quarta-feira, 2 de outubro de 2019

POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

Os vazamentos do Intercept que deram origem à Vaza Jato interromperam toda a pompa do ex-juiz Sérgio Moro tornando-o num boneco nas mãos do presidente Jair Bolsonaro.

Esse artigo do professor Rodrigo Perez Oliveira traz a luz e traduz bem o fenômeno Bolsonarismo x Lavajatismo e a máxima que fica é:

"É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil."






















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Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar



Por: Jornalistas Livres

ARTIGO

RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

Não é novidade pra ninguém que desde 2014 a Lava Jato é a mais poderosa força em atuação na cena política brasileira. A fonte desse poder todo é a energia política liberada em junho de 2013. À esquerda e à direita se disseminou um consenso anti-sistêmico que denunciava os limites e as deficiências do regime de poder forjado na redemocratização.

Corrupção, baixa qualidade de vida nas grandes cidades, precariedade nos serviços públicos, violência urbana. Ecoava um desejo de mudança, de rejeição aos partidos políticos tradicionais. Tudo isso influenciou diretamente os resultados das eleições municipais de 2016, o golpe parlamentar que, também em 2016, derrubou Dilma e as eleições presidenciais de 2018.

Essa atmosfera anti-sistêmica pariu dois filhos gêmeos, potencialmente rivais entre si, como Esaú e Jacó: o lavajatismo e o bolsonarismo, que durante algum tempo foram aliados. Não mais. Acabou o amor.

Bolsonarismo e lavajatismo entenderam que, hoje, seu grande adversário não é o PT.

Bolsonarismo e lavajatismo estão disputando o controle da energia disruptiva que foi liberada em 2013. Nessa disputa, Lula é trunfo estratégico para ambos. Vale mais solto, fazendo política, do que preso.

No começo do ano, o lavajatismo era o fiador do bolsonarismo. Moro era o superministro, maior que o próprio Bolsonaro. O jogo mudou. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

Pela primeira vez na cronologia da crise, a Lava Jato está nas cordas.

O inferno astral da Lava Jato começou em junho, com os vazamentos feitos pelo "The Intercept Brasil". Não foram pequenos os efeitos da "Vaza Jato" na crise brasileira. Sérgio Moro perdeu capital político, tornando-se uma espécie de elefante branco, sendo diariamente desautorizado por Bolsonaro.

Bolsonaro é ingrato, não reconhece dívida com o homem que pavimentou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto.

Na última quinta-feira, 26 de setembro, o STF impôs uma grande derrota à Lava Jato: por 7 votos a 3, a corte decidiu que o rito mobilizado pela Lava Jato é inconstitucional porque não permite que o réu conheça o conteúdo das delações premiadas antes de apresentar suas alegações finais.

Os processos que não cumpriram o devido rito devem ser anulados, o que pode beneficiar todos que foram condenados no âmbito da Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula.

Mas esse não foi o único revés sofrido pela Lava Jato: no Congresso Nacional há quem queira organizar a CPI da Lava Jato. A defesa de Lula pede ao STF que julgue a suspeição de Moro. Bolsonaro peitou o MP para nomear Augusto Aras para a chefia da Procuradoria Geral da República (PGR) com o objetivo explícito de colocar um freio nos bacharéis de Curitiba.

A sabatina de Aras no Senado, realizada em 25 de setembro, traduziu perfeitamente a força dessa aliança: a classe política e o bolsonarismo se uniram pra confrontar um inimigo comum. A classe política quer reparação, vingança mesmo. O bolsonarismo quer reinar sozinho como força organizadora da energia anti-sistêmica liberada por junho de 2013. Cabe a Aras coordenar o projeto por dentro do MP. A ver se o plano vai dar certo.

A Lava Jato reagiu e, com a ousadia de sempre, dobrou a aposta. Em 27 de setembro, Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Laura Tessler solicitaram ao STF a progressão da pena de Lula para o regime semiaberto.

Sim, leitor e leitora, os mesmos que há pouco tempo tentaram mandar Lula para um presídio comum, agora querem que ele vá pra casa. O pretexto ganha forma de argumento jurídico formal: como Lula já cumpriu 1/6 da pena tem direito à progressão. Como se a Lava Jato respeitasse os direitos fundamentais.

É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil.

Na guerra fratricida entre o bolsonarismo e o lavajatismo vencerá aquele que conseguir ser a mais radical antítese de Lula. Pra isso, é fundamental que Lula esteja solto, fazendo política, agrupando sua base. No outro polo do espectro político, lavajatistas e bolsonaristas disputarão na unha quem consegue capitalizar mais o ódio que parte da sociedade brasileira nutre por Lula.

Polarização total. Sem centro mediador. Lula é ativo político também pro lado de lá.

Cabe ao PT não permitir que Lula seja pintado como o representante do sistema, como o líder da "velha política". Lula precisa ser visto como o símbolo do Estado provedor de direitos sociais. Nesta narrativa, ele é imbatível.

É óbvio que Lula percebeu a estratégia e, simplesmente, se recusou a deixar a cadeia. Bolsonaristas e lavajatistas que se matem primeiro, enquanto a crise econômica e social se avoluma, deixando a população cada vez mais mal-humorada.

