segunda-feira, 18 de março de 2019

As novas confissões de um assassino econômico
















As atividades humanas são determinadas pelo processo de alterar percepções da realidade.

por John Perkins


(traduzido de um texto originalmente publicado em Evonomics)


Meu sucesso como principal economista numa grande firma internacional de consultoria não se deve a lições que apreendi na faculdade. Tampouco se deve à competência de minha equipe de econometristas brilhantes e magos financeiros.

Estas coisa podem ter, por vezes, ajudado. Mas há algo mais que fez isto acontecer. Este algo mais é o mesmo que  alçou George Washington, Henry Ford, Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Martin Luther King Jr., Steve Jobs e outros ao auge de seu sucesso.

Este algo mais é disponível para todos nós.

É a habilidade de alterar a realidade objetiva mudando a realidade percebida, o que podemos chamar de Ponte Perceptiva.


                               Realidade Percebida

                     /                                          \


Realidade Objetiva 1            —>         Realidade Objetiva 2



Como descrevi em meu livro As Novas Confissões de um Assassino de Aluguel Econômico, meu trabalho era convencer chefes de estado de países com recursos que nossa empresa cobiçava (tal como petróleo) a aceitar enormes empréstimos do Banco Mundial e suas corporações irmãs. O combinado era que esses empréstimos fossem usados para contratar nossas empresas de engenharia e construção, tais como Bechtel, Halliburton e Stone & Webster, para construir plantas elétricas, portos, aeroportos, estradas e outros projetos de infra-estrutura que trariam grandes lucros para estas empresas e também beneficiariam algumas famílias ricas de cada país (aquelas que possuíam as indústrias e estabelecimentos comerciais). Todos os demais no países sofreriam por que fundos eram redirecionados da educação, saúde e outros serviços sociais para pagar os juros sobre os empréstimos. Ao final, quando o país não pudesse mais amortizar o principal, voltaríamos e, com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), "reestruturaríamos" os empréstimos. Isto incluía demandas para que cada país vendesse seus recursos a preços baratos para nossas empresas, com o mínimo de regulamentação ambiental e social, e que privatizasse suas empresas de serviços e outros benefícios sociais oferecendo-os a nossas empresas por preços reduzidos.

Era uma estratégia de usar a realidade percebida para alterar a realidade objetiva. Nestes casos, a Realidade Objetiva 1 era que os países tinham recursos. A Realidade Percebida era que o uso destes recursos como colaterais aos empréstimos para financiar a construção de projetos de infraestrutura traria crescimento econômico e prosperidade para todos os cidadãos. A Realidade Objetiva 2, entretanto, era que crescimento econômico ocorria apenas entre os muito ricos. Uma vez que estatísticas econômicas (GDP) nesses países se inclinam em favor dos ricos, o fato é que apenas nossas empresas e famílias ricas se beneficiavam. O resto da população sofria. Em muitos casos isto levou à instabilidade política, ressentimento e à ascensão de várias formas de radicalismo e terrorismo.


"A realidade é meramente uma ilusão."


                                       Albert Einstein


Sabemos da física quântica e da teoria do caos que consciência, observação e mudanças na percepção possuem um impacto na realidade física que pode crescer exponencialmente.  A psicologia moderna ensina que a realidade percebida governa muito do comportamento humano. Religião, cultura, sistemas legais e econômicos (como, de resto, a maior parte das atividades humanas) são determinados pela realidade percebida. Quando um número suficiente de pessoas aceita estas percepções ou quando elas são codificadas em leis, possuem um imenso impacto na realidade objetiva.


Atividades humanas – individuais, comunitárias ou globais – são comandadas por este processo de alterar percepções humanas da realidade como meio de  alterar realidades objetivas. Um par de casos de empresas norte-americanas ilustra isto.


Caso 1: Ford Motor Company

Em 1914 a Realidade Objetiva de Henry Ford era: A) sua empresa vendia carros Modelo T que eram produzidos através do processo de linha de montagem por trabalhadores que recebiam salários padronizados irrisórios; e B) por que a linha de montagem era monótona e operários estavam sob muita pressão para reduzir o tempo de fabricação de um carro de 12 horas e meia para menos de 100 minutos, havia uma enorme taxa de desperdício na força de trabalho da empresa.


Então Ford percebeu uma nova realidade. Aumentou o salário de 2,34 dólares para uma jornada de nove horas para 5 dólares para uma de oito – isto num tempo em que todos os outros fabricantes de carros tentavam reduzir os salários de seu trabalhadores. Além de manter os operários em sua linha de montagem, Ford foi motivado por uma segunda percepção. Ele entendeu que a empresa, seus trabalhadores e os compradores vinham todos de uma mesma população e concluiu que "a menos que uma indústria consiga manter salários altos e preços baixos, ela destrói a si mesma – já que, de outra forma, limita o número de seus clientes." Ford percebeu que o aumento do poder aquisitivo de seus operários teria um efeito múltiplo, aumentando também o poder aquisitivo de muitos outros.


