O destino de recursos externos foi basicamente a importação de bens de consumo de luxo para os setores ricos e especulação financeira. Não houve praticamente nenhum aumento do investimento produtivo no período. As taxas de investimentos que eram muito deprimidos, não mostrou nenhum sinal de recuperação (ver TABELA 2). Esta tendência explica por que a poupança externa substituiu a poupança interna.8


                    TABELA 2
Formação bruta de capital fixo em% do PCB
197020,4197814,5
197118,3197915,6
197214,8198017,8
197314,7198118,1
197417,4198214,0
197515,4198312.1
197612,7198412,5
197713,3

Fonte: Banco Central do Chile, Relatório Anual de 1984.


Não existem estatísticas precisas, mas estima-se que entre 1978 e 1984 deixaram o país cerca de 8 bilhões de dólares ilegalmente. Orlando Caputo observa que "grande parte da dívida latino-americana é explicada pela fuga de capitais".9 Nos Estados Unidos, a imprensa especializada diz que o surgimento da crise e da dívida, é pela fuga de capitais e também pelo aumento das taxas de juros e outras condições financeiras.10

Isso deve ser levado em conta na elaboração da crise da dívida a partir de uma perspectiva democrática e nacional, porque então será uma tarefa prioritária para determinar o montante da dívida real e estabelecer o que era pagar adequada e justa.

A política econômica dos "Chicago Boys" tornou possível para emprestar a grupos econômicos ilimitados para especularem no mercado interno, transferindo recursos de capital produtivo para o capital financeiro através de altas taxas de juros cobradas, e mais tarde para fora do país em operações enormes somas de dinheiro fraudulentas. Isto levou à falência de muitas indústrias e empresas, que por sua vez se arrastavam numa crise de todo o sistema financeiro nacional. A enorme dívida externa, a falência do sistema financeiro criolo e enfraquecendo a base industrial já magro são heranças que deixaram ao Chile um conluio de monopólio dos economistas de Chicago.

II. Os lucros são privados e perdas são socializadas


Um dos princípais ideias defendidas pelos sucessivos ministros da indústria, elevados a um dogma de fé, foi a de que o Estado não deve intervir no mercado livre. Atividades econômicas devem desenvolver em sintonia com o princípio da subsidiariedade do Estado. O mercado seria responsável pelos recursos através do sistema de preços, em punir ou gratificar os operadores, pelos resultados que eles fossem capazes de obter. Na verdade, argumentou-se no momento re-privatizar o banco, devolvendo terras agrícolas nas mãos do Estado a seus antigos donos e liberalizar a entrada de capital estrangeiro. Todos os inquéritos sobre o enorme concentração de poder econômico que ocorreu no Chile desde precisamente mencionar essas regras e medidas como a sua causa raiz. Fortunas enormes foram acumuladas, enquanto quase um terço da força de trabalho foi empurrada para o desemprego (ver TABELA 3) e diminuição dos salários reais dos trabalhadores.11


TABELA 3
Taxa de desemprego nacional
197019711975197619771978197919801981198219831984
5,73.116,419,918,617,917,717,316,326,934,225,5
Nota: Considerado como desempregados do PEM e POJH.12 Fonte: Ministério das Finanças. INI Departamento de Economia da Universidade do Chile.


