segunda-feira, 30 de março de 2020

Curvas



É hora de lembrar de quantos esforços e sacrifícios todos nós já fizemos contingencialmente por conta de alguma adversidade ou perda ou ainda propositalmente por força de uma economia para compra de algo importante como casa, carro, viagem, ou para pagar estudos e casamento.

Apertar o cinto para que aqueles que já estavam aqui antes de nós possam viver, possam desfrutarem de uma paisagem, mesmo que virtual.





















Mas e a economia? É a pergunta feita por todos que esquecem das suas lutas do passado. O pobre vive de luta, o rico também. Um tem reservas, e o pânico e a insônia dominam os pensamentos daquele que tem medo de perder. O outro já perdeu faz tempo, vem sempre perdendo e não adianta o falso moralismo dos poderosos, os pobres perderão tanto em quarentena como tentando trabalhar.




Nisso tudo a classe média segue seus instintos, nas redes e na tentativa das ruas, joga do lado do rico.
Num nublado horizonte há os que sigam o discurso de um forte aliado do presidente "Ser aliado não é ser alienado", e vão até a borda do poço com o "capitão" preferindo ficar em casa.
Alguns desses escrevem textões de desabafo nas redes tipo "Votei no Bolsonaro, mas...". Outros ficam em casa e se calam, acredito que para não darem munição à oposição.


A OMS dá orientações enquanto o poderoso chefinho do Planalto põe na parede seu subordinado signatário do órgão e continua fazendo suas pirraças.

E eu continuo aqui do meu quintal observando e sendo observado, curtindo e torcendo para que todos possam continuar curtindo essa paisagem, mesmo que só virtualmente.

quarta-feira, 4 de março de 2020

A justiça americana acaba de fazer da arte de rua uma arte por si só



Por Anne de Coninck
Em www.slate.fr



Um julgamento acaba de condenar a destruição do 5Pointz, uma ocupação do Queens coberto de pichações, alegando que eram obras de arte.



Os promotores tinham todo o edifício caiado da noite para o dia. | Thomas Hawk via Flickr



















Após anos de batalhas legais entre artistas e um promotor imobiliário, um julgamento proferido em 20 de fevereiro de 2020 tornou-se histórico. Foram necessárias quase trinta e duas páginas para um juiz de Nova York justificar sua decisão de conceder 6,75 milhões de dólares a artistas urbanos por obras "apagadas" por um promotor imobiliário, reconhecendo-lhes direitos idênticos aos de artistas profissionais.



"Alguns dias atrás, uma decisão de apelação condenou Jerry Wolkoff a pagar 6,75 milhões de dolares por ter branqueado os grafites do prédio industrial @5PointzNYC e destruído ilegalmente o prédio do @Meresone1".


Esse promotor decidiu recuperar e reabilitar um edifício transformado em uma ocupação artística, localizado no Queens, em Nova York.



A Fábrica Phun

Tudo começou na noite de 18 a 19 de novembro de 2013. Os Wolkoff, Jerry e seu filho David, dois promotores, enviaram capangas para lavar cerca de 20.000 metros quadrados de paredes irregulares. O edifício, uma antiga fábrica de medidores de água do final do século XIX, que foi comprado em 1970 por Jerry Wolkoff.


No começo, ele o converteu em armazéns. Então, em meados dos anos 90, com seu acordo, a fábrica abandonada foi transformada em estúdio para artistas. Quase 200 trabalham lá em uma organização, a Phun Factory, liderada por Pat Delillo. Este último procura espaços liberados para que os artistas possam morar lá e exercitar sua arte - agora reconhecida como tal.

Em 2001, a antiga fábrica, que se ergue em cinco andares, evolui para um espaço de exibição. Torna-se uma espécie de galeria informal, tanto de estúdio quanto de museu, recebendo qualquer artista que passa, sob a liderança de Jonathan Cohen, também conhecido como Meres One, ele mesmo um artista, que assume o papel de curador. Ele ajuda outras pessoas a encontrar espaços nas paredes para pintar e garante que o edifício permaneça acessível a todos os tipos de criação.




O espaço recebeu o nome de Instituto de Higher Burnin e, em seguida, 5Pointz Aerosol Art Center Inc., para se tornar 5Pointz. O número 5 representa os bairros da cidade de Nova York. Ao longo dos anos, o local se tornou mais do que apenas uma ocupação. Foi transformada em uma residência artística que despertou curiosidade e interesse que vão muito além de sua vizinhança. A ocupação se torna um dos símbolos do Queens, quase da mesma maneira que o Instituto de Arte e Recursos Urbanos se tornou, na virada do ano de 2000, o MoMA PS1, localizado a alguns quarteirões de distância.

No início de 2010, no entanto, os Wolkoff decidiram demolir os edifícios e substituí-los por torres residenciais. Seu plano é aceito pela cidade - mas eles ainda não estão autorizados a demolir o prédio existente. Eles então querem desalojar os artistas que moram lá. Em 2013, Jerry, o patriarca, decide modificar o uso das torres. Para esse fim, ele deve primeiro embranquecê-los. Mas ao longo dos anos, as paredes, sob a pulverização de aerossóis, foram cobertas com cerca de 100.000 obras - que foram listadas sem que nenhuma notificação fosse feita aos artistas.