Caso 2: Adidas e outros varejistas

Realidade Objetiva 1: estas empresas criam calçados e vestimentas de luxo que são manufaturados por fábricas terceirizadas na China, no Vietnã e em outros países de sweatshops (*).

A Realidade Percebida por parte da administração destas empresas: A) terceirizar produção libera essas empresas de caras responsabilidades trabalhistas e minimiza salários; B) contratando atletas bem pagos para promover produtos equilibra a publicidade negativa gerada por ativistas que reivindicam melhor pagamento para trabalhadores em sweatshops; e C) estas políticas, que são diametralmente opostas às de Henry Ford, maximizam os lucros.

Realidade Objetiva 2: salários abaixo da linha de subsistência e condições de trabalho precárias em fábricas noutros continentes resultam em maior rotatividade de trabalhadores, doenças e publicidade negativa; B) Por impactar negativamente o crescimento econômico dos consumidores, estas políticas destroem oportunidades para novos mercados que resultariam se operários fossem pagos o suficiente para comprar os produtos que fazem, estimulando, ao mesmo tempo, o efeito multiplicador; e C) nem o lucro corporativo nem o crescimento econômico são maximizados em países em que estas fábricas estão localizadas.

Tive a oportunidade de sublinhar a diferença entre os dois casos acima quando uma rádio de Portland, Oregon (sede da Nike) me entrevistou. O âncora indagou "se você pudesse perguntar a Phil Knight, fundador da Nike, uma única questão, qual seria ?"

Não precisei pensar muito. "Olá Phil, por que você não segue o conselho de Henry Ford?" Continuei, "Imagine se, como parte de uma campanha publicitária internacional, esses atletas dissessem coisas como "Em vez de X milhões, eu e um punhado de amigos (outras celebridades Nike) tivéssemos concordado que a Nike nos pagasse Y a menos. Executivos da Nike concordaram com cortes similares. O dinheiro extra iria para o pagamento de maiores salários aos trabalhadores que fabricassem produtos Nike ao redor do mundo. Acreditamos que, apenas fazendo isto, ajudaríamos a fazer um mundo melhor e mais pacífico." Parei.

"Esta é uma ideia incrivel", disse o âncora.


Tive que acrescentar, "Como você acha que isto repercutiria nas vendas da Nike ? E nas do restante da indústria?"


"Tudo está na mente."


         George Harrison


Os dois exemplos acima ilustram como a Ponte da Percepção funciona. Há incontáveis outros. Que vão dos indivíduos às empresas e diretamente aos governos. Atividades humanas são determinadas pelos modos como percepções impactam a realidade física, tanto consciente como inconscientemente. Aqui está um exemplo dos impactos globais que uma realidade percebida nos anos 50 teve em cada geração subsequente em todo o mundo.


Caso 3: Políticas Governamentais dos EUA no Irã

Realidade Objetiva 1: A) Mohammed Mossadegh foi democraticamente eleito Primeiro Ministro do Irã em 1951; B) ele promoveu reformas progressistas incluindo seguridade social, controle dos aluguéis e reforma agrária; C) ele insistiu que empresas petrolíferas estrangeiras pagassem uma parte justa de seu lucro com o petróleo iraniano ao povo do Irã e quando uma delas, hoje conhecida como BP, resistiu, se dispôs a nacionalizar o petróleo.

Realidade Percebida: o governo dos EUA rotulou Mossadegh como comunista, marionete soviético e ameaça à democracia.


Realidade Objetiva 2: A) a CIA derrubou Mossadegh em 1953 e empossou o Xá, um ditador brutal pró-ocidente que “leiloou” o Irã para empresas estrangeiras, inclusive as petrolíferas; B) o descontentamento crescente levou à Revolução Iraniana de 1979; C) o Xá foi derrubado, o Aiatolá Khomeini assumiu o controle, 52 cidadãos e diplomatas dos EUA foram mantidos como reféns por 444 dias, e os EUA e países europeus romperam relações com o Irã e iniciaram sanções contra o mesmo; D) o militarismo islâmico se expandiu rapidamente pelo Oriente Médio nas décadas seguintes; e E) a região inteira foi devastada por guerras e instabilidade política; isto impactou relações entre países distantes do Oriente Médio, incluindo EUA, China, Rússia e grande parte da África e da Europa.