Em 1981, o então ministro Sergio de Castro informou ao país o estado das finanças públicas nos seguintes termos: "O ano de 1981 começou com base em uma economia saudável e vibrante que consolida cada vez mais os frutos do trabalho realizado entre 1973 e 1980"13. Mais tarde, ele reafirmou que "... o Chile tornou-se uma das economias mais saudáveis, fortes e vibrantes que podem ser encontrados no mundo"14. Em meados de 1982 veio o colapso da indústria CRAV, saiu Castro das Finanças e o peso foi desvalorizado depois de três anos para manter uma taxa de câmbio a $ 39 por dólar. Em maio desse ano foram dois bancos intervidos pelas autoridades. Que se seguiu final do ano uma série de medidas relacionadas com a taxa de câmbio e em janeiro de 1983, além da liquidação de dois bancos e uma financeira, o resto do sistema financeiro envolvido. Como um todo, o sistema financeiro estava naquele momento realizando empréstimos de três e meia o seu capital e reservas, e uma grande parte eram devedores duvidosos. Isso é quando o governo transferiu para bancos em falência técnica, recursos até à data, totalizando mais de 3 bilhões de  dólares. O mesmo foi feito com os grupos empresariais e empresas endividadas no exterior por meio de dólar preferencial (estima-se que esta transferência significou até agora cerca de 2 bilhões de dólares para o Estado)15. Assim, enquando o setor privado fez grandes lucros, o Estado ficou de lado, mas quando correspondeu ter perdas, ele interveio traspassando a todos os chilenos.

O mercado financeiro internacional refletiu a crise aguda experimentado o capitalismo. Um aumento significativo nas taxas de juros e um aperto dos fluxos monetários para os países do terceiro mundo identificada crise na balança de pagamentos da maioria dos países latino-americanos. Lembre-se que a maior parte da dívida externa do Chile foi contratado entre 1978 e 1981, a preços flexíveis e com prazo de 5-8 anos de idade, muito típico de movimentos especulativos de capital dinheiro. A ditadura foi, assim, forçada a renegociar com seus credores com vencimento da dívida externa e da assinatura de acordos com o FMI. Estes acordos de refinanciamento de compromissos bancos transnacionais, os ministros de Pinochet garantiram o apoio do governo chileno para garantir aos monopólios contratados a dívida que setor privado teve. E como eles não poderiam pagar, o governo prometeu pagar por eles assinaturas de acordos e cláusulas que feriram de forma séria a soberania do Chile.16 Neste caso, também optou-se pela solidariedade ​​pelas dívidas da oligarquia de ajuda financeira criola a todo o povo do Chile. Mais uma vez, os lucros foram privatizados e os custos e perdas foram transferidos para todos os chilenos com a cumplicidade do Estado chileno.

III. A dívida externa do Chile é impagável

Várias obras de economistas e especialistas na área mostraram a impossibilidade técnica de pagar a dívida externa chilena.17 Esta conclusão também atingiu muitos banqueiros estrangeiros e até mesmo funcionários da administração Reagan. Um exemplo disto foi a proposta de tornar secretário do Tesouro americano James Baker em Seul, em Outubro de 1985. Há, na reunião de governadores do Banco Mundial e do FMI, Baker mostrou de pronto o que foi chamado de "Programa de Crescimento Sustentado", a proposta de aumento de empréstimos do Banco Mundial para os principais países devedores. No entanto, os ministros de Pinochet e da indústria se comprometeram a pagar a dívida de monopólios, mesmo ao custo de condenar o povo chileno a miséria.

Na TABELA 4 aparecem as projeções oficiais para 1985 e 1986, a conta corrente do balanço de pagamentos. Até o ano de 1985, o superávit comercial foi superestimada em pouco mais de 100 bilhões.18 Para 1986, os resultados preliminares dos quais sugerindo que o superávit comercial não excederá 1,15 bilhão. Isto significaria que o déficit em conta corrente foram ainda maiores do que os indicados.

     TABELA 4
Projeções da Balança de Pagamentos 1985 1986 (milhões de US $)
19851986
Exportações39494529
(Cobre)(1738)(1974)
(Descansar)(2211)(2555)
Importações29143211
Balança comercial10351319
Serviços financeiros20582222
Serviços não financeiros-458-457
Transferências unilaterais100100
Déficit em conta corrente13811250