Ele explica para se justificar: "Imaginei a tortura que seria para todos destruir as obras, peça por peça. Então eu disse a mim mesmo "vamos fazer tudo de uma vez e acabar com isso de uma vez por todas"." Alguns meses depois, ele obteve uma licença para demolir e a antiga fábrica foi demolida em setembro de 2014.



O direito dos artistas

Enquanto isso, os artistas tomaram medidas legais. Em outubro de 2013, dezessete desses fãs de graffiti queriam impedir a demolição, invocando seus direitos em nome do Visual Artist Right Act (VARA).

A Lei dos Direitos dos Artistas Visuais protege as obras contra mutilação ou modificação que danificaria a honra ou a reputação de um artista. O tribunal suspendeu temporariamente o trabalho. Mas a proibição foi suspensa um mês depois. Os promotores então correm e apagam tudo nas paredes do prédio da noite para o dia. Esta precipitação foi fatal para eles. Eles não respeitaram o prazo legal de noventa dias concedido aos artistas para retirar seus trabalhos.

Em novembro de 2017, um primeiro júri decidiu a seu favor. Ele então reconhece que as obras urbanas não são efêmeras, mas uma arte de "escopo reconhecido", uma definição nova e imprecisa engraçada, mas que impede qualquer destruição intencional.

Em fevereiro de 2018, o juiz da Suprema Corte do Brooklyn, Frederick Block, já concedeu status de arte às criações de arte de rua e concedeu aos artistas danos por sua destruição por um total de 6,75 milhões de dólares ou 150.000 para quarenta e cinco obras apagadas. A sentença é confirmada em apelação em 20 de fevereiro.



Artistas de pleno direito

Aos olhos do direito americano, os artistas de arte de rua agora são tratados em pé de igualdade com os outros. Um reconhecimento que se junta ao concedido por vinte anos por colecionadores, casas de leilão e até museus.

A mudança é dramática. Alguns anos atrás, artistas de rua rimam com vândalos usando intencionalmente meios ilegais. Depois de serem criminosos, a justiça os protege.

O juiz observou em suas conclusões: "O famoso artista urbano Banksy apareceu ao lado do presidente Barack Obama e do fundador da Apple, Steve Jobs, na lista da revista Time das 100 pessoas mais influentes do mundo". Também está trabalhando para demonstrar a importância cultural do 5Pointz, "que atraía milhares de visitantes diariamente, outros artistas às vezes famosos e desfrutava de ampla cobertura da mídia".

Esse julgamento também é muito incomum, pois foi conduzido à sua conclusão e tornado público, em um país que está acostumado a concluir esse tipo de negócio por meio de negociações associadas à proibição de tornar público os acordos entre as partes. É também, e finalmente, uma condenação inequívoca da maneira como certos promotores agem em Nova York, armando-se com falsas declarações para justificar a remoção dos artistas e a lavagem das paredes de um prédio da noite para o dia. Desta vez, os métodos de gangster não deram resultado.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O jornal que Hitler odiava







Não foram pesquisadores alemães, mas um jornalista americano, Ron Rosenbaum, quem primeiro percebeu e divulgou a importância da luta contra Hitler por um pequeno jornal de Munique, o Münchener Post, que os nazistas chamavam de “a cozinha venenosa”. Em seu livro Para Entender Hitler, Rosenbaum escreveu que a batalha “entre Hitler e os corajosos repórteres e editores do ‘Post’ é um dos grandes dramas nunca relatados da história do jornalismo”. Eles foram, disse, os primeiros a se ‘atracar’ com o líder nazista, os primeiros a ridicularizá-lo, os primeiros a investigá-lo, a denunciar o lado avesso e sujo de seu partido, o comportamento criminoso e homicida mascarado por suas pretensões a movimento político, e foram os primeiros a tentar alertar o mundo para a natureza da besta feroz que rastejava em direção a Berlim. Foi ainda a primeira publicação a escrever sobre “a solução final” para os judeus.

Rosenbaum acrescenta que a história do Post e de seus jornalistas “nunca foi contada de verdade, sequer na Alemanha, ou talvez especialmente na Alemanha, onde é mais consolador para a autoimagem nacional acreditar que ninguém realmente sabia quem era Hitler, até ser tarde demais”, mas “os redatores do Münchener Post sabiam, eles publicaram a verdade para quem estivesse disposto a vê-la”. Em 12 anos de luta, o jornal divulgou algumas das percepções mais agudas e penetrantes do caráter, dos métodos e da mente de Hitler.

Rosenbaum explica o significado de “cozinha venenosa”. “Venenoso” era uma expressão reservada por Hitler para aqueles a quem odiava mais profundamente, era o epíteto com que se referia aos judeus: “envenenadores”. É difícil encontrar em seu vocabulário outra palavra mais carregada de ódio e aversão.

Tentativa de ignorar o passado

Depois da primeira edição do livro de Rosenbaum, em 1998, alguns pesquisadores voltaram sua atenção para o Münchener Post. A também americana Sara Twogood escreveu um longo ensaio sobre o jornal e na França foi divulgado um documentário dez anos atrás, Le Münchener Post Contre Hitler.