Hoje, para Lula, o melhor é ficar onde está: recebendo lideranças mundiais, vencedores de prêmio nobel, dando entrevistas, lendo e assistindo Netflix. A bomba tá na mão deles. Eles governam o Brasil.

Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Permanent Record: Edward Snowden e a produção de um denunciante

No boingboing.net
Por: Cory Doctorow



















Nunca esquecerei o momento de 9 de junho de 2013, quando assisti a um vídeo de um homem magro, sério e com a barba por fazer, chamado Edward Snowden, se apresentar ao mundo como fonte de uma série de revelações de grande sucesso sobre a vigilância ilegal de agências de espionagem dos EUA, a internet global. Por favor, pensei, esteja seguro. E por favor, não se torne um imbecil.

A questão é que a decisão de dar vida à sua vida e dar as costas ao trabalho da sua vida por uma questão de princípio não é normal. Gostamos de pensar que todos os denunciantes agem pelo mais puro dos motivos, mas os denunciantes, como qualquer outro ser humano, são sacos misturados, com motivos complexos, e se ouvíssemos apenas os denunciantes que não estavam zangados com seus chefes por uma falta de motivação, promoção ou um mau relatório disciplinar, saberíamos muito menos verdades vitais sobre nossas vidas.




Edward Snowden é, até onde eu sei, o mais raro dos denunciantes: alguém que foi motivado puramente por um compromisso com os princípios.

Eu "conheci" Snowden algumas vezes: Eu era o ato de abertura para a sua primeira vez pública aparência, e nós fez um duplo-agir em conjunto em Nova York uma vez em que ele apareceu por vídeo, e eu estava emocionado além das palavras quando eu soube que havia levado um dos meus livros com ele quando fugiu de Hong Kong, e ainda mais orgulhoso por ter publicado e relatado alguns dos documentos que Snowden trouxe com ele e entregue aos jornalistas com quem trabalhava para divulgar suas revelações.

A todo momento, fico impressionado com a natureza rigorosa, atenciosa e de princípios de Snowden. Ele é, de certa forma, um administrador de sistemas consumado, um daqueles especialistas técnicos cuja mistura consciente de capacidade técnica, planejamento cuidadoso, atenção aos detalhes e senso de dever os tornam legisladores não reconhecidos do mundo, tanto quanto os poetas.

No Permanent Record, livro de memórias de Snowden, ainda temos a melhor prova de que Snowden é exatamente o que ele parece ser: um cara entusiasmado de uma família militar que acredita profundamente no serviço e nos valores incorporados pela constituição dos EUA, que exploraram vários caminhos para cumprir seu juramento de defender esses valores com as práticas corruptas e ilegais que ele viu ao seu redor, e elaborou um plano incrivelmente ousado e ambicioso para fazer o que ninguém jamais havia conseguido: expor as ações erradas de uma maneira que provocasse interesse e desencadeou ação, enquanto incansavelmente focava a atenção nos crimes que ele estava alarmado, e não em si mesmo.

A história de vida de Snowden confirma isso: um garoto inteligente que - como muitos de nós - se apaixonou por computadores e pela maneira como exemplificaram como os sistemas poderiam funcionar e como eles poderiam ser explorados para permitir que você atalho o mais chato, ou partes tolas ou ocultas da sociedade, e que tiveram a sorte de atingir a maioridade em uma época em que a falta desesperada de habilidades tecnológicas significava que esse tipo de travessia era um ingresso para um emprego, e não uma célula.

Apesar dessa compreensão inteligente da falibilidade da autoridade, a identificação de Snowden com o serviço militar de seus pais - e ancestrais - significava que ele era terrivelmente vulnerável a pedidos jingoísticos de vingança após o 11 de setembro, levando-o a se alistar em um programa que prometia transferi-lo para um emprego como sargento das Forças Especiais, até que ele quebrou as duas pernas no treinamento básico.

Essa lesão empurrou Snowden para os serviços de inteligência, onde ele poderia usar suas habilidades em computação para efetuar menos atávicas, mas contribuições ainda mais importantes para a vingança pela qual se queimava. Na CIA e depois na NSA, Snowden foi lenta mas seguramente desiludido: em primeiro lugar, pelo Banditry Beltway, de uma nova geração de contratados militares que as agências de espionagem usam para contornar os limites de pessoal impostos pelo Congresso.

Como o Congresso nunca diz não a uma solicitação de orçamento, as agências podem "contratar" mais pessoas do que as permitidas simplesmente contratando a Dell ou a IBM ou a Booz-Allen ou algum outro morador de pântano industrial militar para preencher posições, e uma vez que essas empresas operando com base no "custo-benefício", coletando uma porcentagem dos salários que pagam, todos são incentivados a cobrar o máximo possível por esses contratados negáveis.

Snowden contrasta isso com o princípio de serviço com o qual ele foi criado e que foi encarnado por sua própria família e pelos pais das crianças militares com quem ele cresceu e depois mostra como a cultura da corrupção forma um ensopado tóxico quando combinada com o segredo patológico das agências e dos boondoggles militares normais e deferência à cadeia de comando.

