sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

MAIS QUE UM JOGO – O lugar do posicionamento político no futebol

Debate-se muito se clubes de futebol e suas torcidas carregam ou não pensamento político e ideológico. Há casos em que as atitudes das torcidas são refletidas na visão de mundo de dirigentes das instituições. Em 2017, O presidente da Lazio, tradicional clube italiano, convocou torcedores a visitarem o local do antigo campo de concentração de Auschwitz, como medida educativa após a Irriducibili, torcida mais famosa da Lazio e conhecida por suas afiliações nazi-fascistas, colar adesivos com uma montagem de Anne Frank (jovem de origem judia assassinada na 2ª Guerra Mundial) vestida com camiseta da Roma, em uma tentativa de "provocar" os rivais. A tentativa do presidente Claudio Lotito de educar os torcedores terminou sendo um pouco ingênua, já que essa parcela dos torcedores laziale é consciente dos horrores do Holocausto e leva o ódio ao povo judeu e a minorias para seus cantos e faixas nas arquibancadas.

Adesivo de Anne Frank com camiseta da Roma. | Foto: Reprodução


Em outros casos, há times de bairro como o espanhol Rayo Vallecano, que tem sua torcida formada por moradores do bairro de Vallecas, em Madrid, um barrio obrero, ou seja, de trabalhadores. Uma localidade que viveu a Guerra Civil Espanhola quando tropas do então presidente italiano Benito Mussolini, em apoio ao general Francisco Franco, atacou o bairro, o qual tinha forte atuação da A Confederação Nacional do Trabalho (CNT) (em espanhol, Confederación Nacional del Trabajo) e da Federação Anarquista Ibérica. Este contexto histórico, em que sindicatos e organizações trabalhistas espanholas são de esquerda – e combativos, é que marcam a personalidade do bairro, do seu povo e também da torcida do Rayo – clube que recentemente expulsou o atacante ucraniano Roman Zozulya por desconfiança que o mesmo teria ligações com organizações da extrema-direita em seu país.

Outro exemplo de clube com posicionamento político bem definido é o alemão St. Pauli, hoje amplamente reconhecido como um dos times mais à esquerda no planeta. Esse discurso teve início na década de 1980, com a aproximação dos moradores dos subúrbios de Hamburgo com o clube: estas pessoas eram ligadas às ocupações por moradia existentes na cidade e, inclusive, diz-se que nestes locais e momento histórico surgiu a prática da tática conhecida como black block. Esses moradores das ocupações nos subúrbios começaram a compor as arquibancadas do clube e levar novidades no modo de torcer. Hoje, o St. Pauli abriga refugiados, já teve o primeiro presidente declaradamente homossexual de um clube de futebol e se posiciona amplamente contra a homofobia, o racismo e a xenofobia, coisa que poucas outras instituições do meio do futebol fazem.

Faixa na torcida do St. Pauli com os dizeres: “Vamos lutar contra o racismo e o ‘orgulho branco’. | Foto: Reprodução


Fica claro que a maioria dos clubes não se posiciona politicamente, mas as torcidas são compostas por pessoas com os mais variados pensamentos, sendo difícil taxar ideologicamente os grupos que compõem um clube. Ainda que alguns países, como Itália, Espanha e Alemanha, tenham tradição em clubes e torcidas com lados bem marcados, a falta de um posicionamento por parte das instituições faz com que várias demandas populares fiquem do lado de fora dos estádios e arenas. A falta de políticas para ingressos a preços acessíveis, bem como o escanteamento das mulheres dentro do futebol como um todo, são exemplos de temas que deveriam ser trabalhados por todos os clubes, independentemente de posicionamentos políticos.

Movimento Grêmio Antifascista

Fonte: Repórter Popular

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