Recentemente, foi publicado o primeiro livro sobre o Münchener Post, intitulado A Cozinha Venenosa. A autora é a jornalista brasileira Silvia Bittencourt, que mora na Alemanha há mais de 20 anos e trabalha na Universidade de Heidelberg. O livro é uma agradável surpresa. Quando o autor desta resenha fez uma pesquisa a respeito do Süddeutsche Zeitung (SZ), de Munique, o de maior circulação e o mais liberal dos diários alemães de qualidade, não encontrou nenhuma referência ao Münchener Post. Mencionou a existência do Münchener Neueste Nachrichten, o principal jornal de Munique e concorrente do Post. Depois da Segunda Guerra Mundial, suas instalações foram utilizadas pelo SZ, que também empregou vários de seus ex-jornalistas. Ao escrever sobre a fundação do Süddeutsche Zeitung, mencionou que seu editor-chefe, Edmund Goldschagg, tinha dirigido um jornal de Munique até 1933. O que não sabia, até ler A Cozinha Venenosa, é que esse jornal era precisamente o Münchener Post.

Mas ainda hoje é chocante a ignorância na Alemanha sobre o principal inimigo de Hitler na imprensa escrita. Tanto Rosenbaum como Silvia estiveram na Altheimer Eck, a rua de Munique onde o Post tinha a sede, e não encontraram nenhum resquício dele, sequer uma placa. Ninguém o conhecia. Silvia procurou os descendentes dos principais jornalistas do Post e percebeu que também eles pouco sabiam de sua luta contra Hitler. A produção sobre o jornal continua escassa, principalmente na Alemanha. Talvez, como diz Rosenbaum, uma tentativa de ignorar um passado pouco agradável.

Tratado imposto

O Münchener Post foi fundado em 1886 ou 1887. Era um semanário de quatro páginas de pequenas dimensões que logo ficou ligado ao Partido Social Democrático (Sozialdemokratische Partei Deutschlands – SPD). Em 1890, passou a circular diariamente, à tarde, com uma tiragem de 5 mil exemplares. Mais tarde, teria oficinas próprias e seis jornalistas fixos e bem pagos, que também eram ativistas políticos. Vários deles ocupariam altos cargos na administração pública. Tornou-se um importante formador de opinião da Baviera. Passou a tirar 30 mil cópias. Posteriormente, publicaria também o semanário Bayerisches Wochenblatt. Em 1914, escreveu contra a entrada da Alemanha numa eventual guerra, mas, quando esta começou, seguiu a linha do partido, mudou de orientação e prestou uma “valiosa colaboração patriótica”, segundo o Ministério da Guerra.

Derrotada, a Alemanha atravessou um período conturbado. Um dos principais jornalistas do Post, Kurt Eisner, chegou a ser, por um curto período, ministro-presidente (governador) e chanceler da República da Baviera. Morreu assassinado a tiros. Quando outro jornalista do Post e político do SPD, Erhard Auer, fazia uma oração fúnebre por Eisner, foi também baleado, mas sobreviveu. O poder na região foi ocupado pelo Partido Popular Bávaro, conservador, que cercearia repetidas vezes a circulação do Post.

Como praticamente toda a Alemanha, o jornal ficou indignado com as condições do Tratado de Versalhes, de 1919, imposto pelos vencedores, que declarava a Alemanha culpada pela guerra, tirava todas as suas colônias, reduzia seu exército, tomava-lhe uma parte do território e impunha pesadíssimas reparações. O rigor das medidas favoreceu a ascensão do nazismo.

Duvidosa homenagem no Mein Kampf

Em abril de 1920, o Post mencionou a existência do “partido da suástica” (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães); em maio, num texto com destaque, chamava a atenção para um personagem que fazia inflamados discursos nas cervejarias e emergia na cena política – era um austríaco, um pintor fracassado, antigo cabo do exército alemão: “Na terça-feira à noite, um senhor chamado Hitler falou sobre o programa desse ‘partido’. Ele soltou as mesmas palavras e disparou os mesmos clichês que somos obrigados a ouvir nos eventos de propaganda nacionalista. Caluniou a social-democracia por sua defesa da Internacional e pregou o antissemitismo nos moldes nacionalistas.”

O Post seria o único jornal de Munique a cobrir regularmente, e cada vez com maior intensidade, o movimento nazista e as atividades de Hitler. Como diz Silvia Bittencourt, as notas publicadas eram cada vez maiores, mais frequentes e mais afiadas, criticando principalmente o antissemitismo. Numa delas, escreveu que Hitler se comportara mais como um comediante e que sua palestra, “lembrando uma cantiga, trazia a cada três frases o refrão ‘a culpa é dos hebreus’. Não há infâmia ou porcaria que não seja atribuída aos judeus”.