No entanto, Snowden prosperou: como um técnico inteligente e habilidoso que sabia escrever e falar coerentemente sobre seu trabalho e que também se importava profundamente com ele, ele era muito procurado, tanto como "engenheiro de vendas" das empresas privadas com as quais contratou, e pelos espiões que ele apoiou em publicações no exterior em Genebra e Tóquio.

Mas, à medida que a carreira de Snowden progredia (e como ele foi atingido por uma convulsão diagnosticada como epilética), sua necessidade profissional de saber um pouco sobre tudo o que as agências estavam fazendo deu origem a uma suspeita terrível, à medida que os contornos sombrios das agências. O projeto global de vigilância na Internet, mais secreto que secreto, se revelou a ele.

Nesses capítulos do Registro Permanente, somos tratados com uma mistura fascinante de artefatos de espionagem, enquanto Snowden descobre meticulosamente como confirmar suas suspeitas sem avisar seus chefes, e um brilhante tratado ético, conforme Snowden revela o raciocínio que o levou a cada passo para o próximo, até a decisão de Snowden de queimar sua vida anterior, voar para Hong Kong e entrar na prisão de provável prisão perpétua, com o tipo de tortura a que o pobre Chelsea Manning foi submetido, para dar um exemplo dele.

Snowden não é apenas um patriota de princípios, ele também é um escritor talentoso cujo raciocínio ético brilha em um livro de memórias que é mais do que uma narrativa de uma vida extraordinária: é um manifesto da importância da privacidade, dos perigos corrosivos da corrupção e, por um movimento global de massas de resistência à perversão da internet em um sistema de controle e vigilância.

Mesmo se Snowden tivesse se mostrado um imbecil com motivos impuros, não teria feito as coisas dizerem menos verdadeiras. Mas Snowden é um herói com o mais nobre dos motivos, e a inteligência nativa e o gênio tático necessário para transformar seu ato de sacrifício no início de um movimento global pela mudança.

Permanent Record é um livro extraordinário, e não surpreende que o Departamento de Justiça de Trump não queira que você o leia. Snowden diz que voltará aos EUA para ser julgado se puder argumentar a ética de suas ações perante um júri. O Registro Permanente deixa claro o quão persuasivo seria esse argumento. Vamos torcer para que ele consiga, algum dia.

Enquanto isso, o mundo inteiro tem uma dívida com Edward Snowden, por fazer o que ele fez e, agora, explicar como ele fez isso e, o mais importante, o por quê .

Registro Permanente [Edward Snowden / Metropolitan Books]

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

OPERAÇÃO LULA LIVRE? O FILME





Enquanto Hollywood produz filmes com sequestro do filho do presidente dos Estados Unidos, familiares de parlamentares e figuras ligadas a justiça.

Enquanto humoristas em todo o território nacional fazem rolarem plateias no chão com suas piadas de políticos de direita, esquerda e centro.

Enquanto o atual Zorra Total da Globo não perdoa políticos e politicáveis...

O super passivo ministro da Justiça abre inquérito contra produtor de paródia em que sua filha é sequestrada em troca da liberdade do Lula.

Eu assisti os 15 minutos e ri muito com o vai e vem entre ficção e realidade.





O diretor e roteirista, Alexandre Barata Lydia, que produziu tudo de forma independente, sem pagar cachê e sem viés partidário se encontra atualmente, segundo entrevista à grande imprensa, apreensivo e com um certo receio de ser preso.

"Não duvido que o Moro pode me prender. Se ele fez isso com o Lula, que, na minha opinião, não cometeu crime e nem tem culpa de nada, o que ele pode fazer com um zé ninguém como eu? Só porque ele ficou com raivinha por achar que estava sendo ameaçado, o que não está. Qual é a ameaça de um cara querer fazer um filme? Se um cara quer fazer um sequestro, ele vai lá e faz." - Disse.













sábado, 20 de julho de 2019

Por que "paraíba"?

Muito se tem falado do desrespeito do então presidente do Brasil com os nove governadores do nordeste, e não somente com eles, mas com toda a população brasileira e em especial com os nordestinos e seus filhos, netos, enfim...

Quem não é do Rio de Janeiro tem um pouco menos de percepção do nível de desrespeito.
Quando Bolsonaro fala em "Dentre os governadores de 'PARAÍBA'...", fala pejorativamente. No Rio quando se fala de forma pejorativa com alguém se usa esse termo "PARAÍBA", assim como em São Paulo quando chamam a pessoa do "baiano".

Bolsonaro com suas declarações já passou do limite há muito tempo e agora mais uma vez esmurra sua segunda nação.




Governadores lançam carta em repúdio após Bolsonaro chamar o Nordeste de “Paraíba” 

Na Fórum
Por George Marques

O áudio foi capturado em uma conversa informal entre o presidente e o ministro Onyx Lorenzoni

Foto: Karlos Geromy






















Os nove governadores do Nordeste assinaram, na noite desta sexta-feira (19), uma carta criticando o comportamento de Jair Bolsonaro (PSL) após o presidente deixar a entender que pretende retaliar os estados do Maranhão e Paraíba.

Sem saber que seu áudio estava aberto em uma transmissão ao vivo, Bolsonaro disse ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: “O governador de Paraíba é pior que esse do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”, afirmou o presidente.