Imaginemos, por outro lado, o quão diferente a situação seria para o Irã, o Oriente Médio, os EUA e grande parte do mundo se a realidade percebida fosse diferente – algo como:

Realidade Percebida: o governo dos EUA apóia as políticas de Mossadegh e anuncia que somente comprará petróleo de empresas que paguem uma parte justa de seus lucros ao povo dos países de onde o extraiam.

A derrubada de Mossadegh pelos EUA resultou numa série de eventos trágicos que poderiam ser considerados danos colaterais. Em minha opinião, tais consequências ocorrem por que as pessoas que tomam decisões não entendem completamente a força da Ponte de Percepção.

Como consultor de empresas, governos, executivos e palestrante em programas de MBA e outros, descobri que dar uma boa, profunda olhada no impacto da realidade percebida na realidade objetiva é um dos mais eficientes processos que indivíduos, negócios e outras instituições podem empregar para atingir seus verdadeiros objetivos. Me espanto com o quanto das realidades percebidas nos negócios foram alteradas desde que eu estava na faculdade no fim dos anos 60.


Fui ensinado que um bom CEO ganha um retorno decente para seus investidores ao mesmo tempo em que garante que sua empresa seja um bom cidadão, i.e., que sirva ao interesse público. Apreendemos a cuidar de nossos empregados dando a eles seguro saúde e aposentadoria, a tratar nossos fornecedores e clientes com profundo respeito e a honrar a ideia de que bons negócios são um jogo de ganha-ganha para todas as partes interessadas. Em muitos casos, CEOs garantiam que suas empresas não apenas pagassem seus impostos justos mas que, além disso, contribuíssem com escolas locais, instalações recreativas e outros serviços.

Tudo isto mudou quando Milton Friedman ganhou, em 1976, o Prêmio Nobel de Economia e afirmou, entre outras coisas, que a única responsabilidade nos negócios era maximizar os lucros, independentemente de custos sociais e ambientais. Esta é uma realidade percebida que passou a definir os negócios. Ela convenceu os executivos corporativos de que eles teriam o direito – alguns diriam até a obrigação – de fazer tudo o que julgassem que maximizaria os lucros, incluindo comprar agentes públicos por meio do financiamento de campanhas políticas, destruir o meio ambiente e devastar todos os recursos dos quais seus negócios dependam.


Tal realidade percebida resultou num sistema econômico global falido, a um passo de consumir a si mesmo até a extinção – ao que alguns economistas chamam de Capitalismo Predatório.

É hora de inverter isto. Que tal:

Realidade Objetiva 1: as geleiras estão derretendo; os oceanos subindo; menos de 5% da população mundial vive nos EUA e consumimos cerca de 30% dos recursos enquanto metade da população mundial vive em pobreza; e a base de recursos que alimentam a economia está em rápido declínio.

Realidade Percebida: A) quando Milton Friedman formulou a maximização dos lucros em 1976, o capital financeiro era visto como escasso enquanto a natureza era considerada abundante, e a habilidade do planeta em absorver poluição e prover recursos naturais era considerada praticamente ilimitada. Desde então, isto mudou;  B) podemos construir uma economia que recompense negócios que limpem a poluição, regenere ambientes devastados e desenvolva novas tecnologias para energia, transporte,  comunicações, comércio e praticamente todo o resto – que recicle em vez de estragar o planeta; e C) a responsabilidade dos negócios é servir ao interesse público ao mesmo tempo em que ganha taxas decentes de retorno para investidores que desenvolvam uma economia como a definida em B) acima.

Realidade Objetiva 2) um sistema econômico que caminha para o desastre é convertido em um que é em si uma fonte renovável.


A história de sucesso dos humanos (como indivíduos e comunidades) gira em torno das relações entre realidade percebida e realidade objetiva. Neste momento crítico da história, é essencial que construamos Pontes de Percepção que nos levem a um mundo que gerações futuras queiram herdar. O entendimento de mudanças simples na percepção trazem alterações monumentais na realidade objetiva. Também achamos que criar um mundo melhor e não apenas possível, mas divertido e inspirador.