As notas sobre Hitler se repetiram e ele passou a provocar os repórteres do jornal nos comícios. Numa ocasião, disse que o homem do Post deveria tirar sua pele de cordeiro e sairia, daí, um burro. Atacava o jornal em suas falas e nos artigos para o Völkischer Beobachter, jornal do partido nazista. Dizia que “não se passava um dia sequer sem que o Münchener Post, uma das publicações judaicas mais imundas, manchasse e sujasse pessoas corretas”; era o “sapo judaizante da Altheimer Eck”, um “jornal judeu e marxista” e “arremessador piolhento de lama”. Ele ficou furioso com um texto provocador: “Adolf Hitler traidor?”, mostrando o descontentamento de vários de seus correligionários e questionando a origem das finanças do partido e a vida de luxo do seu líder. A partir de então, o Post ficou na mira de Hitler, que lhe prestaria a duvidosa homenagem de mencioná-lo nominalmente em sua obra Mein Kampf.

Fim dos males

Num de seus discursos, Hitler disse, dirigindo-se ao editor responsável: “Senhor Auer! O senhor e sua injeção de veneno têm grande parte da culpa pela miséria que o povo alemão vive hoje. Senhor Auer! O senhor recebeu dinheiro dos judeus do gado, o senhor se vendeu para os judeus.”

O jornal que enfrentava Hitler publicava longos textos teóricos e ensaios; tinha boas páginas culturais, mas era extremamente intelectualizado para os trabalhadores e a maioria da massa do partido. Sua pequena equipe dividia o tempo com a política, dedicando menos atenção ao jornal. Seu editor era também líder do Partido Social-Democrata da Baviera. Apesar de sua coragem e sua contundência, talvez não fosse a arma mais apropriada para a batalha. Mas foi o mais aguerrido na luta. O Post foi fechado e censurado repetidas vezes, como toda a imprensa de esquerda, por um Poder Judiciário ultraconservador, e a polícia invadiu sua sede, numa ação movida por “traição à pátria”. Mas no começo dos anos 1920 alcançaria uma tiragem de 60 mil exemplares. Ante a opacidade das finanças do partido nazista e as ligações de Hitler com a burguesia industrial, que o financiava, o Post perguntava: “O que, exatamente, ele faz para ganhar a vida?” E mostrava “como Hitler vive”.

Hitler capitalizou habilmente as dificuldades enfrentadas pela Alemanha na República de Weimar: o desemprego, a ocupação da região do Reno pelas tropas francesas, a inflação galopante – o preço de uma passagem de ônibus chegou a custar 150 bilhões de marcos e um dólar era trocado por 4,2 trilhões de marcos. Ele prometeu acabar com os males do país, que atribuía aos judeus. O número de afiliados ao partido nazista cresceu exponencialmente, assim como a fama de seu líder.

Informações confidenciais e documentos secretos

Em 1923, Hitler superestimou sua força. Tentou dar um golpe de Estado, conhecido como o “putsch da cervejaria”, com lances de ópera bufa, e fracassou. Durante os tumultos, os nazistas invadiram e destruíram as instalações do Post, o que levou o Völkischer Beobachter a escrever: “A cozinha venenosa na Altheimer Eck foi demolida”.

Julgado por alta traição, num processo que o jornal católico Bayerische Kurier qualificou como uma “catástrofe jurídica” e o Post como “túmulo da Justiça bávara”, Hitler foi condenado a cinco anos de prisão, em condições que “lembravam mais um hotel do que uma penitenciária”, que ele aproveitou para escrever Mein Kampf. The New York Times, que fazia uma boa cobertura da Alemanha, acreditou que a carreira política de Hitler estava encerrada. Foi solto, pouco mais de um ano depois, por boa conduta, refundou o partido e retomou a ascensão política meteórica, apesar de sua condição de apátrida, pois perdera a nacionalidade austríaca em 1925 sem conseguir a alemã.

No fim dos anos 1920 e começo dos 30, o Post atravessou momentos difíceis. Atingido pela crise econômica, tinha uma existência precária, agravada pelas depredações e pela contínua atitude hostil do governo bávaro, que o proibia, com frequência, de circular; seus jornalistas sofriam represálias e agressões físicas ante a complacência da polícia. Foi obrigado a diminuir o número de páginas, a tiragem caiu. Isso não impediu que o jornal aumentasse a intensidade dos ataques a Hitler, aos nacional-socialistas da cruz suástica e a seu adversário, o Völkischer Beobachter, que fora relançado e contava com mais recursos. O Post mostrou ter um incrível acesso a informações confidenciais e documentos secretos dos nazistas. Atacou também os comunistas, responsabilizando-os igualmente pela violência no país.

Ciúme doentio

Quando os nazistas tiveram um revés nas eleições de 1930, o Post subestimou seu futuro político. Mas a depressão e o desemprego decorrentes do crash da bolsa de Nova York, em 1929, levaram um grande número de alemães a depositar suas esperanças nas promessas de Hitler. Nas eleições seguintes, seu partido aumentou o número de votos, assim como os comunistas.