Na carta a qual o blog teve acesso, os governadores dos nove estados do Nordeste dizem que receberam com espanto a manifestação do presidente e que esperam respeito ao pacto federativo, onde é exigido que os governos mantenham diálogos e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas.

A nota pede esclarecimentos por parte do Presidente em relação ao conteúdo divulgado além de reiterarem a defesa da Federação e da democracia.

Mais cedo por meio de suas redes sociais Flávio Dino afirmou que independente da postura do presidente continuará mantendo postura de diálogo institucional com representantes do governo federal.

Abaixo o inteiro teor da carta:

Carta dos Governadores do Nordeste

19 de Julho de 2019

Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população.

Recebemos com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.

RENAN FILHO – Governador do Estado de Alagoas

RUI COSTA – Governador do Estado da Bahia

CAMILO SANTANA – Governador do Estado do Ceará

FLÁVIO DINO – Governador do Estado do Maranhão

JOÃO AZEVÊDO – Governador do Estado da Paraíba

PAULO CÂMARA – Governador do Estado de Pernambuco

WELLINGTON DIAS – Governador do Estado do Piauí

FÁTIMA BEZERRA – Governadora do Rio Grande do Norte

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Classe média, sempre ela...


O sujeito era tão, mas tão classe média, que seu pão caiu inclinado, nem com a cara pra baixo e nem de barriga pra cima.
































...

Como Bolsonaro explorou o ressentimento da classe média baixa e roubou eleitores de Lula

No VIOMUNDO

por Luiz Carlos Azenha

Nosso entrevistado levou a esposa e a filha para visitar os parques da Flórida recentemente. Pagou em dez vezes e não pode planejar nenhuma outra extravagância enquanto não quitar o crediário.

Ele não é pobre, nem se considera de classe média confortável. Veio da pobreza, ascendeu, mas bateu no teto. Experimentou as delícias do consumo, mas vive com a corda no pescoço.

Todos os dias, em grupos do whatsapp, recebe ao menos 15 mensagens de apoio ao candidato Jair Bolsonaro. Recentemente, recebeu a primeira de apoio a Fernando Haddad, do PT.

Ele pertence ao imenso grupo de brasileiros que ganham de dois a cinco salários mínimos mensais. Dentre eles, Bolsonaro tem mais que o dobro das intenções de voto do petista Haddad.

Pelas pesquisas do cientista André Singer, homens e mulheres desta faixa de renda flertaram com o lulismo ao longo das vitórias do PT em eleições presidenciais, especialmente em 2006 e 2010.

São eleitores conservadores nas questões de comportamento, mas que migraram para o lulismo por conta da ascensão social que experimentaram. Lulistas, portanto, não petistas.

Jair Bolsonaro, com a ajuda das igrejas neopentecostais, penetrou com força nesta faixa do eleitorado.

Como?

Pesquisas recentes mostram que os eleitores de Bolsonaro são os que mais compartilham no whatsapp (40%, segundo o Datafolha).  São também os que mais compartilham o que foi batizado de junk news, que incluem as fake news (81% do total).

Meu entrevistado trabalha o dia todo e tem pouco tempo para se aprofundar na busca de informações.

Nos intervalos do dia, checa as mensagens e muitas vezes dá uma olhada nos vídeos e memes.

Vamos dizer que, pela repetição, as mensagens deixam uma impressão — que seja no subconsciente.

O grupo de whatsapp bolsonarista que ele frequenta é de colegas de trabalho. Amigos e colegas, gente na qual ele confia.

Só decidiu não votar em Bolsonaro quando descobriu que o capitão da reserva votou a favor da reforma trabalhista de Temer.

Meu entrevistado foi diretamente prejudicado, no bolso, pela reforma.

Mas, ele é a exceção…

Com o objetivo de garantir o sigilo das informações que me repassou — memes, fotos, vídeos –, apelei a outras pessoas da mesma faixa de renda para que me enviassem o conteúdo de grupos bolsonaristas dos quais fazem parte.

Foi uma forma de conviver com eleitores do Mito sem falsificar minha identidade.

Continua...

sábado, 13 de julho de 2019

Bozonaro: Fiquem rindo!




Alô criançada o Bozo chegou!
Trazendo o fim da aposentadoria pra você e o vovô!
Estamos trazendo... muita dor!
Um, dois, três, e... Vamos nós!

Sou o palhaço, meu nome é Bozo!
Bozo! Bozo! Vamos quebrar!

Sempre rindo, eu de você!
Eu sou o Bozo, o palhaço de todos vocês!
Vamos amigos, vamos quebrar!
Lálálálalálálálála lalá!

Pros EUA é alegria! Pro Agro também!
Levem! Levem! Tudo de nós!
Estamos prontos, vamos nós!
Amazônia, bingo! Levem também!

Fiquem rindo, isso é bom!
Suas risadas são tão legais!
Fiquem rindo, igual a mim!
Eu sou o Bozo o palhaço de todos vocês!

domingo, 23 de junho de 2019

Passeio público








Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague





segunda-feira, 6 de maio de 2019

Moro subliminar

São Paulo, 06 de Maio de 2019.

Perfil do homem que já tem seu lugar na história.






Trump tem perfil, Bolsonaro tem, esse que escreve tem, mas ele não tinha, ou se já tinha só o Twitter sabe.

