domingo, 7 de junho de 2020

O artista de rua de Manchester, Akse, tem uma mensagem para o presidente Trump quando ele chegar ao Reino Unido

O artista francês, que mora em Manchester há 20 anos, diz que espera que sua última peça envie uma mensagem clara ao presidente


Por Beth Abbit


O artista de rua Akse apresentou o seu último trabalho e espera que envie uma mensagem forte ao presidente Trump em sua visita de Estado ao Reino Unido começar hoje.

Akse - que é responsável por algumas das mais famosas obras de arte de rua de Manchester - criou um enorme mural novo representando Trump gritando na cara de Martin Luther King.

Vários pássaros pintados no estilo do logotipo do Twitter parecem estar voando pela boca do presidente, enquanto uma pomba aparece acima da cabeça do Dr. King.

A peça, intitulada 'Batalha dos Pássaros', foi pintada no mês passado em Talbot Mill, em Castlefield, que atualmente está sendo re-desenvolvida pela Capital and Centric.


Um vídeo anexo, feito pelo diretor Charlie Watts, mostra o lado da parede com a imagem do presidente sendo destruída por uma grande escavadora. Desde então, o muro foi demolido.

Foto: Akse

"Sinto que o mundo está retrocedendo", disse ele.

"Eu criei esse design há 18 meses, mas como a visita de Estado de Trump estava agendada para este ano, Charlie e eu decidimos fazer esse projeto acontecer."

No vídeo de um minuto, Akse explica como ele veio da França para o Reino Unido há cerca de 20 anos.

Falando no curta, o artista diz: "Nasci nos subúrbios de Paris de pais vietnamitas".


"Me mudei para Manchester há 20 anos, onde conheci minha esposa, que é espanhola. Agora temos dois filhos lindos. Preocupo-me com o futuro deles, pois sinto que o mundo está retrocedendo".

Desde então, o muro foi demolido Foto: Akse


"Diria que minha vida tem sido uma jornada de experiências e experiências multiculturais. Hoje não vejo isso como um fardo, mas como uma celebração".

Akse é bem conhecido em Manchester por seus impressionantes murais.

No mês passado, uma pintura representando a personagem de Game of Thrones Arya Stark foi pintada em uma subestação no Bairro Norte .

Akse o criou ao longo de uma tarde na Stevenson Square, no meio da temporada final do drama de fantasia da HBO.

Foto: Akse


Ele esteve por trás de algumas das obras de arte mais distintas da cidade, incluindo um retrato de Mark E. Smith, pintado ao lado de uma loja de Prestwich e um mural de Tony Wilson do lado de fora do Affleck's Palace .

Mais recentemente, seu estilo distinto foi visto em Withington quando ele rabiscou uma imagem do ícone da Factory Records Peter Saville em uma parede ao lado no coração da vila.

E no ano passado, Akse meticulosamente pintou com spray uma imagem impressionante de Uma Thurman na parede de Burnage .

A parede demolida Foto: Akse

Foi pintado sobre uma imagem dele anterior, a de Kevin Spacey, na sequência de alegações de que o ator havia assediado homens jovens.

A imagem - que ainda está do lado da empresa de contabilidade Nurbhai and Co Accountants, em Mauldeth Road - mostra Thurman como o assassino respingado de sangue 'The Bride', que embarca em um 'estrondo estridente de vingança' contra seus agressores.

Thurman é um defensor do movimento 'Me too', que destaca alegações de assédio sexual.




sábado, 6 de junho de 2020

Carta de Isabel, do vôlei, para Ana Paula Hanckel

No Blog do Juca Kfouri 

"Ana Paula, depois de ver algumas de suas postagens, tive vontade de te responder. 

Como nunca tive paciência para redes sociais, fui deixando passar. 

De mais a mais, não há como esquecermos o fato de que as redes estão aí para dar voz a todos: muitas pessoas fantásticas e muitos….

Esse é o preço da chamada democracia digital – que sempre deve ser debatida, é claro -, mas vamos ao que interessa no momento. 