Para deter o avanço nazista a qualquer custo, o Post lançou o que Silvia Bittencourt considerou “a campanha mais suja de sua história”, e “desonesta e ambígua”, mas que Rosenbaum qualifica como um mergulho no coração desagradável da cultura de chantagem do partido de Hitler. Tratava-se de uma carta de um consultor jurídico do partido, Eduard Meyer, a Ernest Röhm, o chefe das forças de choque, as “camisas-pardas”, do movimento hitlerista. Nela, Meyer contava em detalhes episódios da vida homossexual de Röhm, a quem chantageou. A carta foi entregue pela noiva de Meyer ao Post, que pagou por ela e a publicou com o título “A vida sexual no Terceiro Reich”. A repercussão foi extraordinária. Röhm alegou que a carta era falsa e processou o jornal, para mais tarde retirar a queixa e pagar as custas do processo, que foi arquivado. Meyer se matou e a noiva foi condenada a oito meses de prisão. Mas o escândalo não abalou a ascensão de Hitler.

A “cozinha venenosa” também explorou o suicídio da atraente meia-sobrinha de Hitler, Geli (Angela Maria) Raubal, que morava em sua casa; ele foi, talvez, o grande amor de sua vida, mas não há provas de que fossem amantes. O Post quis saber qual era o papel de Hitler, doentiamente ciumento. Foi tão intenso o ataque do Post que Hitler ameaçou com um processo e pensou em suicídio. Mas conseguiu a cidadania alemã; em novembro de 1932, seu partido foi o mais votado e em janeiro do ano seguinte ele foi indicado para o posto de chanceler (primeiro-ministro).

Memória preservada

Em março de 1933, os nazistas invadiram de novo as instalações do Post. A maioria, escreveu um jornalista, “tinha cara de menino”. Destruíram com fúria o que encontraram, máquinas de escrever, telefones, até as torneiras das pias dos toaletes, jogaram móveis pelas janelas, fizeram uma fogueira com documentos, arrasaram as oficinas. Dessa vez, acabariam com o jornal para sempre. Os jornalistas tiveram que se esconder. Seus ataques contra Hitler tinham sido implacáveis. Eles, segundo Rosenbaum, “tinham a ficha de Hitler, tinham enxergado dentro dele (…) Eles tinham visto o Hitler dentro de Hitler e, creio, Hitler sabia que eles sabiam”. Pagaram por isso. Foi o fim de uma luta que durou doze anos.

A obra de Silvia Bittencourt, resultado de árdua pesquisa, mereceria uma ampla divulgação, principalmente na Alemanha, onde o primeiro e mais persistente opositor de Hitler é ainda praticamente ignorado.

Ao livro podem ser feitas algumas observações. O New York Herald Tribune não estava, na época, ligado ao New York Times; a ligação se daria várias décadas mais tarde, com sua edição internacional, depois de desaparecer a edição de Nova York. O livro afirma que Edmund Goldschagg, ex-editor do Post, fez sozinho o projeto do Süddeutsche Zeitung em 1945. Na verdade, o lançamento foi obra de três pessoas: Goldschagg, diretor de redação; August Schwingenstein, publisher; e Franz-Joseph Schoeningh, editor cultural, aos quais se juntaram dois ex-executivos do Münchner Neueste Nachrichten; eles foram os acionistas do jornal. A autora menciona os artigos de Konrad Heiden, correspondente em Munique do Frankfurter Zeitung. Mas, preocupada em destacar a oposição do Post, talvez não tenha dado a importância devida à posição desse jornal contra Hitler, o mais influente da época e antecessor do atual Frankfurter Allgemeine Zeitung. Antes de ser tomado pelos nazistas, era um diário liberal, independente, “a voz da razão que emanava das províncias”, segundo Peter Gay. Para Hitler, era “um jornal-víbora judeu”.

Mas nada disso diminui a importância da “cozinha venenosa”. Ao destruir seu grande inimigo, em 1933, Hitler quase conseguiu também erradicar a memória sobre ele, que só agora está sendo resgatada.

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Matías M. Molina é autor do livro Os Melhores Jornais do Mundo, em segunda edição

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

Os vazamentos do Intercept que deram origem à Vaza Jato interromperam toda a pompa do ex-juiz Sérgio Moro tornando-o num boneco nas mãos do presidente Jair Bolsonaro.

Esse artigo do professor Rodrigo Perez Oliveira traz a luz e traduz bem o fenômeno Bolsonarismo x Lavajatismo e a máxima que fica é:

"É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil."






















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Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar



Por: Jornalistas Livres

ARTIGO

RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

Não é novidade pra ninguém que desde 2014 a Lava Jato é a mais poderosa força em atuação na cena política brasileira. A fonte desse poder todo é a energia política liberada em junho de 2013. À esquerda e à direita se disseminou um consenso anti-sistêmico que denunciava os limites e as deficiências do regime de poder forjado na redemocratização.

Corrupção, baixa qualidade de vida nas grandes cidades, precariedade nos serviços públicos, violência urbana. Ecoava um desejo de mudança, de rejeição aos partidos políticos tradicionais. Tudo isso influenciou diretamente os resultados das eleições municipais de 2016, o golpe parlamentar que, também em 2016, derrubou Dilma e as eleições presidenciais de 2018.

Essa atmosfera anti-sistêmica pariu dois filhos gêmeos, potencialmente rivais entre si, como Esaú e Jacó: o lavajatismo e o bolsonarismo, que durante algum tempo foram aliados. Não mais. Acabou o amor.