SM em sua conta apresenta uma mensagem subliminar 
"Seguindo 13". Puxa que novidade!

Tal fato só mostra que mesmo antes de ocupar um cargo no Executivo já fazia política mesmo sem poder.

Bem, por aqui ficamos. Observando continuamos. Se tudo for bem no governo acredito que possa acontecer um "Seguindo 17", se mal for "Seguindo 45".

"O de sempre!" 



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Encarceramento x Educação: os EUA gastam mais em seu sistema prisional do que em escolas públicas, e a Califórnia é o pior


  • A maioria dos estados americanos gastam mais com suas prisões do que com educação - e a Califórnia é o pior, investindo US $ 64.642 por prisioneiro, em comparação com US $ 11.495 por aluno - uma diferença de US $ 53.146 em prioridades de gastos
  • Os motivos incluem uma taxa de encarceramento que triplicou nas últimas três décadas, o custo mais elevado de cuidar das pessoas nas prisões 24 horas por dia e o maior número de trabalhadores necessários para operar uma prisão.
  • Nova York, Connecticut, Nova Jersey e Rhode Island completam os principais estados gastando mais em prisões 


Por VALERIE BAUMAN REPÓRTER DE ASSUNTOS SOCIAIS PARA DAILYMAIL.COM


Os EUA gastam mais em prisões e cadeias do que em educar crianças e 15 estados gastam pelo menos US $ 27.000 a mais por prisioneiro do que por aluno, de acordo com um novo relatório.

Os americanos respondem por 4,4% da população global, mas 22% da população carcerária do mundo.

A Califórnia gasta US $ 8,6 bilhões por ano em seu sistema prisional, mais do que em qualquer outro estado, com uma média de US $ 64.642 por detento. É também o estado com a maior diferença entre educação e gastos com a prisão, pagando apenas US $ 11.495 por estudante por uma diferença de US $ 53.146, de acordo com uma nova análise feita pelo site de finanças pessoais GoBankingRates.

Vários fatores contribuem para o desequilíbrio, incluindo as taxas de encarceramento nos EUA, que mais do que triplicaram nas últimas três décadas - mesmo com a queda das taxas de criminalidade. Durante o mesmo período, os gastos do governo com a educação básica aumentaram em 107%, de acordo com um relatório do Departamento de Educação dos EUA.


Os EUA gastam mais em prisões e prisões do que em educar crianças - e 15 estados gastam pelo menos US $ 27.000 a mais por prisioneiro do que por aluno. Este mapa divide os gastos para esses estados, por estudante e por recluso, mais a diferença entre os dois números























Outro fator no hiato de gastos entre educação e encarceramento é que são necessários mais trabalhadores para administrar uma prisão do que uma escola, com cada professor americano supervisionando uma média de 20,8 estudantes, enquanto os guardas da prisão supervisionam uma média de 5,3 presos.

Além disso, custa mais para abrigar e alimentar os prisioneiros três vezes ao dia, em comparação com as crianças em idade escolar que não exigem a mesma supervisão de 24 horas.

Embora possa parecer que os gastos com a prisão e os gastos com educação sejam disparatados, os especialistas estabeleceram correlações entre os dois.

Por exemplo, cerca de 66% dos presos estaduais não se formaram no ensino médio, e jovens negros entre 20 e 24 anos sem um diploma do ensino médio têm maior probabilidade de estar na cadeia ou na prisão do que ter um emprego, de acordo com a pesquisa. Departamento de Educação dos EUA.


Nova York teve a segunda maior diferença entre os custos por aluno e por prisioneiro e gasta mais em cada um deles do que em qualquer outro estado. Os gastos por aluno em Nova York são de US $ 22.366, comparados aos US $ 69.355 que ele investe por detento, por uma diferença de US $ 46.989.

Connecticut segue, com uma diferença de US $ 43.202 entre seus gastos de US $ 18.957 por estudante e US $ 43.201 por custos presos.

Nova Jersey ficou em quarto lugar, com uma diferença de US $ 43.201 entre os gastos estudantis (US $ 18.402) e os gastos presos (US $ 61.603).

Rhode Island fica em quinto lugar, com uma diferença de US $ 43.033 ao comparar os gastos por estudante (US $ 15.531) com os custos por detento (US $ 58.564).

Vermont ficou em sexto lugar, com uma diferença de US $ 39.742 entre os gastos por aluno (US $ 17.872) e por preso (US $ 57.614). Massachusetts seguiu com uma diferença de US $ 39.578 comparando por estudante (US $ 15.592) e por gastos internos (57.614).

Com uma diferença de US $ 35.124, o Alasca ficou em oitavo lugar, gastando US $ 17.509 por estudante e US $ 55.170 por detento. O Oregon ficou em nono lugar, com uma diferença de US $ 33.180 entre gastos por estudante (10.841) e por detento (US $ 44.021).

Maryland ficou em décimo lugar, com uma diferença de US $ 30.396 entre os gastos por prisioneiro (US $ 44.601) e educação (US $ 14.205).

O Colorado ficou em décimo primeiro lugar (US $ 29.729), seguido por Minnesota (US $ 28.985), Pensilvânia (US $ 27.310) e Wisconsin (US $ 27.188).