Estes déficit em conta corrente deve ser acrescentado correspondente a depreciação anualmente. Em 1985, foi para a amortização de 2.293 bilhões dólares americanos e, em 1986, 2.846.000 antes da renegociação anunciado em junho de 1985. Ou seja, antes da renegociação. Recursos externos Chile necessário para 3.674 e 4.176 bilhões em 1985 e 1986 respectivamente. O Banco Central também tinha projectado reembolsos até 1990. Estes números indicam que entre 1987 e 1990 deve ser amortizado 11.068.000 bilhões de dólares, independentemente da participação. A renegociação que levou o ministro Hernan Buchi permite o equilíbrio das contas externas no curto prazo, ficando basicamente diferimento reembolsos e novos empréstimos financiados através das lacunas causadas por pagamentos de juros. Esta dinâmica continuaria a pedir dinheiro emprestado para pagar juros continuaria por muitos anos, com o agravante de que os novos empréstimos não são para aumentar a capacidade produtiva do país, mas para ajustar as contas externas. Note-se que muitos dos novos empréstimos obtidos são nada mais do que anos financeiros e contábeis, uma vez que nem um daqueles dólares vão para os cofres do Banco Central.

Esta é a realidade do Chile, como a maioria dos países latino-americanos. Eles devem ajustar suas economias para pagar dívidas em que incorreram a burguesia e da oligarquia em seus respectivos países, uma situação que leva a aprofundar a dependência do capital transnacional. Apenas sucesso renegociações é adiar o problema, aumente comissões, raramente uma queda na Spread carregada e aumentar significativamente o volume da dívida externa. Claro que não é o caminho. A gravidade da situação, a abordagem oficial não reconhece, requer uma solução diferente, a avaliar uma a uma as premissas sobre as quais tem vindo a levantar a questão, e, claro, o reconhecimento de que a dívida externa lisa e simplesmente não pode ser paga.

IV. O Câncer da dívida deve ser removido

Os números são categóricos. Não admitindo lugar para equívocos: pagar a dívida e os juros que impõe condena Chile para prestar uma homenagem aos bancos transnacionais que a estrutura econômica nacional frágil não suporta. Para fazer isso, os chilenos terão de continuar a pedir emprestado e cada vez pior. Eles vão ter que parar de comer, muitos daqueles que hoje ainda podem fazer algo para continuar a pagar juros. Cademartori e Palma19 mostram que em quase 50 anos o Chile teria de pagar cerca de 177 bilhões sendo incapaz de pagar um único centavo para a dívida original. Esse é o mecanismo que foi submetido aos chilenos nas renegociações e acordos pelos banqueiros e seu protetor, o FMI. Certamente, essas contas surpreendentes provocariam inveja ao próprio rei Midas.

Os acordos assinados pela ditadura e o FMI e os acordos de reescalonamento da dívida com bancos credores definiram uma política econômica que, na essência inclui:

1. desvalorizações periódicas, a fim de manter uma alta taxa de câmbio real.

2. A eliminação dos aumentos salariais no setor público e a não interferência nas negociações do setor privado.

3. Eliminação gradual do déficit do setor público não-financeiro, para chegar a 1987 com um orçamento equilibrado.

4. Reduzir o déficit em conta corrente de 10,5% do PGB em 1984 e em 4,5 para 1987. Isto é afirmado no acordo, é necessário manter uma mudança de política realista e flexível e tarifas baixas e uniformemente.

5. Reduzir a inflação chegar a 1987 com uma taxa anual de 15%, através de uma "política monetária de estabilização." Limites à variação do crédito interno e da eliminação de linhas de crédito seletivas também são definidas.

6. Manutenção de estoques que existiam no final de 1983.

É evidente que estas restrições da política econômica são claras recessivo. Eles definem o que são chamadas, no jargão fundo monetarista, programas macroeconômicos de "austeridade" ou "ajustes recessivos". Mas a austeridade é para as pessoas e a recessão vividos por massas de desempregados e os trabalhadores assalariados.20 Para reduzir o déficit do setor público, por exemplo, significou baixar responsabilidades com pensões (que, em um contexto de inflação meios progressivamente diminuir), obrigando os hospitais de auto-financiamento e centros de saúde e os orçamentos de corte de escolas e universidades.