Bolsonarismo e lavajatismo entenderam que, hoje, seu grande adversário não é o PT.

Bolsonarismo e lavajatismo estão disputando o controle da energia disruptiva que foi liberada em 2013. Nessa disputa, Lula é trunfo estratégico para ambos. Vale mais solto, fazendo política, do que preso.

No começo do ano, o lavajatismo era o fiador do bolsonarismo. Moro era o superministro, maior que o próprio Bolsonaro. O jogo mudou. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

Pela primeira vez na cronologia da crise, a Lava Jato está nas cordas.

O inferno astral da Lava Jato começou em junho, com os vazamentos feitos pelo "The Intercept Brasil". Não foram pequenos os efeitos da "Vaza Jato" na crise brasileira. Sérgio Moro perdeu capital político, tornando-se uma espécie de elefante branco, sendo diariamente desautorizado por Bolsonaro.

Bolsonaro é ingrato, não reconhece dívida com o homem que pavimentou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto.

Na última quinta-feira, 26 de setembro, o STF impôs uma grande derrota à Lava Jato: por 7 votos a 3, a corte decidiu que o rito mobilizado pela Lava Jato é inconstitucional porque não permite que o réu conheça o conteúdo das delações premiadas antes de apresentar suas alegações finais.

Os processos que não cumpriram o devido rito devem ser anulados, o que pode beneficiar todos que foram condenados no âmbito da Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula.

Mas esse não foi o único revés sofrido pela Lava Jato: no Congresso Nacional há quem queira organizar a CPI da Lava Jato. A defesa de Lula pede ao STF que julgue a suspeição de Moro. Bolsonaro peitou o MP para nomear Augusto Aras para a chefia da Procuradoria Geral da República (PGR) com o objetivo explícito de colocar um freio nos bacharéis de Curitiba.

A sabatina de Aras no Senado, realizada em 25 de setembro, traduziu perfeitamente a força dessa aliança: a classe política e o bolsonarismo se uniram pra confrontar um inimigo comum. A classe política quer reparação, vingança mesmo. O bolsonarismo quer reinar sozinho como força organizadora da energia anti-sistêmica liberada por junho de 2013. Cabe a Aras coordenar o projeto por dentro do MP. A ver se o plano vai dar certo.

A Lava Jato reagiu e, com a ousadia de sempre, dobrou a aposta. Em 27 de setembro, Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Laura Tessler solicitaram ao STF a progressão da pena de Lula para o regime semiaberto.

Sim, leitor e leitora, os mesmos que há pouco tempo tentaram mandar Lula para um presídio comum, agora querem que ele vá pra casa. O pretexto ganha forma de argumento jurídico formal: como Lula já cumpriu 1/6 da pena tem direito à progressão. Como se a Lava Jato respeitasse os direitos fundamentais.

É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil.

Na guerra fratricida entre o bolsonarismo e o lavajatismo vencerá aquele que conseguir ser a mais radical antítese de Lula. Pra isso, é fundamental que Lula esteja solto, fazendo política, agrupando sua base. No outro polo do espectro político, lavajatistas e bolsonaristas disputarão na unha quem consegue capitalizar mais o ódio que parte da sociedade brasileira nutre por Lula.

Polarização total. Sem centro mediador. Lula é ativo político também pro lado de lá.

Cabe ao PT não permitir que Lula seja pintado como o representante do sistema, como o líder da "velha política". Lula precisa ser visto como o símbolo do Estado provedor de direitos sociais. Nesta narrativa, ele é imbatível.

É óbvio que Lula percebeu a estratégia e, simplesmente, se recusou a deixar a cadeia. Bolsonaristas e lavajatistas que se matem primeiro, enquanto a crise econômica e social se avoluma, deixando a população cada vez mais mal-humorada.

Hoje, para Lula, o melhor é ficar onde está: recebendo lideranças mundiais, vencedores de prêmio nobel, dando entrevistas, lendo e assistindo Netflix. A bomba tá na mão deles. Eles governam o Brasil.

Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Permanent Record: Edward Snowden e a produção de um denunciante

No boingboing.net
Por: Cory Doctorow



















Nunca esquecerei o momento de 9 de junho de 2013, quando assisti a um vídeo de um homem magro, sério e com a barba por fazer, chamado Edward Snowden, se apresentar ao mundo como fonte de uma série de revelações de grande sucesso sobre a vigilância ilegal de agências de espionagem dos EUA, a internet global. Por favor, pensei, esteja seguro. E por favor, não se torne um imbecil.

A questão é que a decisão de dar vida à sua vida e dar as costas ao trabalho da sua vida por uma questão de princípio não é normal. Gostamos de pensar que todos os denunciantes agem pelo mais puro dos motivos, mas os denunciantes, como qualquer outro ser humano, são sacos misturados, com motivos complexos, e se ouvíssemos apenas os denunciantes que não estavam zangados com seus chefes por uma falta de motivação, promoção ou um mau relatório disciplinar, saberíamos muito menos verdades vitais sobre nossas vidas.