* * *

*(nota da tradução): a expressão intraduzível sweatshop (textualmente, oficina de suor) se refere a plantas industriais altamente insalubres existentes no sudeste asiático que produzem, a custos irrisórios (pois ignoram sistematicamente direitos trabalhistas e condições de trabalho), artigos comercializados a preços altos por grifes importantes em mercados afluentes. Um caso célebre ocorreu quando, anos atrás, a Nike ofereceu a seus clientes um calçado esportivo em cujo preço estaria incluído o bordado, junto à marca, de quaisquer palavras que os mesmos quisessem. Se aproveitando da brecha, dois compradores independentes pediram, então, que a empresa bordasse nos calçados, ao lado da marca Nike, a expressão sweatshop – ao que a empresa, é claro, se recusou, gerando, à época, importantes processos judiciais (bem ao gosto dos norte-americanos) nos quais consumidores lesados pela publicidade enganosa exigiam o cumprimento da promessa. Procurando um link que resumisse o caso, encontrei muitos, inclusive um texto de Elio Gaspari. Mas são tantos (inclusive do Guardian (aqui e aqui) e da wikipedia) que ficou difícil selecionar um só. Sugiro, então, aos mais curiosos, que digitem em qualquer buscador as palavras Nike, sweatshop e case. Vale a pena se inteirar da polêmica antes de comprar sua próxima peça de indumentária esportiva.


* * *



Como principal economista de uma grande firma de consultoria internacional, John Perkins assessorou o Banco Mundial, as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, o Departamento do Tesouro dos EUA, empresas das  500 maiores da revista Fortune e líderes de países da África, da Ásia, da América Latina e do Oriente Médio. Seu livro mais recente é The New Confessions of an Economic Hit Man (As Novas Confissões de um Assassino de Aluguel Econômico).



Fonte: impromptu.sul21.com.br


quarta-feira, 6 de março de 2019

É hora dos Estados Unidos invadirem os Estados Unidos


Por: Martín Pastor























Sob a égide da "ajuda humanitária" e da luta pela "democracia", os Estados Unidos justificaram dezenas de intervenções militares e políticas no mundo durante os séculos XX e XXI. Em sua campanha mais recente, eles se concentraram na Venezuela, como parte de uma estratégia para minar governos progressistas na região.


Com a manipulação da mídia coordenada, bloqueio econômico e pressão diplomática tendeu ofensiva imperialista contra a nação latino-americana por mais de uma década. Rotularam o governo venezuelano como uma "ditadura", apresentando-o como um "Estado falido" mergulhado no caos social, com altos índices de pobreza, desnutrição e insegurança; argumentando que a causa é o modelo progressivo e não fatores exógenos, como o bloqueio internacional ou o descrédito.

Para os Estados Unidos e grande parte do Ocidente, estes são motivos suficientes para justificar uma intervenção política e diplomática, que deve ser militar. Então, se estes são gatilhos para intervir, é hora de os Estados Unidos, em defesa dos direitos humanos e da democracia, tomarem a iniciativa de invadir seu próprio país.

A situação na América do Norte é altamente preocupante e classifica a nação como uma receptora adequada de "ajuda humanitária" feita nos EUA. De acordo com um relatório por Philip Alston , relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a pobreza extrema e direitos humanos revelou-se que até 2018, 40 milhões de pessoas no Estados Unidos vivem na pobreza, 18,5 milhões vivem em extrema pobreza e Mais de cinco milhões vivem em condições de absoluta pobreza.

O país tem a mais alta taxa de pobreza juvenil da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a maior taxa de mortalidade infantil entre os estados comparáveis ​​nesse grupo. Não é surpresa que Alston tenha considerado o país como a sociedade mais desigual do mundo desenvolvido.

Nem é que os Estados Unidos não podem mais ser chamados de nação de "primeiro mundo". Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), para a maioria de seus cidadãos, aproximadamente 80% da população, os Estados Unidos são uma nação comparável ao "terceiro mundo".

Para chegar a essa conclusão, os economistas aplicaram o modelo de Arthur Lewis, vencedor do Prêmio Nobel de Economia (1979), projetado para entender quais fatores e como classificar um país em desenvolvimento.

De acordo com Peter Temin, co-autor do estudo, o Estados Unidos se reúne este modelo é uma economia dual (diferença única entre uma pequena parte da população e a grande maioria), onde o baixo - sector assalariado tem pouca influência sobre a política pública; um setor de alta renda mantém baixos salários no outro setor para fornecer mão de obra barata; um controle social que é usado para impedir que o setor de baixos salários desafie políticas que favoreçam o setor de alta renda; altas taxas de encarceramento; políticas públicas dos setores mais ricos com o objetivo de reduzir impostos para o referido grupo; e uma sociedade onde a mobilidade social e econômica é baixa.

Especialmente quando um dos principais argumentos para justificar as agressões é o suposto 'bem-estar' e os direitos humanos dos cidadãos. Mais uma vez, os americanos deveriam ver o "raio em seus próprios olhos" primeiro.