O Chile é obrigado a pagar toda a dívida que contraiu com os clãs econômicos que antes mesmo tinham assumido o aparelho econômico, obtendo enorme riqueza. Para isso, o governo chileno concedeu o apoio público à dívida privada, assumindo por meios diretos ou indiretos os pagamentos. Então ministros de Pinochet e seus capangas se ajoelharam diante de seus pais, o imperialismo e as classes dominantes locais, traindo os interesses do Chile e seu povo.

Na verdade, o interesse do Chile requer este verdadeiro câncer que significa que a dívida seja liquidada com a responsabilidade que a situação exige. O futuro governo democrático para substituir a ditadura do general Pinochet deve primeiro declarar nulos os acordos de reescalonamento e (incluindo garantias governamentais para a dívida privada) com os bancos credores e o FMI. Em seguida, eles devem rever as obrigações do Estado com cuidado e descartar aqueles decorrentes da compra de armas e materiais de repressão contra a população. Ele também deve aproveitar os ativos dos grupos econômicos para recuperar as transferências substanciais ao longo dos anos fez-lhes o estado fascista. Mesmo assim, você não será capaz de continuar a servir a dívida e, simultaneamente, implementar um verdadeiro programa de recuperação econômica. Portanto, acreditamos que o futuro democrático Chile vai decretar uma moratória mundial sobre a dívida externa, organização e negociação com os credores no prazo que atinge as condições para retomar o pagamento. Chile deve procurar a cooperação com outros países da região, a fim de alcançar condições mais vantajosas e evitar centros financeiros com suas represálias. Deve prevalecer generalizada de que os custos da crise deve ser compartilhada entre o devedor e o critério do credor. Assim como juros e amortização ligação às possibilidades de acumulação e da capacidade de exportação da economia nacional. Este é, em última instância para negociar de forma independente e de uma posição de força para as melhores condições possíveis que permitam dar prioridade exigindo problemas agudos da economia nacional.

V. Notas finais

O regime de Pinochet, que tem sido apoiado pelas forças armadas chilenas, levou o país à ruína financeira e condenou centenas de milhares de chilenos à pobreza extrema. Mas ele cometeu na nossa opinião um crime maior: ele entregou a soberania do Chile aos banqueiros internacionais e do Fundo Monetário Internacional para administrar o país como um negócio, extraindo tudo o que puder dele, mesmo à custa da dignidade e a vida de seus habitantes.

O Chile precisa de um novo governo. A política do ministro Buchi é ainda mais reacionário do que o personagem de gabinete Escobar-Jarpa. Isto é destinado a melhorar a capital financeiro nacional e transnacional, exacerbando as contradições do regime de Pinochet com o povo. Os salários reais continuam a cair, os mutuários de hipotecas não têm nenhuma solução para o problema vital, -a taxa de desemprego, apesar de há números oficiais para baixo, as estatais seguir o caminho da privatização e da saúde e da educação continuar o seu declínio dramático. Mesmo a melhoria conjuntural no cenário internacional (baixas taxas de juros, a queda dos preços do petróleo, a estabilização dos preços do cobre e dólar fraco) permitem alívio para ser uma maioria sobrecarregado pela crise. Porque, assim como o ex-ministro Sergio Bitar disse: "O dilema é saber se esses recursos são usados ​​para pagar a dívida, importação idiota, a fuga de capitais ou aquisição de armas, caso em que são inúteis, ou são canalizados para o investimento social, habitação para os mais necessitados, melhorar salários, vencimentos e pensões e entrega de crédito para os setores produtivos, o que obviamente irá resultar em crescimento"21. A venda de bancos internacionais e Concessão e a transferência das Administradoras de Fundos de Pensões (AFP) mais importantes capitais estrangeiros são sinais claros de o caminho escolhido pelo Ministro Buchi: austeridade para o povo e garantias para os banqueiros e do capital estrangeiro .