O Novo México completa o top 15, com uma diferença de US $ 27.140 entre gastos com educação (US $ 9.692) e prisão (US $ 36.832).


Consulte Mais informações:
www2.ed.gov
www.gobankingrates.com


Fonte: dailymail.co.uk

Jornada Lula Livre, entre 7 e 10 de abril, nas principais cidades do país e do mundo.





























domingo, 7 de abril de 2019

segunda-feira, 18 de março de 2019

As novas confissões de um assassino econômico
















As atividades humanas são determinadas pelo processo de alterar percepções da realidade.

por John Perkins


(traduzido de um texto originalmente publicado em Evonomics)


Meu sucesso como principal economista numa grande firma internacional de consultoria não se deve a lições que apreendi na faculdade. Tampouco se deve à competência de minha equipe de econometristas brilhantes e magos financeiros.

Estas coisa podem ter, por vezes, ajudado. Mas há algo mais que fez isto acontecer. Este algo mais é o mesmo que  alçou George Washington, Henry Ford, Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Martin Luther King Jr., Steve Jobs e outros ao auge de seu sucesso.

Este algo mais é disponível para todos nós.

É a habilidade de alterar a realidade objetiva mudando a realidade percebida, o que podemos chamar de Ponte Perceptiva.


                               Realidade Percebida

                     /                                          \


Realidade Objetiva 1            —>         Realidade Objetiva 2



Como descrevi em meu livro As Novas Confissões de um Assassino de Aluguel Econômico, meu trabalho era convencer chefes de estado de países com recursos que nossa empresa cobiçava (tal como petróleo) a aceitar enormes empréstimos do Banco Mundial e suas corporações irmãs. O combinado era que esses empréstimos fossem usados para contratar nossas empresas de engenharia e construção, tais como Bechtel, Halliburton e Stone & Webster, para construir plantas elétricas, portos, aeroportos, estradas e outros projetos de infra-estrutura que trariam grandes lucros para estas empresas e também beneficiariam algumas famílias ricas de cada país (aquelas que possuíam as indústrias e estabelecimentos comerciais). Todos os demais no países sofreriam por que fundos eram redirecionados da educação, saúde e outros serviços sociais para pagar os juros sobre os empréstimos. Ao final, quando o país não pudesse mais amortizar o principal, voltaríamos e, com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), "reestruturaríamos" os empréstimos. Isto incluía demandas para que cada país vendesse seus recursos a preços baratos para nossas empresas, com o mínimo de regulamentação ambiental e social, e que privatizasse suas empresas de serviços e outros benefícios sociais oferecendo-os a nossas empresas por preços reduzidos.

Era uma estratégia de usar a realidade percebida para alterar a realidade objetiva. Nestes casos, a Realidade Objetiva 1 era que os países tinham recursos. A Realidade Percebida era que o uso destes recursos como colaterais aos empréstimos para financiar a construção de projetos de infraestrutura traria crescimento econômico e prosperidade para todos os cidadãos. A Realidade Objetiva 2, entretanto, era que crescimento econômico ocorria apenas entre os muito ricos. Uma vez que estatísticas econômicas (GDP) nesses países se inclinam em favor dos ricos, o fato é que apenas nossas empresas e famílias ricas se beneficiavam. O resto da população sofria. Em muitos casos isto levou à instabilidade política, ressentimento e à ascensão de várias formas de radicalismo e terrorismo.


"A realidade é meramente uma ilusão."


                                       Albert Einstein


Sabemos da física quântica e da teoria do caos que consciência, observação e mudanças na percepção possuem um impacto na realidade física que pode crescer exponencialmente.  A psicologia moderna ensina que a realidade percebida governa muito do comportamento humano. Religião, cultura, sistemas legais e econômicos (como, de resto, a maior parte das atividades humanas) são determinados pela realidade percebida. Quando um número suficiente de pessoas aceita estas percepções ou quando elas são codificadas em leis, possuem um imenso impacto na realidade objetiva.


Atividades humanas – individuais, comunitárias ou globais – são comandadas por este processo de alterar percepções humanas da realidade como meio de  alterar realidades objetivas. Um par de casos de empresas norte-americanas ilustra isto.


Caso 1: Ford Motor Company

Em 1914 a Realidade Objetiva de Henry Ford era: A) sua empresa vendia carros Modelo T que eram produzidos através do processo de linha de montagem por trabalhadores que recebiam salários padronizados irrisórios; e B) por que a linha de montagem era monótona e operários estavam sob muita pressão para reduzir o tempo de fabricação de um carro de 12 horas e meia para menos de 100 minutos, havia uma enorme taxa de desperdício na força de trabalho da empresa.


Então Ford percebeu uma nova realidade. Aumentou o salário de 2,34 dólares para uma jornada de nove horas para 5 dólares para uma de oito – isto num tempo em que todos os outros fabricantes de carros tentavam reduzir os salários de seu trabalhadores. Além de manter os operários em sua linha de montagem, Ford foi motivado por uma segunda percepção. Ele entendeu que a empresa, seus trabalhadores e os compradores vinham todos de uma mesma população e concluiu que "a menos que uma indústria consiga manter salários altos e preços baixos, ela destrói a si mesma – já que, de outra forma, limita o número de seus clientes." Ford percebeu que o aumento do poder aquisitivo de seus operários teria um efeito múltiplo, aumentando também o poder aquisitivo de muitos outros.