Edward Snowden é, até onde eu sei, o mais raro dos denunciantes: alguém que foi motivado puramente por um compromisso com os princípios.

Eu "conheci" Snowden algumas vezes: Eu era o ato de abertura para a sua primeira vez pública aparência, e nós fez um duplo-agir em conjunto em Nova York uma vez em que ele apareceu por vídeo, e eu estava emocionado além das palavras quando eu soube que havia levado um dos meus livros com ele quando fugiu de Hong Kong, e ainda mais orgulhoso por ter publicado e relatado alguns dos documentos que Snowden trouxe com ele e entregue aos jornalistas com quem trabalhava para divulgar suas revelações.

A todo momento, fico impressionado com a natureza rigorosa, atenciosa e de princípios de Snowden. Ele é, de certa forma, um administrador de sistemas consumado, um daqueles especialistas técnicos cuja mistura consciente de capacidade técnica, planejamento cuidadoso, atenção aos detalhes e senso de dever os tornam legisladores não reconhecidos do mundo, tanto quanto os poetas.

No Permanent Record, livro de memórias de Snowden, ainda temos a melhor prova de que Snowden é exatamente o que ele parece ser: um cara entusiasmado de uma família militar que acredita profundamente no serviço e nos valores incorporados pela constituição dos EUA, que exploraram vários caminhos para cumprir seu juramento de defender esses valores com as práticas corruptas e ilegais que ele viu ao seu redor, e elaborou um plano incrivelmente ousado e ambicioso para fazer o que ninguém jamais havia conseguido: expor as ações erradas de uma maneira que provocasse interesse e desencadeou ação, enquanto incansavelmente focava a atenção nos crimes que ele estava alarmado, e não em si mesmo.

A história de vida de Snowden confirma isso: um garoto inteligente que - como muitos de nós - se apaixonou por computadores e pela maneira como exemplificaram como os sistemas poderiam funcionar e como eles poderiam ser explorados para permitir que você atalho o mais chato, ou partes tolas ou ocultas da sociedade, e que tiveram a sorte de atingir a maioridade em uma época em que a falta desesperada de habilidades tecnológicas significava que esse tipo de travessia era um ingresso para um emprego, e não uma célula.

Apesar dessa compreensão inteligente da falibilidade da autoridade, a identificação de Snowden com o serviço militar de seus pais - e ancestrais - significava que ele era terrivelmente vulnerável a pedidos jingoísticos de vingança após o 11 de setembro, levando-o a se alistar em um programa que prometia transferi-lo para um emprego como sargento das Forças Especiais, até que ele quebrou as duas pernas no treinamento básico.

Essa lesão empurrou Snowden para os serviços de inteligência, onde ele poderia usar suas habilidades em computação para efetuar menos atávicas, mas contribuições ainda mais importantes para a vingança pela qual se queimava. Na CIA e depois na NSA, Snowden foi lenta mas seguramente desiludido: em primeiro lugar, pelo Banditry Beltway, de uma nova geração de contratados militares que as agências de espionagem usam para contornar os limites de pessoal impostos pelo Congresso.

Como o Congresso nunca diz não a uma solicitação de orçamento, as agências podem "contratar" mais pessoas do que as permitidas simplesmente contratando a Dell ou a IBM ou a Booz-Allen ou algum outro morador de pântano industrial militar para preencher posições, e uma vez que essas empresas operando com base no "custo-benefício", coletando uma porcentagem dos salários que pagam, todos são incentivados a cobrar o máximo possível por esses contratados negáveis.

Snowden contrasta isso com o princípio de serviço com o qual ele foi criado e que foi encarnado por sua própria família e pelos pais das crianças militares com quem ele cresceu e depois mostra como a cultura da corrupção forma um ensopado tóxico quando combinada com o segredo patológico das agências e dos boondoggles militares normais e deferência à cadeia de comando.

No entanto, Snowden prosperou: como um técnico inteligente e habilidoso que sabia escrever e falar coerentemente sobre seu trabalho e que também se importava profundamente com ele, ele era muito procurado, tanto como "engenheiro de vendas" das empresas privadas com as quais contratou, e pelos espiões que ele apoiou em publicações no exterior em Genebra e Tóquio.

Mas, à medida que a carreira de Snowden progredia (e como ele foi atingido por uma convulsão diagnosticada como epilética), sua necessidade profissional de saber um pouco sobre tudo o que as agências estavam fazendo deu origem a uma suspeita terrível, à medida que os contornos sombrios das agências. O projeto global de vigilância na Internet, mais secreto que secreto, se revelou a ele.

Nesses capítulos do Registro Permanente, somos tratados com uma mistura fascinante de artefatos de espionagem, enquanto Snowden descobre meticulosamente como confirmar suas suspeitas sem avisar seus chefes, e um brilhante tratado ético, conforme Snowden revela o raciocínio que o levou a cada passo para o próximo, até a decisão de Snowden de queimar sua vida anterior, voar para Hong Kong e entrar na prisão de provável prisão perpétua, com o tipo de tortura a que o pobre Chelsea Manning foi submetido, para dar um exemplo dele.