Segundo uma análise trienal do Commonwealth Fund (2017), os Estados Unidos, pela sexta vez consecutiva, são o pior sistema de saúde entre 11 países desenvolvidos. Eles têm o sistema de saúde mais caro do planeta, com um gasto anual de três bilhões de dólares, o que resultou em um dos países com maior disparidade no acesso à saudação, com base na renda.

Enquanto a expectativa de vida nos Estados Unidos diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, situando-se em 78,1 anos. Uma redução percentual comparável ao período de 1915 e 1918, em que o país enfrentou uma guerra mundial e a pandemia mundial de gripe. Em comparação, Cuba, que faz parte da 'Troika of Tyranny', segundo John Bolton (Assessor de Segurança Nacional), tem uma expectativa de vida de 79,74 anos até 2018.

E na educação, o que falar. De 1990 a 2016, os Estados Unidos caíram do sexto para o vigésimo sétimo, classificando-se como um dos sistemas menos educados do mundo 'desenvolvido'. Com uma despesa pública reduzida, entre 2010 e 2014 de 3%, enquanto o investimento das economias desenvolvidas cresceu mais de 25%.

Um bem-estar de vida deteriorada, um sistema de saúde caro e desigual e uma educação que não se compara a outras nações desenvolvidas. Se isso não for suficiente para que o governo dos EUA e o resto do Ocidente decidam intervir, então as violações constantes dos direitos humanos devem ser uma causa para mobilizar tropas para a fronteira e iniciar bloqueios econômicos.

Os Estados Unidos têm dirigido ou influenciado sistematicamente as intervenções na América Latina e no resto do Sul global. Operações cobertas, guerras étnicas e as mais recentes invasões militares são a prova da 'licença para matar' que foi concedida a este país.

As prisões onde os direitos humanos são violados, como Guantánamo e Abu Ghraib, são apenas exemplos dessa realidade. E figuras como Gina Haspel, que estava diretamente envolvida no programa de tortura do governo dos EUA, subiram para posições de poder global como diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).

Mas a transgressão mais clara é a separação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão internacional encarregado de assegurar que tais violações não ocorram. Uma decisão que veio dias depois do Alto Comissariado para os Direitos Humanos denunciou a prática atual do governo de separar à força crianças migrantes de seus pais e prendê-las, naquilo que só pode ser chamado de campos de concentração modernos.

Internamente, a responsabilidade da polícia pelo uso de força excessiva foi reduzida, especialmente nas comunidades negras e latinas. A morte sistemática de homens negros nos Estados Unidos por essa força de ordem, de acordo com um estudo da Universidade de Boston, reflete um racismo estrutural subjacente na sociedade americana; Isso também se reflete em um sistema de justiça tendencioso contra as comunidades negras.

"Se a polícia patrulhar as áreas brancas como fazem em bairros pobres negros, seria uma revolução", diz Paul Butler, autor de 'Chokehold: Policiamento homens negros', que diz o que significa ser um homem negro na América.

Essas violações dos direitos humanos são a realidade cotidiana das minorias étnicas e dos grupos historicamente discriminados. Isto é acompanhado pelo fortalecimento de grupos com tendências fascistas, que têm o apoio direto e indireto do governo central e local em vários estados. Um cenário preocupante para milhões de negros, latinos e outros cidadãos étnicos.

No entanto, a falsa "preocupação" com a Venezuela, Líbia, Síria, Iraque, Iêmen, Afeganistão e Ucrânia, somente nessas últimas duas décadas, tem guiado invasões e agressões em nome do bem-estar e dos direitos humanos. Ações que por sua vez carregam interesses ocultos baseados em um indicador no qual os Estados Unidos são sim o número um: gastos militares.

Até 2019, este país tem um orçamento militar de mais de 680 bilhões de dólares, mais do que os orçamentos combinados das sete nações que o seguem: China, Rússia, Arábia Saudita, Índia, França, Reino Unido e Japão.

Nem mesmo na liberdade econômica (12 no mundo) são líderes ou crescimento do PIB (147 de 224 países); o que reflete uma realidade. Os Estados Unidos são um império militar, sua economia é baseada na guerra e nenhuma ação tomada em nome da "ajuda humanitária" tem coerência quando o interesse de seu governo é promover o caos em seu benefício.

Diante dessa situação, o que o mundo está experimentando é o "chute de afogamento" de uma superpotência em declínio. É por isso que ele se esforça tanto para se agarrar ao último bastião de influência que permanece na América Latina, em conseqüência de sua fixação com a Venezuela e outras nações da região. Pois, se fosse uma ajuda real, é hora de os Estados Unidos analisarem seriamente a intervenção, com a mesma intensidade, em seu próprio país.

                                           (Tomado de Rebelión)


Fonte: cubadebate.cu