Caso 2: Adidas e outros varejistas

Realidade Objetiva 1: estas empresas criam calçados e vestimentas de luxo que são manufaturados por fábricas terceirizadas na China, no Vietnã e em outros países de sweatshops (*).

A Realidade Percebida por parte da administração destas empresas: A) terceirizar produção libera essas empresas de caras responsabilidades trabalhistas e minimiza salários; B) contratando atletas bem pagos para promover produtos equilibra a publicidade negativa gerada por ativistas que reivindicam melhor pagamento para trabalhadores em sweatshops; e C) estas políticas, que são diametralmente opostas às de Henry Ford, maximizam os lucros.

Realidade Objetiva 2: salários abaixo da linha de subsistência e condições de trabalho precárias em fábricas noutros continentes resultam em maior rotatividade de trabalhadores, doenças e publicidade negativa; B) Por impactar negativamente o crescimento econômico dos consumidores, estas políticas destroem oportunidades para novos mercados que resultariam se operários fossem pagos o suficiente para comprar os produtos que fazem, estimulando, ao mesmo tempo, o efeito multiplicador; e C) nem o lucro corporativo nem o crescimento econômico são maximizados em países em que estas fábricas estão localizadas.

Tive a oportunidade de sublinhar a diferença entre os dois casos acima quando uma rádio de Portland, Oregon (sede da Nike) me entrevistou. O âncora indagou "se você pudesse perguntar a Phil Knight, fundador da Nike, uma única questão, qual seria ?"

Não precisei pensar muito. "Olá Phil, por que você não segue o conselho de Henry Ford?" Continuei, "Imagine se, como parte de uma campanha publicitária internacional, esses atletas dissessem coisas como "Em vez de X milhões, eu e um punhado de amigos (outras celebridades Nike) tivéssemos concordado que a Nike nos pagasse Y a menos. Executivos da Nike concordaram com cortes similares. O dinheiro extra iria para o pagamento de maiores salários aos trabalhadores que fabricassem produtos Nike ao redor do mundo. Acreditamos que, apenas fazendo isto, ajudaríamos a fazer um mundo melhor e mais pacífico." Parei.

"Esta é uma ideia incrivel", disse o âncora.


Tive que acrescentar, "Como você acha que isto repercutiria nas vendas da Nike ? E nas do restante da indústria?"


"Tudo está na mente."


         George Harrison


Os dois exemplos acima ilustram como a Ponte da Percepção funciona. Há incontáveis outros. Que vão dos indivíduos às empresas e diretamente aos governos. Atividades humanas são determinadas pelos modos como percepções impactam a realidade física, tanto consciente como inconscientemente. Aqui está um exemplo dos impactos globais que uma realidade percebida nos anos 50 teve em cada geração subsequente em todo o mundo.


Caso 3: Políticas Governamentais dos EUA no Irã

Realidade Objetiva 1: A) Mohammed Mossadegh foi democraticamente eleito Primeiro Ministro do Irã em 1951; B) ele promoveu reformas progressistas incluindo seguridade social, controle dos aluguéis e reforma agrária; C) ele insistiu que empresas petrolíferas estrangeiras pagassem uma parte justa de seu lucro com o petróleo iraniano ao povo do Irã e quando uma delas, hoje conhecida como BP, resistiu, se dispôs a nacionalizar o petróleo.

Realidade Percebida: o governo dos EUA rotulou Mossadegh como comunista, marionete soviético e ameaça à democracia.


Realidade Objetiva 2: A) a CIA derrubou Mossadegh em 1953 e empossou o Xá, um ditador brutal pró-ocidente que “leiloou” o Irã para empresas estrangeiras, inclusive as petrolíferas; B) o descontentamento crescente levou à Revolução Iraniana de 1979; C) o Xá foi derrubado, o Aiatolá Khomeini assumiu o controle, 52 cidadãos e diplomatas dos EUA foram mantidos como reféns por 444 dias, e os EUA e países europeus romperam relações com o Irã e iniciaram sanções contra o mesmo; D) o militarismo islâmico se expandiu rapidamente pelo Oriente Médio nas décadas seguintes; e E) a região inteira foi devastada por guerras e instabilidade política; isto impactou relações entre países distantes do Oriente Médio, incluindo EUA, China, Rússia e grande parte da África e da Europa.

Imaginemos, por outro lado, o quão diferente a situação seria para o Irã, o Oriente Médio, os EUA e grande parte do mundo se a realidade percebida fosse diferente – algo como:

Realidade Percebida: o governo dos EUA apóia as políticas de Mossadegh e anuncia que somente comprará petróleo de empresas que paguem uma parte justa de seus lucros ao povo dos países de onde o extraiam.

A derrubada de Mossadegh pelos EUA resultou numa série de eventos trágicos que poderiam ser considerados danos colaterais. Em minha opinião, tais consequências ocorrem por que as pessoas que tomam decisões não entendem completamente a força da Ponte de Percepção.