Em qualquer caso, o saldo atual é precária. Parte do princípio de que o sistema é capaz de conter e acabar com as demandas causadas pela grande dívida interna, a enorme massa de desempregados, trabalhadores por melhores salários reais e da defesa das empresas estatais, estudantes com mensalidades mais baratas e profissionais para as suas más condições de trabalho. Esse é o calcanhar de Aquiles, o flanco mais fraco da subjugação política do povo. A mobilização social conjunta, coordenada e simultânea em defesa das aspirações legítimas do povo pode derrotar esta política e o sistema que o suporta.

O problema da dívida externa continua a ser a contradição principal que determina o regime de reprodução do regime, mas esta contradição manifesta-se mais especificamente internamente. O desemprego foi condenado a quase um milhão de trabalhadores chilenos, a enorme massa de devedores de hipotecas, pequenos comerciantes e empresários arruinados, aposentados empobrecidos pela política econômica de Pinochet exigem solução séria para seus problemas. Tal solução é objetivamente ligada com a necessidade de uma moratória mundial sobre a dívida externa. Para todo o ônus do ajuste que significa pagar os juros e principal da dívida recai sobre os chilenos hoje, especialmente nos setores mais pobres. A moratória global suportada por cada vez mais amplos setores é, portanto, uma demanda concreta que atrai o apoio da maioria esmagadora nacional.

Notas:

Claudio Pérsico é um economista. Ele vive em Santiago

1. Antecedentes Em Banco Central do Chile, citado pelo suplemento "Economia" revista a No. 12 APSI. Julho de 1986. A queda de números do Produto Interno Bruto per capita são ainda mais alarmantes. De acordo com Patricio Meller, o PIB per capita caiu de 14,3% desde 1981, ou seja, média anual superior a 2,7. Revista de notícias CIEPLAN No. 2, Dezembro de 1985.

2. O regime de Pinochet recebeu felicitações dos representantes do governo e do FMI Reagan repetidamente. O próprio FMI em abril de 1985 enviou um telegrama de felicitações ao governo chileno "por seu comportamento exemplar." O subsecretário do Tesouro dos EUA, David Muldorf, falando no encontro anual da Associação de Bancos do Comércio Internacional, fez a ditadura de Pinochet como um exemplo para outras nações endividadas. Mesmo o Plano Baker foi implementado no Chile, em antecipação ao anúncio em Seul pelo secretário do Tesouro dos EUA.

3. Essa fixação da taxa de câmbio nominal era altamente rentável para os bancos a emprestar na taxa de juros internacional (10 ou 12%), entrando em grandes quantidades de moeda estrangeira, e colocá-los no mercado nacional com taxas reais de até 50 por cento ao ano (em 1976 a taxa de colocação atingiu 51,2% em 1981 e 38,8% em 1982 para 35,1%. Coleção "Estudos CIEPLAN" No. 18, as estatísticas de síntese). Além disso, essa mudança favoreceu a fixação importação indiscriminada de bens produzidos no país. com consequente prejuízo para a indústria nacional (ver CEPAL, Estudo Econômico da América Latina e do Caribe, 1983. Tabela No. 20, p. 298, sobre a composição das importações).

4. Ver revista New Society, 68 e 69 de 1983, especialmente dedicado ao assunto. Além disso, a obra publicada pela CEPAL, especialmente relatórios sobre renegociação da dívida externa e do progresso.

5. Ver o artigo de Hugo Fazio "Os mercados de capitais e concentração financeira" em Araucária Revista No. 5, 1979, pp. 43-68.

6. Hugo Fazio. Op. Cit .. p. 53.

7. A partir do segundo semestre de 1977, as tarifas foram fixadas em 10% para a maioria dos produtos, crescimento de Chile, em seguida, uma das estruturas tarifárias mais baixas do mundo. Posteriormente, a entrada e saída de capital foi liberado, assim que a liberalização comercial e financeira era quase absoluta.