Snowden não é apenas um patriota de princípios, ele também é um escritor talentoso cujo raciocínio ético brilha em um livro de memórias que é mais do que uma narrativa de uma vida extraordinária: é um manifesto da importância da privacidade, dos perigos corrosivos da corrupção e, por um movimento global de massas de resistência à perversão da internet em um sistema de controle e vigilância.

Mesmo se Snowden tivesse se mostrado um imbecil com motivos impuros, não teria feito as coisas dizerem menos verdadeiras. Mas Snowden é um herói com o mais nobre dos motivos, e a inteligência nativa e o gênio tático necessário para transformar seu ato de sacrifício no início de um movimento global pela mudança.

Permanent Record é um livro extraordinário, e não surpreende que o Departamento de Justiça de Trump não queira que você o leia. Snowden diz que voltará aos EUA para ser julgado se puder argumentar a ética de suas ações perante um júri. O Registro Permanente deixa claro o quão persuasivo seria esse argumento. Vamos torcer para que ele consiga, algum dia.

Enquanto isso, o mundo inteiro tem uma dívida com Edward Snowden, por fazer o que ele fez e, agora, explicar como ele fez isso e, o mais importante, o por quê .

Registro Permanente [Edward Snowden / Metropolitan Books]

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

OPERAÇÃO LULA LIVRE? O FILME





Enquanto Hollywood produz filmes com sequestro do filho do presidente dos Estados Unidos, familiares de parlamentares e figuras ligadas a justiça.

Enquanto humoristas em todo o território nacional fazem rolarem plateias no chão com suas piadas de políticos de direita, esquerda e centro.

Enquanto o atual Zorra Total da Globo não perdoa políticos e politicáveis...

O super passivo ministro da Justiça abre inquérito contra produtor de paródia em que sua filha é sequestrada em troca da liberdade do Lula.

Eu assisti os 15 minutos e ri muito com o vai e vem entre ficção e realidade.





O diretor e roteirista, Alexandre Barata Lydia, que produziu tudo de forma independente, sem pagar cachê e sem viés partidário se encontra atualmente, segundo entrevista à grande imprensa, apreensivo e com um certo receio de ser preso.

"Não duvido que o Moro pode me prender. Se ele fez isso com o Lula, que, na minha opinião, não cometeu crime e nem tem culpa de nada, o que ele pode fazer com um zé ninguém como eu? Só porque ele ficou com raivinha por achar que estava sendo ameaçado, o que não está. Qual é a ameaça de um cara querer fazer um filme? Se um cara quer fazer um sequestro, ele vai lá e faz." - Disse.













sábado, 20 de julho de 2019

Por que "paraíba"?

Muito se tem falado do desrespeito do então presidente do Brasil com os nove governadores do nordeste, e não somente com eles, mas com toda a população brasileira e em especial com os nordestinos e seus filhos, netos, enfim...

Quem não é do Rio de Janeiro tem um pouco menos de percepção do nível de desrespeito.
Quando Bolsonaro fala em "Dentre os governadores de 'PARAÍBA'...", fala pejorativamente. No Rio quando se fala de forma pejorativa com alguém se usa esse termo "PARAÍBA", assim como em São Paulo quando chamam a pessoa do "baiano".

Bolsonaro com suas declarações já passou do limite há muito tempo e agora mais uma vez esmurra sua segunda nação.




Governadores lançam carta em repúdio após Bolsonaro chamar o Nordeste de “Paraíba” 

Na Fórum
Por George Marques

O áudio foi capturado em uma conversa informal entre o presidente e o ministro Onyx Lorenzoni

Foto: Karlos Geromy






















Os nove governadores do Nordeste assinaram, na noite desta sexta-feira (19), uma carta criticando o comportamento de Jair Bolsonaro (PSL) após o presidente deixar a entender que pretende retaliar os estados do Maranhão e Paraíba.

Sem saber que seu áudio estava aberto em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro disse ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: “O governador de Paraíba é pior que esse do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, afirmou o presidente.

Na carta a qual o blog teve acesso, os governadores dos nove estados do Nordeste dizem que receberam com espanto a manifestação do presidente e que esperam respeito ao pacto federativo, onde é exigido que os governos mantenham diálogos e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas.

A nota pede esclarecimentos por parte do Presidente em relação ao conteúdo divulgado além de reiterarem a defesa da Federação e da democracia.

Mais cedo por meio de suas redes sociais Flávio Dino afirmou que independente da postura do presidente continuará mantendo postura de diálogo institucional com representantes do governo federal.

Abaixo o inteiro teor da carta:

Carta dos Governadores do Nordeste

19 de Julho de 2019

Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população.

Recebemos com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.

RENAN FILHO – Governador do Estado de Alagoas

RUI COSTA – Governador do Estado da Bahia

CAMILO SANTANA – Governador do Estado do Ceará

FLÁVIO DINO – Governador do Estado do Maranhão

JOÃO AZEVÊDO – Governador do Estado da Paraíba

PAULO CÂMARA – Governador do Estado de Pernambuco

WELLINGTON DIAS – Governador do Estado do Piauí

FÁTIMA BEZERRA – Governadora do Rio Grande do Norte