Antes, preciso admitir também que sempre me senti constrangida quando lia as suas postagens. 

É que o seu nome está ligado ao vôlei, esporte que pratiquei durante muitos anos e, infelizmente, muitas pessoas generalizam esse tipo de fala e me perguntam se as jogadoras de vôlei são, na sua maioria, de extrema direita.

Nesses momentos, eu sempre tento explicar que você está longe de representar um perfil do vôlei feminino brasileiro. 

E que, na verdade, o vôlei, assim como a maioria dos campos profissionais e atividades, não pode ser enquadrado em algum perfil ideológico.

Explico, também, para essas pessoas, que talvez pelo fato de você ter se casado com um americano branco, você tenha sentido a necessidade de se alinhar a uma branquitude, que tem como uma de suas características principais a incapacidade de perceber o seu lugar de privilégio, uma branquitude que naturaliza o lugar de poder branco e torna a supremacia branca uma norma.

Afinal, sabemos que ser imigrante por essas bandas daí não é muito fácil, ainda mais com um biotipo latino.


Durante o período colonial, o psiquiatra Frantz Fanon explicou bem o surgimento e a formação desse desejo de identificação com o opressor entre muitos colonizados. 

Trata-se de uma neurose que o leva a um comportamento adoecido e alienado, por não conseguir lidar com a realidade que o cerca. 

A história nos ensina que o colonialismo acabou, mas ela também nos mostra que ele permanece com roupas neocoloniais. 

O vídeo que postou da jovem negra é exemplar de como permanece essa alienação. 

Temos aqui no Brasil um exemplo caricatural desse comportamento desequilibrado: o diretor da fundação Palmares.

Ultrajano


Por isso, te sugiro prestar atenção ao que está acontecendo a sua volta. Existem muitas pessoas que permanecem nesse estágio, tentando apenas apagar suas origens não brancas. 

Você posta constantemente frases e ideias que destilam muito preconceito. Mas o seu último post foi a gota d’água e me chocou e revoltou pela profunda ignorância e irresponsabilidade. 

Sua falta de conhecimento a respeito do racismo e do que ele significa são atrozes. Infelizmente, o racismo existe no Brasil, nos EUA e no mundo, e muitas pessoas ainda são incapazes de enxergar uma realidade que grita com todos os pulmões. 

Se você quer usar dados estatísticos como argumentos, procure fontes sérias e não tendenciosas. Aí você vai entender que o racismo é um dado estrutural, que atua na política, na economia e na subjetividade, como explica tão bem o filósofo Sílvio Almeida. 

Sua apologia ao governo Trump reflete muito mais o seu mal estar e quiçá o desejo de pertencimento a uma sociedade que você imagina respaldar apenas valores WASP, uma sociedade que precisou mostrar ao mundo as mais assustadoras formas de violência racial, até surgirem as primeiras grandes mudanças com Martin Luther King.

Felizmente, o racismo não só empobrece o ser humano, mas também produz cada vez mais força e resistência. 

E é isso que está acontecendo nesse momento nos EUA, quando milhões de pessoas de todos os grupos étnicos se unem para demonstrar o seu repúdio ao racismo que ainda atinge sobretudo os negros.

Observe atentamente a sua volta e verá que, no momento atual, a sociedade americana parece estar no caminho de mais uma mudança e mais uma conquista no rumo da igualdade. 

Peço que considere a responsabilidade de ser uma pessoa com milhares de seguidores também no Brasil. 

Preste mais atenção ao que diz, antes de postar sobre um tema tão sério.


Leia os historiadores, sociólogos, antropólogos, cientistas de várias áreas que discutem as formas e as consequências do racismo ou, pelo menos, demonstre um pouco de consciência diante do negacionismo e das barbaridades que estão acontecendo no Brasil. São tantas que se torna difícil destacar apenas uma. 

Se não consegue ter empatia diante da dor alheia, melhor ficar em silêncio.

Usando as redes como tem usado, você presta um desserviço no processo de combate ao racismo. 

Vidas negras importam!".