8. De acordo com o Escritório Nacional, Escritório de Planejamento, Planejamento para o período 1977-1981 poupança externa substituído 38% da poupança nacional. ODEPLAN "Target Capital Renda", de março de 1983.

9. Orlando Caputo Leiva: "moratória da dívida externa e na América Latina" em Araucária Revista nº 30, 1985, pp. 47-61.

10. Referido Caputo. Op. Cit., P 51.

11. A taxa real de salários e vencimentos em 1970 assume um valor de 100, alcançado em 1971 para 122,7, alcançando 62,9 em 1975 e ainda não chegar a atingir o valor de 1970. Em 1984, atingiu 87 1 e no 1.985-80,2. (Fonte: INE).

12. O PEM (Programa Mínimo de Emprego) e POJH (Programa de Emprego para chefes de família) são programas de governo que empregam empregos não produtivos e meio dias para desempregados com salários que não ultrapassam US$ 25 em média mês. No final de 1985 estes dois programas emprega 295 555 trabalhadores em uma força de trabalho de 3.648.827 pessoas. Assim, as estatísticas mostram uma taxa de desemprego subestima pelo menos 8,1% de desemprego eficaz. (Coleção de "Estudos CIEPLAN", No. 18 Estatísticas resumidas. Tabelas 5 e 6.)

13. Boletim do Banco Central do Chile, em agosto de 1981.

14. Boletim do Banco Central do Chile, em agosto de 1981.

15. As estimativas de SOFOFA, transferência ascende a 2.200 bilhões de dólares e Valparaiso Business School coloca a 2.500 bilhões. O subsídio dólar entrou em vigor em agosto de 1982, quando foi desvalorizado e, em seguida, o mercado de câmbio foi liberalizado. Inicialmente, ele começou como um 23% do valor do dólar e terminou oficialmente em Junho de 1985 de 40%.

16. Veja os acordos assinados entre o regime de Pinochet e da comissão de doze bancos credores para renegociar assinado em 1983. Nos termos desse acordo. Chile submetido aos tribunais do Estado de Nova York e toda a sua propriedade ser apreendidos excepto navios de guerra e as sedes das representações diplomáticas. É ilustrativo de submissão e servilismo que foi alcançado em que a renegociação ler as cláusulas assinadas pelos representantes da ditadura.

17. Veja os documentos publicados na Área Instituto Chile Economia Alejandro Lipschutz Ciência, ICAL, sobre a questão. Para uma análise quantitativa do problema, lido em Araucária No. 34 de 1986, a obra de José Patricio Palma Cademartori e "O impagável dívida externa do Chile", p. 17-32. Em relação à dívida externa da América Latina, ver as entrevistas de imprensa e documentos escritos por Fidel Castro desde 1982, que tem mantido a necessidade de uma moratória geral ou o cancelamento da dívida externa dos países em desenvolvimento. Para uma base de uma proposta concreta de moratória global, concertada e negociou, em Araucária ver No. 30 de 1985, o artigo de Orlando Caputo citados acima.

18. Os dados preliminares colocar o superávit comercial em 1985 em pouco mais de $ 900 milhões.

19. Op. cit., p. 27.

20. De acordo com El Mercurio de Santiago, mensal suplemento "Economia e Negócios" No. 6, Junho de 1985; mais de 60 por cento dos empregados recebem renda bruta inferior a 110 dólares (após descontos que se torna $ 87). Tenha em mente que este valor é claramente volumosos, porque se trata de um universo de trabalhadores listados na segurança social e cujas empresas declarar e pagar as contribuições. É seguro supor que, entre aqueles que trabalham sem contrato ou cujas empresas não cumpram as disposições relativas à segurança social, a situação é ainda pior do que o informado pelo porta-voz dos clãs econômicos. O salário mínimo bruto, que foi recentemente redesenhada, equivale a pouco menos de $ 50.


21. jornal Fortin Mapocho, No. 353, p. 06 de março 17., 1986


Editado eletronicamente por C.D.Blest em 30/maio/2003


Fonte: www.blest.eu