Como consultor de empresas, governos, executivos e palestrante em programas de MBA e outros, descobri que dar uma boa, profunda olhada no impacto da realidade percebida na realidade objetiva é um dos mais eficientes processos que indivíduos, negócios e outras instituições podem empregar para atingir seus verdadeiros objetivos. Me espanto com o quanto das realidades percebidas nos negócios foram alteradas desde que eu estava na faculdade no fim dos anos 60.


Fui ensinado que um bom CEO ganha um retorno decente para seus investidores ao mesmo tempo em que garante que sua empresa seja um bom cidadão, i.e., que sirva ao interesse público. Apreendemos a cuidar de nossos empregados dando a eles seguro saúde e aposentadoria, a tratar nossos fornecedores e clientes com profundo respeito e a honrar a ideia de que bons negócios são um jogo de ganha-ganha para todas as partes interessadas. Em muitos casos, CEOs garantiam que suas empresas não apenas pagassem seus impostos justos mas que, além disso, contribuíssem com escolas locais, instalações recreativas e outros serviços.

Tudo isto mudou quando Milton Friedman ganhou, em 1976, o Prêmio Nobel de Economia e afirmou, entre outras coisas, que a única responsabilidade nos negócios era maximizar os lucros, independentemente de custos sociais e ambientais. Esta é uma realidade percebida que passou a definir os negócios. Ela convenceu os executivos corporativos de que eles teriam o direito – alguns diriam até a obrigação – de fazer tudo o que julgassem que maximizaria os lucros, incluindo comprar agentes públicos por meio do financiamento de campanhas políticas, destruir o meio ambiente e devastar todos os recursos dos quais seus negócios dependam.


Tal realidade percebida resultou num sistema econômico global falido, a um passo de consumir a si mesmo até a extinção – ao que alguns economistas chamam de Capitalismo Predatório.

É hora de inverter isto. Que tal:

Realidade Objetiva 1: as geleiras estão derretendo; os oceanos subindo; menos de 5% da população mundial vive nos EUA e consumimos cerca de 30% dos recursos enquanto metade da população mundial vive em pobreza; e a base de recursos que alimentam a economia está em rápido declínio.

Realidade Percebida: A) quando Milton Friedman formulou a maximização dos lucros em 1976, o capital financeiro era visto como escasso enquanto a natureza era considerada abundante, e a habilidade do planeta em absorver poluição e prover recursos naturais era considerada praticamente ilimitada. Desde então, isto mudou;  B) podemos construir uma economia que recompense negócios que limpem a poluição, regenere ambientes devastados e desenvolva novas tecnologias para energia, transporte,  comunicações, comércio e praticamente todo o resto – que recicle em vez de estragar o planeta; e C) a responsabilidade dos negócios é servir ao interesse público ao mesmo tempo em que ganha taxas decentes de retorno para investidores que desenvolvam uma economia como a definida em B) acima.

Realidade Objetiva 2) um sistema econômico que caminha para o desastre é convertido em um que é em si uma fonte renovável.


A história de sucesso dos humanos (como indivíduos e comunidades) gira em torno das relações entre realidade percebida e realidade objetiva. Neste momento crítico da história, é essencial que construamos Pontes de Percepção que nos levem a um mundo que gerações futuras queiram herdar. O entendimento de mudanças simples na percepção trazem alterações monumentais na realidade objetiva. Também achamos que criar um mundo melhor e não apenas possível, mas divertido e inspirador.

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*(nota da tradução): a expressão intraduzível sweatshop (textualmente, oficina de suor) se refere a plantas industriais altamente insalubres existentes no sudeste asiático que produzem, a custos irrisórios (pois ignoram sistematicamente direitos trabalhistas e condições de trabalho), artigos comercializados a preços altos por grifes importantes em mercados afluentes. Um caso célebre ocorreu quando, anos atrás, a Nike ofereceu a seus clientes um calçado esportivo em cujo preço estaria incluído o bordado, junto à marca, de quaisquer palavras que os mesmos quisessem. Se aproveitando da brecha, dois compradores independentes pediram, então, que a empresa bordasse nos calçados, ao lado da marca Nike, a expressão sweatshop – ao que a empresa, é claro, se recusou, gerando, à época, importantes processos judiciais (bem ao gosto dos norte-americanos) nos quais consumidores lesados pela publicidade enganosa exigiam o cumprimento da promessa. Procurando um link que resumisse o caso, encontrei muitos, inclusive um texto de Elio Gaspari. Mas são tantos (inclusive do Guardian (aqui e aqui) e da wikipedia) que ficou difícil selecionar um só. Sugiro, então, aos mais curiosos, que digitem em qualquer buscador as palavras Nike, sweatshop e case. Vale a pena se inteirar da polêmica antes de comprar sua próxima peça de indumentária esportiva.


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Como principal economista de uma grande firma de consultoria internacional, John Perkins assessorou o Banco Mundial, as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional, o Departamento do Tesouro dos EUA, empresas das  500 maiores da revista Fortune e líderes de países da África, da Ásia, da América Latina e do Oriente Médio. Seu livro mais recente é The New Confessions of an Economic Hit Man (As Novas Confissões de um Assassino de Aluguel Econômico).



Fonte: impromptu.sul21.com.br